O número de mulheres nas reuniões de alcoólicos anónimos (AA) duplicou numa década, como também duplicaram os pedidos de ajuda, vindos de pessoas cada vez mais novas.
O retrato é da associação de AA de Portugal, feito pelo seu secretário-geral, a propósito do Dia Mundial dos Alcoólicos Anónimos, na sexta-feira. Em Portugal, diz, a perceção que tem é de que o problema do alcoolismo não é hoje menor. Pelo contrário.
Avessos a publicidade, anónimos por natureza, os AA aproveitam o “seu” dia para divulgar o projeto, conviver e fazer reuniões abertas.
Por isso o secretário-geral não quer ser filmado e prefere ser citado apenas pelo primeiro nome, Jorge. Porque “o anonimato é o fundamento espiritual” dos AA e se a associação quer ser conhecida, para assim mais alcoólicos chegarem a ela, garante aos que pedem ajuda que serão sempre anónimos.
“Não vamos buscar ninguém, passa sempre por eles”, diz o responsável, explicando que a terapia dos AA consiste em mostrar que com eles resultou a partilha de experiências, de sentimentos e de sensações.
Em 1935, um corretor da Bolsa de Nova Iorque, alcoólico, conheceu outro alcoólico, médico, e descobriram que era possível manterem-se afastados da bebida partilhando experiências. 10 de junho de 1935 marcou o início da abstinência por parte do médico, que nos 15 anos seguintes ajudou mais de 5.000 alcoólicos.
Hoje os AA estão espalhados por 180 países. Em Portugal existem informalmente desde 1972 mas só foram reconhecidos a partir de 1978, constituindo-se como associação em 1997.
Hoje, diz o secretário-geral, há 72 grupos de AA em Portugal. Realizam cerca de 1.950 reuniões anuais, numa média de 162 por mês. Em cada dia fazem-se, em algum lugar do país, cinco reuniões de AA, que podem juntar entre cinco a 30 membros.
“Uma reunião de recuperação acontece quando dois alcoólicos se reúnem para falar de si próprios”, simplifica Jorge, adiantando que ao alcoólico que busca ajuda “basta ir a reuniões” e que nem tem de falar, porque o programa “funciona por identificação”.
Jorge desconhece se hoje há mais ou menos pessoas dependentes de álcool, mas na associação sabem que o alcoolismo continua a ser preocupante para diversas entidades que a contactam.
O que sabem também é que o número de membros duplicou na última década e que, apesar de serem mais os homens, as mulheres passaram de 12 por cento na década de 90 para 24,7 por cento em 2008.
A idade média dos membros AA estava na mesma altura nos 47 anos, mas Jorge acredita que seja hoje mais baixa, porque às reuniões chegam cada vez mais pessoas na casa dos 30 anos.
Jorge acredita também que a crise económica no país nada afeta a evolução do alcoolismo, porque as pessoas que chegam às reuniões fazem parte de outro mundo: “Falamos de vidas quase destruídas, de empregos perdidos, de dívidas…”.
Na sexta-feira, como em qualquer outro dia, em vários locais do país vão reunir-se estas pessoas, de “vidas quase destruídas”. E vão procurar ajudar-se, trocar experiências, fazer amizades. Porque um dia, há 76 anos, se encontraram por acaso um corretor da bolsa e um médico.
09 de junho de 2011
Fonte: Lusa/SAPO
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