O presidente da Sociedade Portuguesa de Reumatologia, José Canas da Silva, considera que a situação do Alentejo é lamentável, mas lembra que “tão ou mais relevante” é o facto de “grandes hospitais em grandes áreas metropolitanas não disporem de serviços de reumatologia”.

Centro Hospitalar de Lisboa Central, Amadora-Sintra, Cascais, Nossa Senhora da Oliveira (Guimarães) e Santo António (Porto) são as cinco unidades que não têm departamentos de reumatologia e “servem áreas com muitíssima população”.

A falta de reumatologistas nos serviços públicos em Portugal é precisamente um dos temas que hoje será debatido num encontro de especialistas nacionais e estrangeiros que decorre na Assembleia da República, em Lisboa. Canas da Silva frisa que há atualmente jovens especialistas com capacidade para preencher necessidades nos hospitais sem reumatologia, mas diz que as vagas não têm sido abertas.

O especialista adianta ainda que a rede de referenciação que foi criada previa a abertura de vagas e de serviços de reumatologia nesses hospitais.

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Também o caso do Alentejo, onde não há reumatologistas no SNS desde 2012, contraria a rede de referenciação do Ministério da Saúde, que indica que os serviços de reumatologia devem estar no máximo a 100 quilómetros da população.

O presidente da Sociedade Portuguesa de Reumatologia confirmou à agência Lusa que não há um único reumatologista nos serviços públicos do Alentejo desde há quatro anos. A última médica reumatologista a trabalhar num hospital do SNS alentejano saiu em 2012 do Hospital de Évora.

Doentes privados de tratamentos

Para o presidente da Sociedade de Reumatologia, o que é verdadeiramente “lastimável” é que haja doentes que são privados de um tratamento adequado de acordo com o estado da arte, quando o progresso médico na área nos últimos anos “tem sido imenso”.

Segundo um estudo divulgado no final do ano passado, havias em fins de 2015 nos hospitais públicos 83 reumatologistas e 53 internos.

Na mesma altura, a Ordem dos Médicos indicava que 107 reumatologistas trabalhavam no Serviço Nacional de Saúde (SNS), quando deviam ser entre 200 a 250 especialistas, de acordo com o rácio para assegurar a qualidade dos cuidados.

No encontro que reúne especialistas hoje na Assembleia da República vão ainda ser discutidas medidas para reduzir os custos individuais, sociais e económicos das doenças reumáticas em Portugal e na Europa.

Outra das preocupações da Sociedade Portuguesa de Reumatologia diz respeito à referenciação rápida dos doentes, que ajuda a ter um melhor prognóstico de tratamento.

Os atrasos na referenciação podem verificar-se a vários níveis: o doente desvalorizar os sinais e sintomas; os médicos de famílias tardarem na referenciação aos reumatologistas e os próprios serviços de reumatologia não darem atempada assistência, muitas vezes por falta de recursos humanos.

As doenças reumáticas afetam mais de metade da população portuguesa e são das primeiras causas de uma consulta médica e a principal razão de invalidez.

Dados do primeiro estudo epidemiológico nacional nesta área– o EpiReumaPt -, que abrangeu 10 mil inquiridos, mostram que as reformas antecipadas por doenças reumáticas custam 900 milhões de euros por ano.

Segundo os dados que foram conhecidos em meados de 2016, as mulheres são quem mais contribui para estes 900 milhões de euros de custos indiretos com reformas antecipadas por doenças reumáticas, representando 84%, ou seja, 766 milhões de euros.