Laurence Doud, que durante anos dirigiu a empresa Rochester Drug Cooperative (RDC), é o primeiro responsável de uma companhia farmacêutica condenado num processo criminal pelo papel desempenhado na crise de opiáceos nos Estados Unidos.

Após ser declarado culpado por um júri no ano passado, Doud, de 79 anos, foi hoje condenado por um juiz nova-iorquino a 27 meses de prisão, três anos de liberdade condicional e uma multa de 100.000 dólares.

"Laurence Doud preocupava-se mais com o seu vencimento do que com a sua responsabilidade, como Presidente do Conselho de Administração da RDC, de impedir que perigosos opiáceos chegassem a farmácias, traficantes de drogas e pessoas com problemas de toxicodependência", declarou num comunicado o procurador federal Damian Williams.

Segundo Williams, com esta sentença, faz-se o executivo prestar contas pelo fornecimento de enormes quantidades de oxicodona e fentanil a farmácias que sabia que estavam a distribuir essas substâncias de forma ilegal.

Durante o julgamento, os procuradores do ministério público explicaram que essas vendas decorreram durante anos, apesar de os próprios serviços da empresa terem advertido para o problema, devido aos pedidos suspeitos desses estabelecimentos.

Além de violar a legislação sobre drogas, Doud foi condenado por defraudar as autoridades federais ao não as notificar de que essas farmácias estavam a desviar narcóticos de forma ilegal.

Sob a liderança de Doud, a RDC tornou-se uma das dez maiores distribuidoras de produtos farmacêuticos dos Estados Unidos e a quarta maior na zona de Nova Iorque, com uma faturação anual superior a 1.000 milhões de dólares (948 milhões de euros).

A empresa, também arguida neste caso, chegou a um acordo com o Governo e pagou uma multa de 20 milhões de dólares (18,9 milhões de euros), enquanto outro alto responsável, William Pietruszewski, se declarou culpado e depôs no julgamento contra Doud.

De acordo com dados oficiais, mais de 107.000 norte-americanos morreram em 2021 de 'overdose' de drogas, e estima-se que, em mais de 80.000 desses casos, houve pelo menos um opiáceo envolvido.

Entre 1999 e 2019, estima-se que quase meio milhão de pessoas tenham morrido nos Estados Unidos de 'overdose' de opiáceos.

Nos últimos anos, muitas empresas farmacêuticas foram processadas pelo seu papel nesta crise e pagaram milhares de milhões de dólares em indemnizações.