Uma equipa de investigação da Universidade de Aveiro detetou na bacia hidrográfica do Vouga bactérias resistentes a antibióticos, anunciou hoje a instituição.

A descoberta de estirpes bacterianas com resistência às cefalosporinas de terceira geração, um dos tipos de antibiótico mais utilizado em meios hospitalares portugueses, foi feita após a análise de água de 11 locais, por uma equipa de investigadores do Departamento de Biologia da Universidade de Aveiro (UA).

Estas bactérias foram localizadas nos rios Antuã, Cértima e Ul.

Segundo Isabel Henriques, investigadora do Departamento de Biologia da Universidade de Aveiro e especialista em microbiologia ambiental, não está ainda apurado se as estirpes detetadas provocam infeções nos seres humanos, mas está provado que conseguem transferir para bactérias patogénicas a característica que as torna imunes aos antibióticos.

Este facto pode constituir "um problema gravíssimo na [ação] clínica, pois limitam a eficácia dos antibióticos mais usados em caso de infeção".

Os cientistas da Universidade de Aveiro isolaram as estirpes de Escherichia coli, Aeromonas hydrophila, Pseudomonas sp. e Enterobacter, após análises às amostras, em águas poluídas, provenientes dos rios Antuã, Cértima e Ul, usadas para rega e onde é praticada pesca.

Isabel Henriques admite que "noutros sítios da bacia hidrográfica do Vouga com as mesmas características de água, ainda que não tenham sido analisados, haja uma elevada probabilidade de existirem mais comunidades de bactérias com este tipo de resistência a antibióticos".

O estudo da UA, em que participaram também os investigadores António Correia e Marta Tacão, atestou ainda que "os genes que conferem a resistência às cefalosporinas de terceira geração estão associados a elementos genéticos móveis", pelo que essa resistência pode ser facilmente transmitida de bactéria para bactéria.

Isabel Henriques explica que "as próprias bactérias podem passar a característica da resistência a antibióticos a outras que não a tenham e que, apesar de serem patogénicas, podiam ser combatidas com antibióticos", o que deixa de acontecer porque, "uma vez transferido o gene da resistência às cefalosporinas, essa arma médica deixa de ser eficaz".

15 de outubro de 2012

@Lusa