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Em Portugal, cerca de duas mil pessoas estão em lista de espera para um transplante renal
15 de abril de 2013 - 11h01
Cientistas nos EUA produziram um rim através de bioengenharia e transplantaram-no para um animal vivo, onde o órgão começou a produzir urina, revela hoje a revista 'Nature Medicine'.
Os investigadores, do Hospital Geral de Massachussetts, em Boston, contam ter produzido um rim funcional e capaz de ser transplantado utilizando a estrutura de um órgão doado que foi limpo de todas as células vivas.
Esta abordagem já antes fora usada para criar corações, pulmões e fígados bioartificiais, mas o rim foi um dos órgãos mais difíceis de produzir até agora.
"O que é único nesta abordagem é que a arquitetura do órgão nativo é mantida, pelo que o rim resultante pode ser transplantado como se fosse um órgão de dador e ligado aos sistemas urinário e vascular do recetor", explicou o autor principal do estudo, o médico Harald Ott.
"Se esta tecnologia puder ser utilizada em enxertos de tamanho humano, os pacientes que sofrem de falência renal e atualmente esperam rins de dador ou não são candidatos a transplante podem teoricamente receber novos órgãos derivados das suas próprias células".
Em Portugal, cerca de duas mil pessoas estão em lista de espera para um transplante renal e mais de 10 mil dependem de diálise, segundo dados divulgados em setembro pela Sociedade Portuguesa de Nefrologia (SPN).
Segundo a Sociedade Portuguesa de Transplantação, desde 1980 já foram transplantadas cerca de 10 mil pessoas, mais de 500 por ano desde 2008.
No entanto, mesmo as pessoas que recebem um transplante enfrentam uma vida de medicamentos imunossupressores, que comportam riscos e não excluem completamente a possibilidade de uma rejeição do órgão, além de que um rim transplantado tem uma duração de apenas 10 a 15 anos de vida.
Rim artifical duradouro
Encontrar uma nova forma de substituir órgãos que permita usar as células do próprio paciente e que dure o resto da vida do paciente seria, por isso, um grande passo em frente.
No trabalho agora divulgado, a equipa de Ott usou um rim de rato, ao qual retirou todas as células funcionais com uma solução de detergente, deixando apenas a estrutura de colagénio que dá ao órgão a sua estrutura tridimensional.
Os investigadores introduziram então nessa estrutura os tipos de célula apropriados - células humanas endoteliais para substituir o sistema vascular e células de rim de ratos recém-nascidos - após o que os órgãos ficaram a crescer em laboratório durante 12 dias, até terem coberto toda a estrutura.
De seguida, os cientistas implantaram o órgão num rato vivo, onde o rim começou a filtrar o sangue do animal e a produzir urina, sem dar sinais de hemorragia ou de formação de coágulos.
A função renal dos órgãos regenerados era significativamente reduzida quando comparada com um rim normal e saudável, pelo que Ott reconhece que a técnica pode ser melhorada, mas tem confiança nas suas potencialidades.
"Baseados nestes resultados iniciais, esperamos que rins de bioengenharia possam um dia ser capazes de substituir totalmente a função renal como um rim de dador. Num mundo ideal, estes enxertos poderiam ser produzidos 'a pedido' com base nas células do próprio paciente, ajudando-nos a ultrapassar a falta de órgãos e a necessidade de imunossupressão crónica".
Lusa
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