O que significa OTC?
OTC significa “Over The Counter” e refere-se a produtos ou serviços que podem ser comprados sem a necessidade de receita médica. No caso dos aparelhos auditivos OTC, eles são dispositivos que amplificam o som e podem ser adquiridos sem a consulta de um especialista ou sem a necessidade de receita médica. É importante ressaltar que os aparelhos auditivos OTC não são cobertos por seguro saúde e devem ser pagos do próprio bolso. Eles estão disponíveis em diferentes formatos, como RIC (“Receiver In the Canal”), BTE (“Behind The Ear”) e CIC (“Completely In the Canal”). Nos Estados Unidos, esses aparelhos foram aprovados pela FDA (‘Food and Drug Administration’) em 2022, e muitas marcas já estão disponíveis no mercado. Na Europa, não existem regulamentações específicas para os aparelhos auditivos OTC, o que permite que até mesmo lojas de desconto vendam dispositivos mais baratos fabricados na China.
Qual o Objectivo de uma Solução Auditiva?
Como um especialista com formação em vendas éticas e “coaching” pessoal de audiologistas e especialistas em aparelhos auditivos, vejo um aparelho auditivo como parte de uma solução completa para uma pessoa com deficiência auditiva. Por isso, deve ser chamado de “solução de aparelho auditivo”, pois seu objetivo é melhorar a qualidade de vida da pessoa com deficiência auditiva! Não apenas da pessoa em questão, mas também muitas vezes dos cônjuges, membros da família, amigos, colegas de trabalho ou até mesmo funcionários de casas de repouso. Isso porque todos os envolvidos têm necessidades, ou até mesmo necessidades ocultas ou especiais/específicas.
É incrível, mas também negativo, que tanto os pacientes quanto os especialistas tenham essa atitude e comportamento de que os aparelhos auditivos são apenas dispositivos que devem ser invisíveis. Isso acaba contribuindo para a estigmatização dos aparelhos auditivos, o que é muito estranho! No entanto, existem muitos argumentos e factos importantes que estão abaixo dessa “linha simbólica da água” e que podem realmente ajudar uma pessoa com deficiência auditiva. Isso inclui detecção de quedas, parceria entre o especialista e a pessoa com deficiência auditiva, serviços e apoio pós-venda, impacto na capacidade auditiva do cérebro, atraso no desenvolvimento de demência e outros problemas de saúde, ajuste ou calibração adequado/a durante e após o período de experiência, capacidade de participar proactivamente em conversas mesmo em ambientes barulhentos, e muito mais do que isso. É importante destacar todos esses aspectos ao discutir os benefícios dos aparelhos auditivos.
Ética nos Negócios de Distribuição de Aparelhos Auditivos:
Infelizmente, nem todos os distribuidores de aparelhos auditivos seguem regras éticas, leis ou padrões. Algumas grandes redes de lojas e distribuidores independentes veem a venda de aparelhos auditivos como uma forma de ganhar dinheiro e obter grandes lucros. Muitas vezes, eles adoptam fórmulas de negócios como “muita quantidade, baixo cuidado”. E isso não é ético quando se trata de ajudar as pessoas a terem uma melhor qualidade de vida.
Como formador pessoal de especialistas, participei em reuniões de avaliação com pacientes ao longo de 17 anos. E durante esse período, aprendi que os pacientes que compraram aparelhos auditivos sem receita médica ou em grandes redes costumam reclamar que “não funcionam correctamente em locais de maior ruído”, ou quando várias pessoas estão a falar em simultâneo. Eles admitem que acharam que a audição estava “suficientemente boa” e os compraram porque eram mais baratos do que noutros locais. Muitos desses clientes confirmam que esses aparelhos auditivos comprados acabaram por ser guardados na gaveta após 3 meses de uso.
E isso faz com que eles ajam de forma antiética, porque o foco está no volume de negócios e no lucro. Esses clientes também confirmam que um preço baixo está associado a serviços limitados ou inexistentes! E isso torna-se totalmente antiético. O que diferencia os fornecedores com altos padrões éticos dos fornecedores antiéticos é, entre outras coisas:
– Um foco no cuidado centrado na pessoa, PCC, que é descrito, por exemplo, no IdaInstitute.org
– Um acompanhamento profissional de avaliação de rotina
– Uma análise profissional das necessidades do PCC.
A análise das necessidades é crucial, pois é a base para descobrir as necessidades principais e ocultas (ou específicas) para ajudar a melhorar a qualidade de vida. Novamente, essas necessidades da pessoa com deficiência auditiva, cônjuges, membros da família, etc.
Somente após uma análise profissional das necessidades e um período de experiência profissional (ajuste, reajuste no período de teste ou de adaptação), um especialista pode dar um conselho sobre qual pode ser a solução correta para aparelhos auditivos e garantir que metas mútuas de melhoria da qualidade de vida passam a ser alcançadas. É óbvio que os serviços, e em particular, os serviços pós-venda devem ser uma parte importante da solução de aparelhos auditivos. A maioria dos pacientes depende destes serviços durante a vida útil dos aparelhos auditivos!
Vantagens dos Aparelhos Auditivos OTC:
A maior vantagem dos aparelhos auditivos OTC ou aparelhos auditivos baratos comprados em uma loja de descontos é que isso reduz a barreira para muitos entrarem em contacto com uma possível solução de aparelho auditivo. Com isso, está tudo dito sobre as suas vantagens.
