A má utilização dos medicamentos ou o abandono da terapêutica prescrita pelo médico podem significar gastos públicos brutais mas desnecessários, lembram clínicos e administradores hospitalares.

A responsabilidade social do doente na utilização dos fármacos é um dos temas do IV Fórum Nacional sobre Gestão do Medicamento em Meio Hospitalar, que decorre na sexta-feira, em Lisboa.

“Preocupamo-nos com a adesão do doente à medicação, já que há situações muito problemáticas a este nível”, comentou à agência Lusa o presidente da Associação dos Administradores Hospitalares, Pedro Lopes.

Há casos de doentes que não tomam os medicamentos de acordo com o que lhes é prescrito, há quem abandone a medicação mal se sinta melhor e há ainda situações de venda ilegal de medicamentos.

Pedro Lopes lembrou que a adesão errada dos doentes à terapêutica é ainda mais grave nas situações que envolvem grande investimento dos hospitais e do Estado, como o caso de fármacos oncológicos ou para o HIV.

“São medicamentos muito caros. Trata-se de um investimento muito grande que depois não é rentabilizado”, frisou o administrador hospitalar, recordando ainda os efeitos sobre a saúde dos doentes.

O médico infeciologista Meliço Silvestre refere também que, numa situação de constrangimentos económicos, pode pôr-se em causa algumas terapêuticas, caso não haja a adesão dos doentes.

“Temos doentes com patologias complicadas mas que não seguem as terapêuticas e depois voltam a ser internados, com custos enormes. Isto é uma responsabilidade social do doente”, afirmou o especialista à Lusa.

Meliço Silvestre avisa, contudo, que a sociedade tem a obrigação e responsabilidade de ajudar o doente e que muito cabe às equipas que seguem os pacientes: devem ser constituídas por vários profissionais que facilitem a adesão à terapêutica.

Além do aspeto económico-financeiro, a toma errada dos medicamentos pode trazer problemas de saúde pública, tornando vírus e bactérias mais resistentes, como o que se passa com os antibióticos.

“Cria-se uma cascata de medicamentos e de dificuldades para chegarmos a um medicamento que atue”, exemplifica o médico.

06 de outubro de 2011

Fonte: Lusa