Numa nota enviada à agência Lusa, Liu Xianfa começou por afirmar que “alguns países, desconsiderando a ciência e os factos, insistiram em tomar medidas discriminatórias de entrada com restrição contra a China”.

Por outro lado, acusou, “alguns ‘media’ ocidentais desacreditaram o ajustamento da política [de combate] à covid-19 (…), alegando que a resposta da China falhou”. E “exageraram deliberadamente e até deturparam o ajustamento da política na China, mas evitaram relatar as deficiências e o alto preço pago na resposta à covid-19 nos seus próprios países”, acrescentou.

O comissário salientou que a China “mudou o foco para a proteção da saúde e prevenção de casos zero”, considerando que se tratou de “uma mudança oportuna e necessária, fundamentada na ciência”, mas que “não significa de forma alguma o abandono do [combate ao vírus] ou a saída total das medidas de prevenção e controlo”.

Liu Xianfa assegurou ainda que “muitas províncias passaram já pelo pico de infeção e a vida das pessoas está gradualmente a voltar ao normal”, destacando o atual esforço das autoridades em “proteger grupos-chave e residentes rurais”.

O fim das restrições, após protestos ocorridos em várias cidades da China, lançou uma vaga de infeções sem precedentes nas zonas urbanas, que deve agora alastrar-se ao interior do país, onde os recursos de saúde são considerados insuficientes.

No mês passado, o executivo chinês alertou para o impacto da doença no interior do país, que descreveu como “vasto, populoso e com poucos recursos”.

Em particular, as autoridades apontaram para a migração em massa durante o período do Ano Novo Lunar, quando centenas de milhões de trabalhadores chineses migrados nas cidades regressam à terra natal.

Trata-se da maior migração interna do planeta e coincide, este ano, com o fim da política de ‘zero casos’ de covid-19, que durante quase três anos restringiu o fluxo interno de pessoas no país asiático.

As mesmas autoridades destacaram a falta de preparação dos funcionários de saúde locais e o “uso indiscriminado” de antibióticos e medicamentos hormonais no tratamento de pacientes com febre, que “podem causar efeitos colaterais prejudiciais e até fatais”.

Parte do sistema de saúde no interior da China depende ainda de camponeses com treino médico e paramédico básico, conhecidos como “médicos de pés descalços”, uma herança das campanhas lançadas após a fundação da República Popular, em 1949, para fornecer serviços básicos de saúde nas zonas rurais.

De acordo com dados oficiais divulgados no domingo, a China registou quase 60 mil mortes nos hospitais ligadas à pandemia da covid-19, desde o levantamento das medidas de prevenção no início de dezembro.

A rápida propagação do vírus tem lançado dúvidas sobre a fiabilidade dos números oficiais.

O diretor-geral da Organização Mundial de Saúde, Tedros Adhanom Ghebreyesus, chegou mesmo a afirmar na semana passada semana que a China não estava a dar os números completos, o que torna impossível conhecer a verdadeira extensão da doença mesmo a nível global.

Cerca de 900 milhões de pessoas já foram infetadas na China pelo vírus que causa a covid-19, segundo um estudo da Universidade de Pequim divulgado na sexta-feira pelo portal chinês Economic Observer Network.