O anúncio surge na sequência da Organização Mundial de Saúde (OMS) ter declarado, a 17 de julho, a epidemia do Ébola "emergência sanitária mundial".

Até agora ainda não houve registo de qualquer caso de Ébola na República Centro-Africana.

Mas nas províncias do sudeste do país, vizinhas das províncias da RDCongo do Kivu, afetadas pela epidemia, as transações "económicas e humanas são muito intensas", sublinhou o ministro numa conferência de imprensa.

"Os nossos produtores vendem na RDCongo. Os grupos rebeldes e os caçadores vão e vêm de um lado para o outro da fronteira. Os riscos são elevados", apontou.

Os distritos fronteiriços são particularmente difíceis em termos de acesso por causa do seu isolamento e da presença dos grupos armados.

Apenas 13 pontos de entrada estão equipados para controlar os viajantes na fronteira com a RDCongo, ao longo de cerca de 2.000 quilómetros. O governo de Bangui prevê instalar cerca de 50.

Os meios de transporte, os ‘kits’ de despistagem da doença e os equipamentos de proteção individual são insuficientes, segundo o ministério.

O país formou 380 agentes para despistar o Ébola, mas tem “registado falhas no dispositivo de alerta", indicou o ministro, que citou como exemplo um caso suspeito, que por acaso não veio a ser confirmado e que chegou ao hospital comunitário de Bangui após duas semanas de permanência no país.

O orçamento do plano de prevenção do Ébola no país aumentou para 21,4 milhões de dólares (19,1 milhões de euros).

"A República Centro-Africana deve ter operacional um dispositivo complexo, com um sistema de saúde subfinanciado", disse à imprensa um representante da Organização Mundial de Saúde (OMS)no país, Séverin Von Xylander.

As despesas de saúde aumentaram para 17 dólares (15 euros) por habitante, longe do salário mínimo de 89 dólares (79 euros) recomendados pela OMS.

Rica em recursos naturais, a República Centro-Africana foi devastada por um conflito mortífero que obrigou cerca de um quarto dos 4,5 milhões de habitantes a fugir das suas casas. Daqueles, mais de 400.000 refugiaram-se nos países vizinhos, entre eles a RDCongo.

A epidemia, que progride e dura desde agosto de 2018 na RDCongo já provocou a morte de mais de 1.700 pessoas, um número que aumenta diariamente.

Mesmo os muçulmanos que vivem na RDCongo estão impedidos de obter visto para entrar na Arábia Saudita para participar na peregrinação a Meca, por causa da epidemia do Ébola, disseram também hoje membros da comunidade islâmica.

"Estou encarregado de anunciar a centenas de muçulmanos, nacionais e estrangeiros que vivem na RDCongo, que pretendam ir a Meca para a peregrinação, que as autoridades sauditas ordenaram que nenhum visto será autorizado para qualquer pessoa que venha da RDCongo", afirmou à AFP o sheik Ali Mwinyi, chefe da comunidade islâmica no país afetado pela epidemia.

"Por carta, o ministro dos Assuntos Religiosos explicou-nos que o país não pode assumir o risco de contaminação de vários milhões de pessoas que se deslocam a Meca e regressam depois aos seus respetivos países", referiu.

A comunidade islâmica na RDCongo representa 10% do total da população congolesa, estimada em 80 milhões de habitantes.