O estudo, feito por especialistas do Centro Hospitalar de Lisboa Ocidental EPE — Hospital de Egas Moniz e do Hospital Ortopédico de Sant’Ana, conclui que 41% dos doentes referiu agravamento dos sintomas da doença durante o período do confinamento, 6,8% dos quais o consideraram grave.
Nestes sintomas, o que mais se agravou foi a dor articular (47,1%), mas os doentes apontaram também a dificuldade na realização de tarefas do dia-a-dia (18,5%), o inchaço (16,9%) e a rigidez (16,9%).
As causas apontadas para o agravamento foram a menor mobilidade durante o confinamento (34%), a redução da prática de exercício (17%) e a redução/suspensão de medicação para a artrite reumatóide (8%).
A maioria dos doentes (67,3%) reportou desenvolvimento ou agravamento de sintomas de ansiedade (tensão, sensação de medo, apreensão, inquietude, insónia ou sensação de ansiedade), cuja intensidade foi caracterizada como grave em 11,1% dos casos.
Mais de metade dos doentes inquiridos (51,9%) referiu desenvolvimento ou agravamento de sintomas de depressão, como tristeza, desânimo, choro frequente e desinteresse no auto-cuidado e aspeto físico. A intensidade destes sintomas foi considerada moderada em 13,2% dos casos e grave em 8,4%.
O estudo concluiu ainda que apenas 14% dos doentes suspendeu ou alterou a dose ou a frequência da medicação imunossupressora. Destes, apenas 18% fizeram-no por não terem receitas suficientes, por não se quererem deslocar à farmácia ou por não terem possibilidade de pagar a medicação.
Os autores do estudo consideram que a avaliação do impacto do confinamento destes doentes, que por terem doença autoimune são de maior risco em caso de contaminação com o novo coronavírus, “é fundamental para delinear uma abordagem adequada a estes doentes no período pós-confinamento e preparar uma eventual segunda vaga”.
Reconhecem desde o início da pandemia se verificou uma alocação prioritária de recursos de saúde no combate à COVID-19 e dizem que esta opção “limitou significativamente o acesso aos cuidados de saúde programados e prejudicou a qualidade assistencial aos doentes crónicos, incluindo doentes reumáticos”.
A artrite reumatóide é a mais frequente doença articular inflamatória crónica e afeta 0,7% da população portuguesa.
É uma doença autoimune, cujos sintomas geralmente melhoram com o movimento e com a atividade física e pioram com a imobilização. O tratamento é feito com fármacos imunossupressores.
O estudo baseou-se num questionário disponibilizado a cerca de 500 doentes, recorrendo às listas de contactos da Sociedade Portuguesa de Reumatologia, Associação Nacional de Doentes com Artrite Reumatóide (ANDAR) e Liga Portuguesa Contra as Doenças Reumáticas. O questionário foi ainda preenchido presencialmente na Unidade de Reumatologia e Osteoporose do Hospital de Sant’Ana — SCML e no Serviço de Reumatologia do Hospital Egas Moniz.
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