O carcinoma da próstata, apesar dos avanços registados nos últimos anos, quer no diagnóstico quer na terapêutica, particularmente na terapêutica dos casos avançados de doença resistente à castração em que anteriormente as opções eram quase nulas, continua a ser uma importante causa de mortalidade no sexo masculino.

Sendo na actualidade possível diagnosticar estes tumores em fases muito precoces, ainda normalmente passíveis de tratamentos de intuito curativo, faria sentido a realização de rastreios, tal como se faz para o cancro da mama, que permitissem detectar precocemente e tratar os casos.

No entanto, o carcinoma da próstata, a nível microscópico, tem uma prevalência (número de casos acumulados por habitante) que aumenta drasticamente com a idade a ponto de atingir números perfeitamente astronómicos nos doentes muito idosos (por exemplo acima dos 75 anos). Se todos estes casos fossem incluídos, diagnosticados e tratados em programas de rastreio estaríamos a tratar de forma manifestamente desnecessária um número elevadíssimo de doentes. É por isso que cada vez mais se discute a questão do “carcinoma da próstata clinicamente significativo”.

Na realidade o que fazemos não é um rastreio, mas sim uma “detecção oportunística” dos casos que possam colocar em risco a vida e bem-estar dos doentes tentando centrar-nos nos tais tumores significativos.

Sabendo que, na maioria dos casos, o carcinoma da próstata tem uma evolução relativamente prolongada todos os estudos para avaliar os resultados de uma detecção precoce terão que ser projectados a muito longo prazo. É o caso do Scandinavian Prostate Cancer Group Study 4, de que já dispomos de resultados aos 16 anos, que mostrou uma nítida superioridade do desenlace dos doentes tratados (submetidos a prostatectomia radical) face aos não tratados.

Em relação à questão colocada da  idade de início da possível detecção precoce, importa saber que há grupos em que, havendo um maior risco de aparecimento de formas mais precoces e agressivas de doença, nomeadamente os descendentes directos de doentes que tiveram cancro da próstata, particularmente se o mesmo ocorreu numa idade relativamente jovem, a idade de início deverá ser mais precoce do que a da população em geral.

Nestes casos de risco elevado onde se incluem também os homens com ascendência africana a detecção precoce, se for essa a opção, deverá começar logo aos 45 anos, em oposição à população em geral em que a mesma normalmente tem início aos 50 anos.

Por outro lado, e tendo em consideração a evolução normalmente longa da doença e o facto de (habitualmente, mas não de forma isenta de excepções) os doentes idosos terem formas menos agressivas, mais indolentes, da doença, existe um alargado consenso em que esta tentativa de detecção em fase inicial só faz sentido em doentes que apresentem uma expectativa de vida superior a 10 ou mesmo 15 anos.

Texto redigido segundo o antigo acordo ortográfico.

Um artigo do médico José Palma dos Reis, especialista em Urologia e Diretor do Serviço de Urologia do Centro Hospitalar e Universitário de Lisboa Norte, Hospital de Santa Maria e da Clínica Universitária de Urologia da Faculdade de Medicina de Lisboa.

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