Os aparelhos auditivos baratos que são vendidos em lojas de descontos por €9,99 cada podem estar disponíveis para aqueles que têm mais dificuldades económicas. Um exemplo dado pelo meu amigo sul-africano Fanie du Toit, um lutador contra a deficiência: “Oliver, esses aparelhos auditivos baratos podem fazer com que, em casas de repouso sul-africanas isoladas, os residentes sem dinheiro, mas com perda auditiva grave, não sejam tratados como animais. Porque as enfermeiras gritam com eles ‘…ENGULA O COMPRIMIDO!!’ e eles têm que fazer isso porque essa é a única forma de se comunicarem. Isso poderia fazê-los serem humanos novamente.” O Fanie está certo!
Desvantagens dos Aparelhos Auditivos OTC:
Os aparelhos auditivos OTC ou aparelhos auditivos baratos comprados em lojas de desconto (europeias) raramente resolvem o problema real que a maioria das pessoas com deficiência auditiva têm: compreender a fala em ambientes ruidosos. Por isso, a compra é um desperdício de dinheiro e apenas o fabricante e o supermercado lucram com a venda, a margem, o volume de vendas e o lucro. Nem a análise das necessidades é o factor decisivo para decidir a compra, nem os serviços pós-venda estão disponíveis. Isso torna-se totalmente num negócio antiético, pois sugere que resolveria um problema ou melhoraria a qualidade de vida, mas para a larga maioria dos clientes não o faz.
Conclusão:
As empresas que vendem aparelhos auditivos OTC ou os supermercados que vendem amplificadores baratos, não seguem um padrão de ética se não comunicarem claramente as limitações na venda dos seus dispositivos. É um negócio antiético, porque eles simplesmente não se importam se é a solução certa ou não.
Eu aconselho os especialistas (como audiologistas, e outros profissionais de saúde auditiva) a acolherem esses clientes: promovendo actividades de marketing que façam a persuasão em atrai-los a dirigirem-se a eles (a vós). Porque após um teste auditivo, ou após o período de adaptação, esses especialistas poderão dizer e confirmar que eles tomaram a decisão certa de comprar algo muito mais adequado e com muito menos riscos para a qualidade de vida.
OPINIÃO FINAL:
Começaram a aparecer no mercado português, nomeadamente, nas cadeias de supermercados, os primeiros aparelhos que permitem ampliar a audição, de venda livre, que se designam, mais concretamente, por
“amplificadores auditivos” e, por tal, requerem menos tecnologia, menos ou nenhum controlo, sem assistência antes e pós-venda, podendo assim ser mais baratos e NÃO RECOMENDADOS!
OUVIR, é um dos cinco sentidos humanos indispensáveis à vida, e faz parte dos principais sentidos da sobrevivência da espécie humana. O OUVIDO É UM ÓRGÃO DE ALGUMA COMPLEXIDADE, com ligações profundas e, como tal que tem que ser tratado adequadamente. Só os médicos da especialidade podem definir, orientar, aconselhar e prescrever o que cada ouvido doente ou enfraquecido necessita. Como em qualquer outro problema de saúde, é indispensável uma consulta da especialidade, neste caso de otorrinolaringologia, para que seja diagnosticado o problema auditivo.
Quando há necessidade de tecnologia disponível para colmatar o problema, tem que ser o otorrinolaringologista, depois de diagnosticar, a encaminhar o processo. Se o problema for a melhoria da qualidade de vida, que possa ser conseguida através da tecnologia, cada vez mais avançada e sofisticada, terá que ser o médico especialista a encaminhar o processo, que nem sempre é de prótese auditiva. Mas, se a melhoria do problema de saúde for o uso de próteses, estas terão de ser de boa e controlada qualidade, como qualquer fármaco ou aparelho de ajuda técnica, PRÓTESE, QUE SE DESTINA À SAÚDE, porque é de um assunto de saúde que se trata!!!
As próteses auditivas necessitam ser devidamente adequadas a cada caso;
calibradas inicialmente e ao longo dos tempos, por profissionais devidamente habilitados para tal; necessitam e têm direito a assistência e, tudo a que, por direito, tem uma prótese que se destina à saúde.
Ora, nada disto é, nem pode ser, assegurado numa compra em supermercados de venda de produtos básicos de outra índole.
Apelamos assim, às Autoridades de Saúde Competentes para que este assunto seja devidamente tratado e com a urgência que o assunto impõe. Muitas pessoas estão a ser ludibriadas e, porventura, a danificar a saúde auditiva.
É muito importante e necessária uma rigorosa legislação para o controlo de venda de aparelhos auditivos, como há para os fármacos, sejam eles OTC ou de venda livre. Só assim se fará uma eficiente defesa do consumidor, na área tão específica da saúde, e que precisa ser especialmente acautelada.
Como explica, e bem, o Dr. Oliver, deve constar no panfleto que acompanha as instruções, a indicação obrigatória e explícita das limitações deste tipo de produtos de pouca qualidade, os danos que o seu uso podem causar, propor o aconselhamento de um especialista devidamente credenciado, e advertir com clareza que, naquelas condições de venda, NÃO HÁ DIREITO A PERÍODO EXPERIMENTAL, NEM A REEMBOLSO, MESMO QUE A CAUSA SEJA A INCORRECTA ADAPTAÇÃO.
Estes alertas e recomendações devem também estar expostos na estante do local de venda, bem visível e bem legível.
Oliver F. von Borstel
Presidente da Fundação em Ética de Vendas (Países Baixos)
(De nacionalidade Suíça, é Consultor-Especialista sobre o Mercado dos Cuidados de Saúde Auditiva)
www.EthicalSelling.org
Email: Oliver.vonBorstel@MastersOfBusinessDevelopment.com
Ricardo Miranda
Presidente e Sócio Fundador da Associação OUVIR
(Opinião Final, Tradução e Revisão)
Contactos:
Email: ouvir.apppia@gmail.com
Whatsapp (mensagens escritas apenas): 969917317
Site: www.ouvir.pt
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