9 de maio de 2014 - 15h30
Investigadores do Ipatimup suspenderam o trabalho de laboratório durante uma semana e transferiram-se para a Câmara do Porto onde até segunda-feira estão disponíveis para falar das suas descobertas na área do cancro, esclarecer dúvidas a encaminhar quem necessitar.
Os visitantes poderão ficar com “uma ideia do que fazemos no Instituto de Patologia e Imunologia Molecular da Universidade do Porto (IPATIMUP) no domínio do cancro e das doenças pré-cancerosas, assim como conhecer pessoalmente as pessoas que trabalham no Instituto”, explicou à Lusa Sobrinho Simões, diretor do Ipatimup.
“As pessoas do Porto podem vir cá. Eu estou o dia todo, as pessoas podem tirar dúvidas. Hoje, abordamos o cancro familiar, com o Sérgio Castedo, que é um dos maiores especialistas do mundo nesta área. As pessoas podem expor o seu problema, não fazemos consultas, mas podemos fazer a ligação para que a pessoa possa fazer uma consulta detalhada no hospital”, sublinhou.
No caso do cancro familiar foi apontado como exemplo o caso de uma jovem a quem foi detetado um cancro na mama. Márcia Pereira contou à Lusa que a sua história começou em 2009, aos 31 anos. O tumor estava ainda numa fase inicial. Cinco dias depois, foi diagnosticado o mesmo tipo de cancro na sua mãe.
Embora tenha perdido as duas mamas (que entretanto reconstruiu), uma por necessidade, outra por prevenção, Márcia Pereira disse que nunca deixou de fazer o que gostava. “A minha vida continuou igual. Ter ou não ter um pedaço de mim não me impediu de continuar a viver a vida da mesma forma”, disse.
“O tumor estava numa fase inicial, mas como tinha antecedentes familiares aconselham-me a mastectomia bilateral. Tive dúvidas, mas hoje sei que foi a decisão mais acertada, porque tenho a alteração genética e tinha mais de 80% de probabilidade de o mesmo voltar a acontecer no outro peito”, acrescentou.
O cancro familiar “é uma situação em que se pode ter uma vitória absoluta ou uma derrota vergonhosa. Se houver alteração genética e ainda não tiverem cancro, esses indivíduos devem integrar um programa de rastreio e realizar vigilância apertada. Muitas vezes é necessário ‘mutilar’ essa pessoa, como aconteceu com a atriz Angelina Jolie”, explicou Sobrinho Simões.
Na exposição “Os passos da ciência nos Paços do Concelho” as atividades estão organizadas de forma a permitir usar a história do Ipatimup e as descobertas dos seus investigadores no sentido de esclarecer as causas e as características dos vários tipos de cancro, assim como as características genéticas e os hábitos da população portuguesa que se podem relacionar com a ocorrência dessas patologias.
O objetivo fundamental da exposição é aumentar a literacia das pessoas em relação aos problemas da saúde e do cancro e, deste modo, estimular a prevenção e o diagnóstico precoce.

Sem pôr em causa o valor de curar e de cuidar, os investigadores consideram que a solução para o problema do cancro passa sobretudo pela prevenção e pelo diagnóstico precoce.
“O grande avanço no cancro são os tratamentos que são cada vez melhores, mas a luta só se vai vencer com a prevenção e odiagnóstico precoce”, sublinhou Sobrinho Simões.
Para o responsável do Ipatimup, “não são só as pessoas que desvalorizam a prevenção, o próprio Estado também. Veja que do orçamento da saúde, só gastamos cinco por cento em prevenção e gastamos 95% em tratamento”.
Contudo, o investigador reconhece que a prevenção é difícil em alguns casos como, por exemplo, nos tumores do pâncreas, sistema nervoso central ou do sangue.
O caso de Bárbara Machado, uma jovem de 26 anos, a quem foi diagnosticado um linfoma, foi também relatado, na primeira pessoa, nesta iniciativa do Ipatimup.
Bárbara jogava futebol, era socorrista na Cruz Vermelha e frequentava a universidade, quando aos 22 anos lhe foi detetado o tumor maligno no sangue, no estadio três (numa escala de quatro). “Foi uma luta difícil, tive de abandonar o futebol e o socorrismo, mas sempre encarei a doença com vontade de a vencer”, referiu.
Atualmente, com 26 anos, a jovem é também apontada como um exemplo de sucesso e é convidada para contar a sua história em vários encontros sobre o tema.
Por SAPO Saúde com Lusa