“Sónia Melo decidiu, com o acordo da direção e do coordenador do grupo onde está integrada, suspender as suas funções de Investigadora Principal no i3S até conclusão desse inquérito”, esclareceu hoje o i3S, em comunicado.
Na sua edição desta quinta-feira, o Público revela que Sónia Melo, que até há bem pouco tempo era apontada como uma das mais promissoras investigadoras do país, enfrenta agora acusações de manipulação do seu trabalho, que já a levaram a retirar um artigo publicado na revista Nature Genetics em 2009.
De acordo com o diário, há outros quatro artigos científicos ('papers') por si publicados desde então que estão sob suspeita. Face às acusações, a Organização Europeia de Biologia Molecular (EMBO, na sigla em inglês), que em dezembro lhe tinha atribuída uma bolsa de 50 mil euros, retirou-lhe o prémio na segunda-feira.
Em comunicado hoje emitido, a direção do i3S esclarece que “a suspensão de Sónia Melo afeta atos inerentes à função de Investigador Principal, não afetando a atividade corrente da investigadora Sónia Melo no seio do grupo de investigação onde está inserida”.
“A Comissão Externa, constituída por elementos externos e independentes, emitirá um parecer com base no qual será tomada uma decisão da direção do i3S no que respeita ao vínculo que a investigadora terá com esta unidade de investigação afeta à FCT e à Universidade do Porto”, acrescenta.
A direção do i3S considera ainda que, “de momento, é prematuro pronunciar-se sobre qualquer detalhe processual, reafirmando o seu desejo de ver o assunto esclarecido no mais curto espaço de tempo possível”.
Afirma ter “conhecimento das alegações” e que “tem estado a monitorizar a discussão acerca da integridade científica nos trabalhos de Sónia Melo, que antecedem a inclusão da investigadora numa equipa desta unidade de investigação”.
De acordo com o Público, as dúvidas sobre o trabalho científico de Sónia Melo foram levantadas pela primeira vez no final de setembro do ano passado, no PubPeer, um site que se dedica a fazer revisão de pares após publicação ('post-publication peer review', na gíria técnica).
O portal divulgou então os primeiros indícios de que a investigadora tinha repetido imagens microscópicas de uma mutação genética de um cancro, num artigo de 2009. Nos dias seguintes, noutras publicações na mesma plataforma, os autores apresentaram outras provas, sugerindo que o processo seria sempre semelhante: a cientista repetia, invertia e fazia rotações das mesmas imagens, de modo a reforçar a solidez dos resultados alcançados na sua investigação.
A 27 de janeiro deste ano, Sónia Melo assumiu a duplicação de imagens, numa “notícia de retração” publicada na mesma revista científica.
A agência Lusa tentou hoje, sem sucesso, falar com a cientista, que, entretanto, ao site 'Retraction Watch Sónia Melo' tinha garantido “não ter havido um esforço para cometer fraude”.
“Lamento a falta de diligência que mostrei com o manuscrito da Nature Genetics, o meu primeiro artigo como estudante de doutoramento”, justificava a investigadora.
A direção do i3S admitiu hoje que teve conhecimento antecipado da retratação do trabalho de 2009 na Nature Genetics, bem como dos argumentos que levaram a essa opção.
A EMBO (European Molecular Biology Organization), organização com a qual o i3S tem estado em contacto permanente, desencadeou um processo de reavaliação da candidatura à EMBO Installation Grant que havia concedido à investigadora. A EMBO deu agora conta das conclusões do inquérito e informou o i3S que irá cancelar esse contrato de financiamento.
Citado pelo Público, o cientista espanhol Manel Esteller, orientador de Sónia Melo no Ibibell e co-autor da publicação assegura apenas: “Quando foi detetada uma apresentação inadequada de parte dos dados desse estudo, decidimos apoiar a retração do artigo, para preservar os padrões de alta qualidade científica que sempre nos caracterizaram”.
Comentários