“Vários tipos de cancro têm origem nestas células, que por si só não têm uma capacidade proliferativa muito grande, mas que, devido a mutações que poderão ocorrer, perdem essa restrição e acabam por proliferar muito. O tumor é constituído por vários tipos de células e dentro desses grupos de células existirão algumas que têm uma capacidade percussora do tumor”, explicou à Lusa o investigador.

Dinis Calado falava no âmbito do Porto Cancer Meeting, a decorrer até sexta-feira, no Instituto de Patologia e Imunologia Molecular da Universidade do Porto (IPATIMUP), sobre o tema “Células Estaminais e o Cancro”.

“Tentar perceber como é que células estaminais normais funcionam talvez ajude a perceber como é que essas células cancerígenas que poderão ter características de células estaminais nos tumores poderão ser eliminadas. E, assim, fazer com que os tratamentos sejam mais eficazes”, sublinhou.

Dinis Calado desenvolve investigação na área da genética em ratinhos, no The Francis Crick Institute.

Priorizar áreas de análise

“Tentamos modelar doenças cancerosas do foro sanguíneo, tais como leucemia e linfomas. Fazemos uma comparação de tumores entre espécies para tentar encontrar mutações que são conservadas de forma evolutiva. Apesar de sermos muito diferentes dos ratinhos, como é óbvio, a formação de cancros tem mutações que são idênticas. Às vezes, o que acontece em tumores humanos é que há muitas mutações e não sabemos quais as que devemos estudar. Então, uma comparação entre espécies diferentes poderá ajudar-nos a priorizar quais as mutações a estudar”, explicou.

Com o tema “Células Estaminais e o Cancro”, a XXIII edição do Porto Cancer Meeting reúne especialistas portugueses na área a trabalhar em centros de investigação nacionais, investigadores portugueses que estão no estrangeiro em centros de referência nesta matéria e ainda especialistas estrangeiros vindos de todo o mundo.

O principal objetivo é “conseguir juntar, num ambiente informal, vivo e cientificamente dinâmico, investigadores, estudantes e todos os que trabalham em cancro na discussão à volta de um tema chave do cancro. Aliás, tem sido hábito do Porto Cancer Meeting promover, durante e após a reunião, a interação entre grupos, criando as condições para novas colaborações, ou seja, aumentar as parcerias de investigação e a mobilidade de estudantes”, salienta a organização.

Este ano, as comunicações centram-se na relevância das células e das características estaminais no cancro para a progressão tumoral, nomeadamente a sua agressividade, heterogeneidade e resistência à terapia.

Até sexta-feira, estarão reunidos no Auditório do Ipatimup, mais de 150 profissionais da área do cancro.