As projeções são alarmantes e estima-se que o número de casos de cancro em Portugal aumente 20% até 2040 (dados da OCDE). Nos EUA, as projeções de mortes por cancro atingem o número de 15 milhões por ano até 2040.
Mas a tecnologia de cloud tem potencial para revolucionar em grande escala os cuidados de saúde e investigação de cancro. Com o final de fevereiro, mês dedicado à luta contra o Cancro, vale a pena refletir sobre o impacto da tecnologia no combate a esta doença.
A colaboração entre os gigantes da tecnologia, que utilizam o poder da inteligência artificial (IA), computação de alto desempenho (HPC) e outras tecnologias de cloud para acelerar avanços no tratamento do cancro. Ou mesmo, um passo fundamental para enfrentar este que é um dos desafios de saúde mais urgentes do mundo. Esta relação tem demonstrado ser de uma importância crucial para as instituições de saúde e de investigação na área. Utilizemos o exemplo da colaboração entre o Memorial Sloan Kettering Cancer Center (MSK), um centro oncológico líder mundial, e a Amazon Web Service (AWS), um caso que tenho acompanhado pessoalmente e que é um exemplo concreto desta abordagem – da união da experiência em investigação clínica com a tecnologia avançada de cloud.
A missão do MSK, erradicar o cancro, está, neste momento a ser suportada por ferramentas e tecnologias avançadas, que vão permitir que o centro de investigação em oncologia possa extrair informações valiosas de dados, acumulados em anos de investigação clínica e tratamento do cancro. Dados genómicos, de imagem e clínicos, anonimizados, vão dar origem a uma poderosa ferramenta de investigação oncológica impulsionada por IA, que vai apoiar o desenvolvimento de tratamentos personalizados. O objetivo será construir um recurso de dados longitudinais de alta qualidade e atualizado para a investigação do cancro, que também servirá para validar e melhorar a investigação oncológica do MSK e dos seus parceiros.
O uso de modelos de linguagem de grande escala (LLMs) facilita a construção de modelos de IA, reduzindo a dependência da qualidade dos dados. Além disso, permite processar e ajustar grandes volumes de dados anonimizados de pacientes com mais rapidez e segurança, ao mesmo tempo que oferece uma base para testar o desempenho da IA – o que se traduz em maior confiança nos resultados do modelo. Assim, utilizando trajetórias computacionais da doença, os investigadores e médicos podem monitorizar melhor como o cancro de um paciente evolui ao longo do tempo.
Combinada com previsões avançadas de resposta tumoral e clínica, esta abordagem baseada em dados pode ajudar a descobrir novas informações, personalizar tratamentos e melhorar os cuidados com os pacientes.
A combinação da experiência em investigação oncológica, com os vastos recursos de dados acumulados durante anos de cuidados oncológicos e as capacidades avançadas de cloud e IA têm o potencial necessário para gerar um poderoso motor de inovação.
Voltemos aos MSK, e a tudo o que o poder dos dados e da cloud estão a fazer por esta instituição. O Centro de Inovação da instituição (“iHub”) foi lançado em 2020 para fornecer um modelo de colaboração com empresas inovadoras de tecnologia, tendo em vista soluções digitais para desafios complexos em oncologia. O iHub, está em processo de expansão e quer aumentar o seu impacto, assim, vai ter uma equipa AWS dedicada e focada na inovação em IA. Esta equipa vai apoiar projetos-piloto de tecnologia para melhorar e validar aplicações no tratamento do cancro, através de financiamento dedicado e acesso à experiência em IA e a startups de tecnologia. Esta colaboração ajuda as startups ligadas do MSK Innovation Hub Challenge a tirar partido da IA e da cloud para enfrentar os desafios da oncologia. A gigante tecnológica também irá apoiar os investigadores do MSK no desenvolvimento de tecnologias de IA de grande impacto. O programa piloto deste ano, poderá ainda, levar à criação de uma incubadora de startups ligadas especificamente à área da oncologia, com acesso à cloud, mentoria e uma rede de contactos para acelerar a inovação.
Os investigadores passam a ter acesso a plataformas de otimização das fases iniciais do desenvolvimento de medicamentos, que possibilitam rastrear rapidamente milhões de compostos para identificar potenciais candidatos. Os recursos de computação de alto desempenho vão, também, acelerar drasticamente simulações complexas e o processamento de dados Cryo-EM – tarefa crucial para a compreensão das estruturas das proteínas e das interações medicamentosas ao nível molecular.
Esta abordagem integrada vai criar um pipeline robusto de terapias em fase clínica. Ao reduzir significativamente o tempo e o custo associados aos métodos tradicionais de descoberta de medicamentos, este cruzamento de ‘saberes’, tem o potencial desenvolver mais rapidamente tratamentos que salvam vidas.
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