Ao contrário de Itália, o primeiro país europeu a decretar o confinamento obrigatório da população, Espanha não tolera que os seus habitantes saiam para esticar as pernas ou tomar ar, mesmo respeitando a distância entre pessoas. Mas autoriza que saiam brevemente com os cães para que façam as suas necessidades.
“Sai-se mais com o cão, mas por menos tempo”, explica Luis Fe, com os olhos na sua cadela, uma border collie branca e preta.
Este professor de 49 anos de Madrid gosta de ver Dara correr para o parque da Basília de São Francisco el Grande, na capital deserta de uma Espanha em confinamento desde sábado à noite, o segundo país mais afetado pelo vírus na Europa depois de Itália. E confessa que os donos de cães que conhece aproveitam o animal para “sair, porque estão em casa e entediados”.
Em Madrid, os latidos quebram o silêncio e os cães são notados nas calçadas vazias. O melhor amigo do homem, o qual não há evidências de que transmita o vírus, tornou-se um passaporte para fugir do confinamento. Um facto que deixou sem trabalho os passeadores profissionais de cães.
“Liguei para alguns dos meus clientes, idosos que ficaram sozinhos, perguntando se precisavam de ajuda, mas disseram que não, que estavam bem”, lamenta David Sánchez, um passeador de cães de 47 anos no bairro de Tetuán em Madrid.
"Alugo o meu cachorro"
Por outro lado, há um negócio que vai de vento a poupa: o empréstimo de cães. “Se alguém quer dar um passeio, alugo o meu cachorro para que tenha um salvo-conduto”, lê-se num anúncio no site Milanuncios.
Algo que é desaprovado por Alicia Barrientos, 39, de Madrid, que acompanha o seu cão pastor australiano: “É fatal, para a saúde de outras pessoas e para o animal, que sai com uma pessoa que não conhece”.
Diante da controvérsia causada por propostas desonestas, a página de vendas online Wallapop pediu os seus utilizadores para denunciar esse tipos de anúncios. "Somos totalmente contra essa atividade", afirmou a empresa no Twitter.
Na ausência de animais de carne e osso, alguns espanhóis ousaram sair com animais de peluche. Um homem foi repreendido pela polícia na noite de segunda-feira, quando passeava com um cachorro de peluche nas ruas de Palencia (norte).
O infrator rapidamente pegou no seu animal falso quando um carro da polícia parou ao lado dele para pedir que voltasse para casa, como mostra um vídeo divulgado por um sindicato da polícia, amplamente partilhado nas redes sociais.
“A polícia pediu que ele voltasse para casa, mas não o sancionou”, afirmou à AFP uma porta-voz da subdelegação do governo em Palencia.
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