
O estudo realizado pelo ISCTE-Instituto Universitário de Lisboa, no âmbito de um protocolo com a Ordem dos Médicos, que é hoje apresentado, pretende avaliar a experiência profissional dos médicos no contexto das reformas prosseguidas no setor da saúde após 2011, no tempo da intervenção da ‘troika’.
No total dos médicos inquiridos, entre os do setor público e privado, mais de um terço apontou para faltas recorrentes de material nas instituições, com os autores do estudo a indicarem que “a situação é particularmente visível no Serviço Nacional de Saúde (SNS)”.
Nos centros de saúde, 60% dos médicos indicam estas falhas de material recorrentes, enquanto no setor hospitalar a taxa é de 44% dos profissionais inquiridos, em questionários enviados em maio de 2013.
Contudo, também no setor privado se reproduz a mesma queixa, mas apenas em 29% dos médicos de consultórios ou clínicas e em 33% nos hospitais privados.
Falta de medicamentos
Segundo o estudo, a falta de recursos nos hospitais públicos “é um traço marcante”: 40% dos médicos afirmam já ter sido confrontados com a falta de medicamentos para tratar adequadamente os doentes.
Do setor hospitalar público, 30% dos médicos já estiverem envolvidos em cirurgias adiadas e 23% deixaram de realizar técnicas invasivas por falta de material disponível.
Quanto ao abandono de terapêuticas por parte dos doentes, entre os médicos do SNS são 60% os que referem que se registou um aumento nos últimos anos. Cerca de 80% indicam ainda que os doentes têm pedido mais vezes receitas de medicamentos mais baratos.
Na psiquiatria e na pneumologia o abandono de tratamentos é indicado por 70% dos médicos, na medicina geral e familiar por 60% e em oncologia por cerca de metade.
Outro dado do estudo mostra que cerca de 80% dos internos e 50% dos médicos especialistas com atividades de formação consideram que a qualidade formativa no internato médico diminuiu desde 2011.
Sobre o impacto dos efeitos da ‘troika’, 80% dos médicos do SNS consideram que as reformas no setor público já afetaram a qualidade dos cuidados prestados e que não é possível realizar mais cortes financeiros sem comprometer a qualidade.
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