O criador do Serviço Nacional de Saúde (SNS), o ex-ministro António Arnaut, criticou ontem a concorrência entre hospitais públicos na contratação de médicos, o que aumenta os encargos financeiros do sector.
Ao falar como convidado num debate organizado em Lisboa pelo jornal Diário de Notícias, intitulado “O Estado da Saúde em Portugal”, o médico socialista que fundou o SNS em 1979, quando era ministro dos Assuntos Sociais, considerou que a disputa pública de médicos se deve à gestão empresarial dos hospitais públicos.
A questão dos salários dos médicos tornou-se no tema principal na primeira parte do debate, com o próprio Arnaut a considerar que os médicos deveriam ter um salário equivalente aos dos juízes, de modo a dignificar e reconhecer do ponto de vista salarial a função social dos clínicos.
Antes, já o bastonário da Ordem dos Médicos, José Manuel Silva, salientara o facto de os médicos com a especialidade de medicina geral e familiar em início de carreira “levarem para casa ao fim do mês 1.100 euros brutos”, justificando desta forma a falta de clínicos nos centros de saúde.
Também a última ministra da Saúde, a atual deputada Ana Jorge apontou a falta de clínicos nesta especialidade como um dos principais problemas que subsistem no SNS.
A opção por outras especialidades é justificada pelos melhores rendimentos que proporcionam, através de contratos individuais negociados caso a caso, enquanto os médicos de família têm um vínculo coletivo aos serviços de saúde.
O bastonário aproveitou o debate para defender que não há falta de clínicos no país, precisando que são formados anualmente cerca de 2.000 médicos nas universidades.
Com mais profissionais no mercado, aumenta a concorrência na prestação dos cuidados de saúde, que passam a ser mais caros enquanto a qualidade no atendimento aos cidadãos diminui, sustentou José Manuel Silva.
Consensual foi também a necessidade de apostar nos cuidados de saúde primários, levando as pessoas a deslocarem-se aos centros de saúde em caso de doença e não aos hospitais, onde a assistência sai mais cara ao Estado.
António Arnaut precisou que 40 por cento das pessoas atendidas nos hospitais não necessitam desse tipo de assistência mas apenas de tratamentos que podem ser assegurados nos centros de saúde.
Onde também houve acordo entre os quatro participantes no debate foi acerca do futuro do SNS, tendo o bastonário considerado que presta um “serviço excelente”, mesmo em comparação com “qualquer país do mundo”.
O mais veemente na defesa do Serviço foi o seu criador, que considerou tratar-se de “património nacional”, que, tal como os mosteiros dos Jerónimos ou da Batalha, não pode ser vendido.
Em representação do atual ministro esteve o diretor-geral da Saúde, Francisco George, que salientou a evolução registada em Portugal no setor, referindo como exemplo o aumento do tempo de vida da população – cerca de 1,7 milhões de habitantes têm atualmente mais de 65 anos.
05 de julho de 2011
Fonte: Lusa
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