“Temos que começar a criar já as condições para o período que se aproxima”, uma “altura crítica” em que circulam vários vírus respiratórios, como o da gripe, em que há doentes crónicas a descompensar e estão a aumentar os casos e internamentos por covid-19, defendeu Miguel Guimarães, em declarações á agência Lusa.
Esta situação vai aumentar a pressão sobre os serviços de saúde, nomeadamente as urgências, num período em que os médicos estão exaustos após quase dois anos de pandemia e muitos estão a deixar o Serviço Nacional de Saúde.
Segundo o bastonário, há também vários especialistas “mais velhos” a sair do SNS.
“Vamos ter aqui uma carga de excesso de trabalho no Serviço Nacional de Saúde, que devia estar já a ser acautelada, mas não sei se está”, disse Miguel Guimarães.
Além disso, observou: “Temos, neste momento, profissionais que estão cansados. Muitos não fizeram férias ou fizeram só uma semana, alguns estão em exaustão, temos vários médicos em ‘burnout’, e não são poucos, e que têm de parar”.
Há também muitos médicos em “sofrimento ético” nomeadamente nos hospitais em que “não há gente”, fazendo “consecutivamente horas extraordinárias, muitas vezes sabendo que não estão nas melhores condições, para não deixarem os doentes sem médico”.
“Mas a verdade é que a probabilidade de cometerem erros aumenta. Isto é uma pescadinha de rabo na boca, é muito complicado”, lamentou, elucidando que só no primeiro semestre de 2020 os médicos fizeram mais de oito milhões de horas extraordinárias e que em outubro deste ano já tinham “batido o recorde de sempre”.
O bastonário salientou que a Ordem dos Médicos está disponível para ajudar a ultrapassar o problema, lembrando o apelo que fez duas vezes durante a pandemia para que os médicos regressassem ao SNS para ajudar as pessoas.
Mas, avisou, “é importante que quem governa o país tenha a noção que tem que ter mais respeito pelos médicos e tem que melhorar as condições de trabalho no Serviço Nacional de Saúde”.
Se não o fizerem, sustentou, é “porque não querem um Serviço Nacional de Saúde mais forte”, disse, considerando ser “um erro grave” estar a deixar sair os profissionais.
Para Miguel Guimarães, que é preciso que o Governo tenha “uma atitude diferente” com estes profissionais, a quem “não lhes falta emprego, seja no setor privado, seja nos países europeus” vizinhos.
No seu entender, devia ser feita “uma reflexão” sobre esta matéria: “Estes conselhos que vamos dando e estes gritos de alerta é para as pessoas de facto perceberem que a atitude relativamente aos profissionais, que fazem o Serviço Nacional de saúde todos os dias, tem de ser diferente daquela que tem sido até agora”.
“As pessoas saem porque o Serviço Nacional de Saúde continua a funcionar como há 42 anos”, disse, defendendo que o SNS tem de se modernizar, ter mais capacidade de inovação e ser competitivo para estancar a saída dos profissionais de saúde.
“É fundamental motivar estas pessoas e dar-lhes um projeto de trabalho, um propósito de trabalho no Serviço Nacional de Saúde e neste momento isso não está a acontecer”, lamentou.
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