Os blocos de partos dos hospitais de Aveiro e Guimarães estão hoje encerrados devido ao protesto dos enfermeiros especialistas contra a falta de pagamento desta especialidade, disse hoje a Bastonária da Ordem dos Enfermeiros. Ana Rita Cavaco adiantou que outros blocos de partos não encerraram, mas estão a funcionar com enfermeiros tarefeiros ou apenas com médicos.

A bastonária deslocou-se hoje ao hospital Amadora Sintra, em Lisboa, onde estará apenas a trabalhar um enfermeiro tarefeiro, dado que 21 dos 23 enfermeiros especialistas em saúde materna e obstetrícia se escusam a prestar esta especialização. Para Ana Rita Cavaco esta situação "põe em causa a segurança da mãe e das crianças".

A bastonária lançou um apelo ao Presidente da República, referindo que as "ordens da saúde já pediram ajuda, porque o país não pode continuar a ignorar que a saúde tem problemas graves de segurança". "Esta situação [dos enfermeiros especialistas] é uma vergonha para o ministro da Saúde, para o Governo e até o primeiro-ministro está calado", salientou.

“O Senhor ministro está preocupado com a legalidade, nós também. Durante um ano e meio todas as semanas notificámos ao Ministério da Saúde e aos grupos parlamentares falhas graves dentro dos hospitais e ilegais: (…) enfermeiros dentro dos blocos de partos 12 horas obrigados e armários com ferrugem dentro dos blocos operatórios”, frisou.

Ana Rita Cavaco lembrou que “isto não é um protesto”, porque os enfermeiros estão a cumprir apenas aquilo para que foram contratados. “O senhor ministro tem que se preocupar é com a questão da segurança e dar orientações claras aos conselhos de administração. É possível neste primeiro dia correr tudo bem, mas como vão ser os próximos? Esta é a nossa principal preocupação”, disse. Na opinião de Ana Rita Cavaco, este problema resolve-se “com trocos”.

Críticas ao Governo

“Não sei se o senhor ministro está à espera que aconteça uma tragédia para depois pedir um relatório. É preciso que o ministério tome medidas e, nesta questão, não se percebe o braço de ferro porque estamos a falar de trocos. Para resolver esta situação estamos a falar de um impacto mensal de três milhões e 600 mil euros”, disse.

Os enfermeiros especialistas recusam-se, a partir de hoje, a prestar cuidados diferenciados, como protesto contra o não pagamento desta especialização, devendo os blocos de parto ser a área mais visível desta contestação. Segundo a Ordem dos Enfermeiros, que apoia os profissionais neste protesto, existem cerca de 2.000 enfermeiros que, apesar de serem especialistas, recebem como se prestassem serviços de enfermagem comum.

De acordo com Ana Rita Cavaco, existem em Portugal atualmente mais de seis mil enfermeiros de especialidade. “Quero só lembrar que o título que a Ordem atribui de especialistas é pessoal, não é público, nem do Estado. São estes enfermeiros que pagam a sua formação e que durante anos de uma forma voluntária estiveram a dar cuidados especializados e agora disseram que não”, disse.

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