27 de maio de 2014 - 16h07
A cannabis já é a primeira causa de pedidos de ajuda aos centros de tratamento de toxicodependência em Portugal, a seguir à heroína, revelou hoje o presidente do Serviço de Intervenção nos Comportamentos Aditivos e nas Dependências (SICAD).
“A cannabis suplantou a heroína, em Portugal, nos pedidos de ajuda”, disse João Goulão aos jornalistas, no final da apresentação do relatório europeu sobre drogas 2014, acrescentando que tal se deve ao aumento da potência da resina (haxixe) importada.
Os dados disponíveis permitem também concluir que as emergências médicas relacionadas com a cannabis parecem ser um problema cada vez maior em alguns países com prevalência elevada, revela o relatório.
Segundo o responsável, na origem dos pedidos de ajuda e das emergências médicas estão episódios de intoxicação, sustos ou perda de acuidade, “por causa do aumento da potência psicoativa” da cannabis.
As inovações recentemente introduzidas na produção de cannabis são motivo de preocupação, dado que os produtores estão a cultivar plantas que têm simultaneamente um elevado teor de THC (o princípio ativo da cannabis) e um baixo teor de CBD (uma substância antipsicótica), aponta o relatório.
Embora a potência de ambas as formas de cannabis tenha vindo a aumentar desde 2006, no caso do haxixe “esses aumentos foram bastante acentuados entre 2011 e 2012”.
Reflexo disso será o facto de a cannabis ter sido, em 2012, a principal droga mais frequentemente referida pelos utentes que iniciaram pela primeira vez tratamento da toxicodependência.

Quanto à heroína, embora esteja em declínio na Europa, continua a não haver “grande diminuição em Portugal”, sendo a droga que motiva mais pedidos de ajuda.

“Continuamos com um uso significativo de heroína”, uma realidade aferida pelo reporte de utilizadores destas drogas às equipas de rua, disse João Goulão, assegurando que este é o meio mais eficaz de controlar os consumos, de medir tendências, “mais do que as apreensões”.
Questionado sobre a relação entre o recrudescimento do uso de heroína em Portugal e a crise, o presidente do SICAD afirmou tratar-se de uma “questão multifactorial” que não pode ser medida em termos de causa-efeito.
No entanto, há aspetos significativos a ter em causa e que “estão, de facto, a acontecer”, como a readmissão nos serviços de antigos utilizadores e os pedidos de ajuda antes da recaída, por parte de pessoas que se sentem em risco, destacou.
Lembrando que as drogas se dividem em dois grandes grupos – potenciadoras de prazer (estimulantes) e alívio de desprazer (heroína, álcool e tranquilizantes) –, o responsável admitiu que “o atual contexto tem induzido a utilização deste tipo de droga [alívio de desprazer] ”.
João Goulão destacou ainda o facto de ter havido uma diminuição do preço da heroína, mas também do seu grau de pureza.
Por Lusa