A eurodeputada portuguesa Marisa Matias, autora do relatório do Parlamento Europeu sobre a iniciativa europeia em matéria de Alzheimer, diz que "não é compreensível" que o investimento na investigação desta doença seja atualmente "tão curto" na União Europeia.
“Não nos podemos esquecer que o número de pessoas que sofrem de Alzheimer e outras demências está a aumentar dramaticamente na União Europeia (UE), que conta com quase 10 milhões de pessoas diagnosticadas”, cerca de um terço dos casos diagnosticados em todo o mundo, apontou a deputada eleita pelo Bloco de Esquerda (BE), em declarações à agência Lusa.
Tratando-se de uma doença que se receia que seja bastante sub-diagnosticada – em Portugal o número de pessoas diagnosticadas ronda as 100 mil, mas o número real poderá ser muito superior – e que se estima que duplique nos próximos 20 anos, Marisa Matias considera que, claramente, a doença de Alzheimer não tem o destaque nem o investimento necessários, sendo altura de inverter a situação e de haver mais ação a nível da UE.
Marisa Matias falava na véspera de o hemiciclo de Estrasburgo debater o seu relatório – que irá a votos na quarta-feira -, que enunciará as recomendações do Parlamento Europeu sobre a “iniciativa europeia” em curso. Uma das recomendações que deverá sair de Estrasburgo é um reforço da cooperação e a coordenação dos esforços de investigação clínica e que promova a prevenção, o diagnóstico, o tratamento e a prestação de cuidados aos doentes.
Além de um maior investimento na investigação, “muito curto a comparar com outras áreas”, atendendo até a que se trata de uma doença cujas causas são ainda desconhecidas, o relatório defende a implementação de planos nacionais de ação, atualmente existentes “apenas numa mão cheia de países”, aponta Marisa Matias. Em Portugal, só agora se está a iniciar a preparação de um plano nacional de ação, “após muita pressão por parte das associações de doentes e muitos anos de discussão”, indicou.
Para a eurodeputada, apenas se todos os países tiverem planos de ação será possível desenvolver uma verdadeira política europeia, para já impossível dadas as tremendas desigualdades entre os Estados-membros e dentro dos Estados-membros. O relatório propõe, por exemplo, a criação de centros especializados nos Estados-membros e o intercâmbio de melhores práticas no domínio da investigação destas doenças, visando reduzir as desigualdades existentes entre os Estados-membros e no interior de cada país em matéria de diagnóstico e tratamento.
Marisa Matias salienta, de resto, os enormes custos sociais da doença, pois o que se passa atualmente é que, ainda que alguns hospitais tenham serviços especializados, “depois não há condições para tratar dessas pessoas”, que acabam invariavelmente por ficar em centros de dia – quando os familiares têm recursos, mas também esta não é a solução ideal, dada a falta de formação dos profissionais – ou, na maior parte dos casos, em casa.
“Estima-se que por cada pessoa numa fase avançada da doença sejam necessárias três pessoas para a acompanhar 24 horas por dia”, indicou, justificando assim o fenómeno de muitas pessoas, sobretudo mulheres, serem forçadas a deixar de trabalhar, em idade ativa, para prestar assistência.
Defendendo assim a igualdade no acesso ao tratamento e a oferta de serviços adequados, Marisa Matias aponta, por fim, um aspeto ao qual diz ter dado pessoalmente muito ênfase no seu relatório: a dignidade e direitos dos pacientes com Alzheimer e outras doenças demenciais, assim como das pessoas próximas, já que hoje "há um estigma social enorme" em torno da doença.
18 de janeiro de 2011
Fonte: LUSA/SAPO
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