"Neste momento, temos só um elemento daqueles que são considerados enfermeiros especialistas a assegurar a patologia, o bloco de partos e a urgência", disse à Lusa, Paula Estrela, da Federação Nacional do Sindicato dos Enfermeiros (FENSE)

Segundo a sindicalista, o conselho de administração do Centro Hospitalar do Baixo Vouga, o diretor de serviço, o diretor de enfermagem e elementos da Ordem dos Enfermeiros estavam reunidos esta manhã para decidir o que fazer em relação a esta situação. "Os meus colegas mantêm a posição de não fazer as funções de especialista, porque não estão a ser pagos para tal, nem têm contrato para tal", disse Paula Estrela.

A sindicalista referiu ainda que esta manhã não havia nenhuma grávida no bloco de partos do Hospital de Aveiro. "Neste momento, não temos lá nenhuma mulher. Não sei se elas souberam isto antecipadamente e foram para outra maternidade", disse.

"É triste para nós estar a chegar a este extremo", disse à Lusa, Sara Esteves, uma enfermeira do hospital de Aveiro que há cerca de três anos começou a exercer cuidados especializados, apesar de estar apenas contratada para exercer cuidados generalizados. "Faço partos, vigilâncias da gravidez e do pós-parto imediato, aulas de preparação para o parto, aulas de recuperação pós-parto e não sou remunerada como tal. Estamos todos com o coração apertadinho, porque somos todas parteiras de coração, mas corremos muitos riscos para não estar a ser reconhecidos como tal", disse Sara Esteves.

Os enfermeiros especialistas recusam-se, a partir de hoje, a prestar cuidados diferenciados, como protesto contra o não pagamento desta especialização, devendo os blocos de parto ser a área mais visível desta contestação. Segundo a Ordem dos Enfermeiros, que apoia os profissionais neste protesto, existem cerca de 2.000 enfermeiros que, apesar de serem especialistas, recebem como se prestassem serviços de enfermagem comum. Para dar voz a esta reivindicação, foi criado o movimento EESMO (Enfermeiros Especialistas em Saúde Materna e Obstetrícia), o qual organizou quarta-feira uma vigília frente à residência do primeiro-ministro.

Críticas da bastonária

Também o bloco de partos de Guimarães está hoje encerrado. A bastonária Ana Rita Cavaco deslocou-se hoje ao hospital Amadora Sintra, em Lisboa, onde estará apenas a trabalhar um enfermeiro tarefeiro, dado que 21 dos 23 enfermeiros especialistas em saúde materna e obstetrícia se escusam a prestar esta especialização. Para Ana Rita Cavaco esta situação "põe em causa a segurança da mãe e das crianças".

A bastonária lançou um apelo ao Presidente da República, referindo que as "ordens da saúde já pediram ajuda, porque o país não pode continuar a ignorar que a saúde tem problemas graves de segurança". “O Senhor ministro está preocupado com a legalidade, nós também. Durante um ano e meio todas as semanas notificámos ao Ministério da Saúde e aos grupos parlamentares falhas graves dentro dos hospitais e ilegais: (…) enfermeiros dentro dos blocos de partos 12 horas obrigados e armários com ferrugem dentro dos blocos operatórios”, frisou.

“Não sei se o senhor ministro está à espera que aconteça uma tragédia para depois pedir um relatório. É preciso que o ministério tome medidas e, nesta questão, não se percebe o braço de ferro porque estamos a falar de trocos. Para resolver esta situação estamos a falar de um impacto mensal de três milhões e 600 mil euros”, disse.

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