Benito Almirante, chefe do Serviço de Doenças Infecciosas do hospital catalão de Vall d'Hebron, explicou em entrevista à Efe, que o primeiro paciente submetido a este medicamento já está em casa com alta médica e que existem outros três em tratamento nesta unidade hospitalar.

Esses quatro infetados com covid-19 fazem parte da primeira fase de um grande ensaio clínico internacional com 100 pacientes em execução há uma semana e nos quais outros centros em Espanha, Itália, França e Alemanha e também nos Estados Unidos participaram, acrescentou.

Após a primeira fase deste estudo clínico internacional, que pode terminar nas próximas quatro semanas, uma segunda fase começará com outros 200 pacientes.

Os doentes de Vall d'Hebron são pacientes com covid-19 que não são graves e estão na fase inicial da doença, explicou o investigador.

Benito Almirante adiantou que “o medicamento que está a ser testado, o sarilumabe, não ataca o vírus diretamente, mas bloqueia o recetor de processos inflamatórios, especialmente no pulmão, impedindo que os pacientes acabem na unidade de terapia intensiva em estado grave”.

O mesmo clínico especificou que este medicamento já foi usado na China durante a fase em que o país teve um grande número de infetados e "as primeiras observações são muito positivas", embora tenha manifestado cautelas até o final do processo.

Benito Almirante garantiu que as agências reguladoras de medicamentos europeias e norte-americanas estão a tentar aprovar em tempo recorde todos os procedimentos para realizar este e outros ensaios, numa corrida científica para encontrar medicamentos que ajudem a tratar pacientes com covid-19.

Ao reduzir a gravidade da condição dos pacientes afetados pelo coronavírus e o tempo de permanência no hospital, grande parte do problema de saúde que causou essa doença altamente infecciosa em todos os países poderia ser resolvida, com menos pressão nas Unidades de Tratamento Intensivo (UTI) e no espaço hospitalar em geral, acrescentou.

“O objetivo do estudo é determinar se o sarilumabe melhora as complicações de infeções respiratórias graves causadas pela covid-19, combatendo as respostas inflamatórias nos pulmões quando o vírus ataca esse órgão”, explicou.

O médico do hospital de Barcelona agradeceu as contribuições da indústria farmacêutica espanhola nos vários ensaios que estão a ser efetuados.

O Hospital Vall d'Hebron, acrescentou, além deste estudo, também participa de outros dois ensaios clínicos para tratar casos de coronavírus com Remdesivir, um medicamento que já foi usado durante o surto de Ébola, em 2014.

"Trata-se de encontrar os pontos fracos do vírus e desenvolver estratégias para prevenir, tratar e curar esta doença", vincou Benito Almirante.

O novo coronavírus, responsável pela pandemia da covid-19, já infetou mais de 1,2 milhões de pessoas em todo o mundo, das quais morreram mais de 70 mil.

Dos casos de infeção, mais de 240 mil são considerados curados.

Depois de surgir na China, em dezembro, o surto espalhou-se por todo o mundo, o que levou a Organização Mundial da Saúde (OMS) a declarar uma situação de pandemia.

O continente europeu, com mais de 676 mil infetados e mais de 50 mil mortos, é aquele onde se regista o maior número de casos, e a Itália é o país do mundo com mais vítimas mortais, 15.887 óbitos em 128.948 casos confirmados até hoje.

Em Portugal, segundo o balanço feito hoje pela Direção-Geral da Saúde, registaram-se 311 mortes, mais 16 do que na véspera (+5,4%), e 11.730 casos de infeções confirmadas, o que representa um aumento de 452 em relação a domingo (+4%).

Dos infetados, 1.099 estão internados, 270 dos quais em unidades de cuidados intensivos, e há 140 doentes que já recuperaram.

Portugal, onde os primeiros casos confirmados foram registados no dia 02 de março, encontra-se em estado de emergência desde as 00:00 de 19 de março e até ao final do dia 17 de abril, depois do prolongamento aprovado na quinta-feira na Assembleia da República.

Além disso, o Governo declarou no dia 17 de março o estado de calamidade pública para o concelho de Ovar.