Qual a principal causa de cancro da cabeça e pescoço?

O cancro de cabeça e pescoço está relacionado, essencialmente, com hábitos de vida. Falo, essencialmente, do tabagismo, da ingestão regular de bebidas alcoólicas e da infeção HPV (vírus do papiloma humano) – infeção sexualmente transmissível que está implicada na génese de uma percentagem importante de um dos tipos de cancro de cabeça e pescoço (cancro da orofaringe).

"Sintomas do cancro da cabeça e pescoço são facilmente desvalorizados", alerta médica
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Quais são os principais grupos de risco?

Existem dois grandes grupos de risco: o grupo de pessoas fumadoras e/ou alcoólicas (geralmente homens, com cerca de 50 anos, maioritariamente de estratos sociais mais baixos) e o grupo de pessoas não fumadoras, ou com baixa carga tabágica, tanto do género masculino como feminino, geralmente mais jovens e com história de vários parceiros sexuais.

Existe um grupo de risco menos expressivo, que são os doentes idosos com próteses dentárias mal-adaptadas, em particular em casos de higiene oral deficitária (nos casos de cancro da cavidade oral).

Por que motivo a doença está a aumentar entre os jovens? 

Os hábitos tabágicos estão a diminuir, o que irá conduzir, provavelmente, a uma diminuição dos casos do primeiro grupo de risco que descrevi (à semelhança do que aconteceu nos Estados Unidos). Esta tendência faz com que se torne mais expressivo o cancro da orofaringe relacionado com o HPV. Por outro lado, os comportamentos sexuais promíscuos têm vindo a aumentar, principalmente nas camadas mais jovens, o que, em parte, explica este aumento.

Quais são os sinais e sintomas? São fáceis de identificar?

O cancro de cabeça e pescoço pode localizar-se em vários locais diferentes do trato aerodigestivo superior, em particular na cavidade oral, na faringe e na laringe. Cada uma destas localizações pode causar sintomas diversos. Na cavidade oral, os sintomas mais frequentes são lesões brancas ou vermelhas, por vezes similares a aftas, que não curam ao fim de três semanas. No caso do cancro da faringe, o sintoma mais frequente é a dificuldade ou dor em engolir. Os cancros da laringe ocasionam, com frequência, rouquidão que não passa ao fim de três semanas.

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Qualquer localização do cancro de cabeça e pescoço pode estar associada a nódulos no pescoço que, na grande maioria, correspondem a gânglios de tamanho aumentado. Os casos que estão associados a aumento dos gânglios são, geralmente, avançados pelo que requerem vários tipos de tratamento (cirurgia e/ou radioterapia associada, ou não, a quimioterapia).

Qual a incidência em Portugal?

Em Portugal, existem cerca de 3.000 novos casos por ano. Infelizmente, mais de metade dos casos são diagnosticados em fases avançadas, em que a probabilidade de cura é cerca de 50% e com tratamentos agressivos, de várias modalidades como já referi, o que condiciona mais sequelas dos tratamentos.

Existem tratamentos eficazes?

Nos casos que são diagnosticados em fase inicial, os tratamentos são mais simples, como cirurgias menos agressivas e sem necessidade de outros tratamentos complementares ou, em alternativa nalgumas localizações, radioterapia isolada. Infelizmente, hoje em dia, a maioria dos casos são diagnosticados em fase avançada, em que a possibilidade de cura existe, mas é francamente inferior e exige a realização de mais tratamentos e tratamentos mais agressivos (como a associação de cirurgias extensas com cirurgia de reconstrução e radioterapia). Se nos casos localizados, a probabilidade de cura ronda os 90%, nos casos avançados é inferior a 50%.

Em cerca de 10% dos casos, a doença é metastizada, o que significada que existem metástases noutros órgãos. O órgão mais frequentemente afetado é o pulmão.

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Nesses casos também existe tratamento?

Também na fase de doença metastizada, o tratamento tem evoluído muito. Hoje em dia, existem tratamentos médicos como a quimioterapia clássica, anticorpos e imunoterapia que, em diferentes combinações e sequências, permitiram que a sobrevivência desta doença aumentasse, com igual repercussão na qualidade de vida.

Conselhos e dicas para evitar esta doença

- Não fumar (ativa e passivamente);

- Não ingerir bebidas alcoólicas ou ingerir com moderação;

- Praticar sexo seguro;

- Ter uma boa higiene oral;

- Procurar apoio médico em caso de sintomas que não curem ao fim de 3 semanas (aftas, lesões brancas ou vermelhas na boca, rouquidão, dificuldade em engolir, nódulos no pescoço).

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