"A sociedade atual está cada vez mais preocupada em permitir que os cidadãos com deficiências e os idosos tenham a possibilidade de ser tão autónomos e independentes quanto possível", indicou o investigador Luís Paulo Reis, do Laboratório de Inteligência Artificial e Ciência de Computadores da Universidade do Porto (LIACC/UP), um dos responsáveis pelo projeto.

Com o aumento da esperança de vida, e com o envelhecimento de grande parte da população, criou-se o ambiente propício para a introdução da Cadeira de Rodas Inteligente (CRI), com navegação que evita obstáculos, interface inteligente e simples e que permite comunicação com outros dispositivos inteligentes, referiu à Lusa o professor da FEUP.

"As CRI anteriormente desenvolvidas, em diversos laboratórios de investigação, possuem arquiteturas de 'hardware' e de 'software' excessivamente específicas, equipamentos de elevado custo, sendo tipicamente difíceis de configurar e pouco flexíveis", notou.

Nestas circunstâncias, continuou, "é muito difícil transformar as CRI atuais em produtos comerciais e acessíveis ao utilizador comum e quase impossível que o utilizador final comece rapidamente a utilizar, de modo satisfatório, uma dada CRI".

Foi nesse contexto que o LIACC/UP criou o projeto IntellWheels - Cadeira de Rodas Inteligente com Interface Multimodal Flexível, no qual foram testadas capacidades típicas deste tipo de sistema e através do qual foi possível solidificar "ideias inovadoras", que complementam e resolvem problemas identificados em CRI criadas noutros laboratórios.

É o caso da plataforma Intellwheels, que permite testar novas CRI, algoritmos de planeamento, navegação, localização e desvio de obstáculos, interfaces inteligentes multimodais e metodologias de comunicação entre CRI e outros equipamentos.

No futuro, a equipa pretende criar uma plataforma totalmente funcional, através da qual será possível transformar diferentes tipos de cadeiras de rodas comerciais em CRI, com alterações mínimas de 'hardware', reduzido custo e impacto visual e ergonómico.

Os investigadores desenvolveram igualmente um simulador, que possibilita o estudo e teste de novos módulos e algoritmos em ambientes reais, virtuais ou de realidade aumentada e o treino de utilizadores antes da utilização da CRI real.

"A terceira ideia inovadora tem como base o comando da CRI, baseado numa interface multimodal que permite a conexão, em tempo-real, de múltiplos sistemas, incluindo comandos de voz, expressões faciais simples, movimentos de cabeça e 'joystick', entre outros", contou.

Segundo o investigador, este conceito encontra-se em extensão para uma interface multimodal completa, que permita controlar não só a CRI mas também outros equipamentos e sistemas.

De modo a permitir uma fácil utilização inicial da CRI, foi criado um sistema simples de classificação de pacientes, capaz de identificar rapidamente as capacidades básicas de um dado utilizador, acrescentou Luís Paulo Reis.

No projeto colaboram mais de 20 profissionais do LIACC/UP, da FEUP, das universidades de Aveiro e do Minho, do Instituto de Engenharia de Sistemas e Computadores, Tecnologia e Ciência (INESC-TEC), da Escola Superior de Saúde - Politécnico do Porto (ESS/P.Porto) e da Associação do Porto de Paralisia Cerebral (APPC).