Segundo o estudo, a zona ibérica terá sido dos territórios em que a Peste Negra teve menos efeitos, a par das ilhas britânicas e do noroeste europeu.
Já na Escandinávia, França, Grécia, Alemanha meridional e Itália central, a atividade agrícola “diminuiu bastante” naquele período, coincidindo aí com as elevadas taxas de mortalidade registadas em fontes medievais.
Liderado pelo Instituto Max Planck (Alemanha) e hoje publicado na revista “Nature Ecology & Evolution”, o estudo foi desenvolvido por uma equipa internacional constituída por 61 investigadores, incluindo Carla Sá Ferreira, formada pela Universidade do Minho.
Analisou, em amostras de pólen de 261 locais em 19 países, como as paisagens e a atividade agrícola mudaram um século antes e após aquela pandemia.
Em concreto, a equipa avaliou 1.634 amostras de pólen no subsolo para ver as plantas presentes e com que abundância, apurando assim se as atividades agrícolas locais continuaram ou pararam naquela fase ou se houve renovação do coberto vegetal com a redução da agricultura.
Foram também analisadas áreas rurais, “quando até aqui se utilizava sobretudo fontes de áreas urbanas, mas mais de 75% da população europeia de então era rural”.
A pesquisa contou com dados polínicos de Portugal, recolhidos na serra da Cabreira (Vieira do Minho) e no vale do rio Terva (Boticas), com o apoio da Unidade de Arqueologia da UMinho.
“Os dados sugerem que a Peste Negra nesta área teve um impacto contido face a outras regiões do centro europeu”, refere a investigadora citada em comunicado.
Explica também que os indicadores de cultivo “contraíram ligeiramente” no século XIV, “o que pode refletir alguma mortalidade pela peste, mas também a realidade político-social portuguesa, como a crise dinástica de 1383-85 e as guerras com Castela”.
Os cientistas concluíram que o contexto sociocultural, demográfico, económico e ambiental influenciou a prevalência, morbidade e mortalidade em cada região.
“As pandemias são fenómenos dinâmicos complexos que têm histórias regionais. Vimos isso com a covid-19 e agora demonstramos para a Peste Negra”, diz ainda Carla Sá Ferreira.
No futuro, pretende-se aplicar os dados paleoecológicos para entender como as várias variáveis interagem para moldar as pandemias do passado e do presente.
A Peste Negra assolou a Europa, Ásia Ocidental e Norte da África de 1347 a 1352, sendo a pandemia mais arrasadora da história, com 75 a 200 milhões de mortes estimadas, e contribuindo para várias transformações sociopolíticas e culturais, como o Renascimento.
Através de análises ao ADN, foi identificada a Yersinia pestis como agente causador da peste.
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