Uma equipa da Universidade de Nebraska conseguiu pela primeira vez replicar partículas do SARS-CoV-2 extraídas do ar de quartos de pacientes com COVID-19.
A descoberta reforça a hipótese de que o vírus é transmissível não somente através da saliva, tosse ou espirro, mas também por gotículas que as pessoas expelem quando conversam ou expiram e que são tão leves que podem ficar suspensas no ar durante muito tempo se o ambiente não tiver ventilação suficiente.
Os resultados são preliminares e não foram revistos pelo comité de leitura de uma revista científica, que deverá analisar se o método usado no estudo é confiável. A investigação foi publicado na segunda-feira no site web medrxiv.org, onde a comunidade médica pode analisá-lo e comentá-lo livremente.
A mesma equipa já tinha publicado em março um estudo que provava que o vírus persistia no ar de quartos de hospital que recebiam pessoas infetadas.
"Não é fácil", explicou à AFP Joshua Santarpia, professor da Universidade de Nebraska, ao comentar a missão de recolher do ar partículas virais com um aparelho do tamanho de um telemóvel. "As concentrações são frágeis, geralmente há poucas hipóteses de recuperar amostras que podem ser usadas", continuou.
Os investigadores extraíram ar dos quartos de cinco pacientes, que conversavam e tossiam, e conseguiram capturar microgotículas de menos de cinco mícrons de diâmetro que continham o vírus. Em seguida, os cientistas isolaram o vírus e levaram-no para um ambiente controlado no qual o replicaram em três das 18 amostras. "Eles replicam-se em cultivos celulares e, consequentemente, são infecciosos", disse Joshua Santarpia.
No início da pandemia, as autoridades sanitárias consideravam improvável que o novo coronavírus fosse transmitido pelo ar e estimavam que a principal via de contaminação seria o contato direto. Contudo, após pressão da comunidade científica, a Organização Mundial da Saúde (OMS) admitiu no início de julho a existência de provas sobre a propagação aérea.
"O debate tornou-se mais político do que científico. Acredito que a maioria dos infectologistas concordam que a via aérea é um componente da transmissão", afirmou Santarpia.
Linsey Marr, especialista em transmissão aérea de vírus, afirmou no Twitter que o estudo apresenta "provas sólidas". "Há vírus infeccioso no ar. Resta saber a quantidade que se precisa respirar para ser infetado", concluiu.
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