HealthNews (HN)- Recentemente escreveu um artigo publicado na revista científica americana Cell and Tissue Research onde se debruça sobre o potencial das células estaminais mesenquimais (CEM) do cordão umbilical no tratamento da diabetes tipo 2. Quais as principais evidências científicas que a levaram a defender esta nova perspetiva terapêutica?

Andreia Gomes (AG)- O artigo reúne toda a informação que existe na comunidade científica acerca deste tema. As células estaminais mesenquimais têm um enorme potencial em várias patologias. O cordão umbilical apresenta células que têm efeitos benéficos em doenças metabólicas mais comuns. Portanto, no artigo apresentamos tudo o que já existe e tem vindo a ser feito com estas células no potencial tratamento da diabetes.

HN- Que benefícios destacaria no tratamento da diabetes tipo 2?

AG- Quer estudo experimentais, quer ensaios clínicos mostram que as células estaminais mesenquimais têm capacidade de atuar em várias frentes. Os estudos apontam, por exemplo, para que a aplicação destas células promova um aumento da sensibilidade à insulina.

As CEM têm, ainda, benefícios nas complicações associadas à diabetes: má cicatrização, cegueira diabética, pé diabético, entre outras. Portanto, estas células se forem aplicadas localmente também ajudam. Há um ensaio clínico que retrata ,com fotografias, a melhoria significativa na cicatrização devido ao tratamento com as CEM.

A células estaminais mesenquimais para além de ajudarem a tratar o problema “principal”, também ajudam nas complicações.

HN- A diabetes tipo 2 é uma doença metabólica crónica As células estaminais mesenquimais podem conduzir à cura?

AG- Sim. Até hoje temos disponíveis vários fármacos antidiabéticos associados a terapêuticas não-farmacológicas. No entanto, tendo em conta a linha de estudos que têm sido realizados, parece que as células estaminais mesenquimais podem mesmo apresentar uma possível recuperação desta patologia.

HN- Como é feita a aplicação dessas células?

AG- O ideal é o transplante. Estas células têm uma das grandes particularidades, uma vez que têm uma baixa imunogenicidade. Ou seja, os transplantes alogénicos são completamente seguros e apresentam a potencialidade de não despoletarem o mesmo tipo de reação que se verifica nos outros transplantes.

HN- Tratando-se uma opção terapêutica mais “natural” os riscos para a saúde são menores quando comparados com os resultantes do uso de medicamentos?

AG- Sim. Nos ensaios clínicos há sempre uma parte em que é avaliada a segurança. De nada serve ser uma terapia eficaz se não for segura. Portanto, até agora não se tem verificado qualquer tipo de reação. No entanto, existe a dúvida se estas células podem desviar-se do seu intuito como terapia.

HN- As células estaminais mesenquimais poderiam ser utilizadas no tratamento de todos os doentes?

AG- Não podemos, para já, clarificar que possa ser um tratamento para todos os doentes com diabetes. Temos que avaliar individualmente os pacientes.

HN- É sabido que esta doença representa um custo elevado para o Serviço Nacional de Saúde. Qual seria o impacto económico desta nova terapêutica?

AG- A terapia celular é uma opção de tratamento cara, no entanto, é preciso analisar bem esta questão. Infelizmente, hoje em dia podemos ter diabéticos na casa dos vinte ou trinta anos que levam a uma sobrecarga do SNS durante muitos anos com as atuais terapias.

HN- Não é de agora, nos últimos anos tem-se falado no papel das CEM como potencial mecanismo de tratamento da diabetes. Ainda estamos longe de ver a sua implementação como opção terapêutica?

AG- Estamos cada vez mais perto, mas ainda são necessários estudos mais vincados e direcionados, a avaliação dos custos desta terapia. Para além disso, o ritmo da implementação também passará pela sensibilização da comunidade médica.

Entrevista de Vaishaly Camões