O Dia Mundial da Fisioterapia celebra-se todos os anos no dia 8 de setembro. É uma data que pretende chamar a atenção para a importância da fisioterapia, para o papel do fisioterapeuta e para o impacto desta intervenção na melhoria da condição da pessoa com doença crónica e aguda, reabilitando-a, aumentado a sua autonomia, prevenindo exacerbações e melhorando a sua qualidade de vida.
Indivíduos com doença respiratória crónica, como por exemplo asma, doença pulmonar obstrutiva crónica (DPOC) ou fibrose pulmonar, apresentam com frequência sintomas como tosse persistente, expetoração e sensação de falta de ar/dificuldade respiratória. Estes sintomas aparecem sobretudo durante as atividades do dia-a-dia como andar, ir às compras ou subir escadas.
A sensação de dificuldade respiratória/falta de ar agrava-se à medida que a doença progride, levando o indivíduo a evitar o exercício. Como resultado disso, há uma deterioração progressiva da capacidade para o realizar. Desta forma, o doente entra num círculo vicioso, no qual se vai gerando cada vez mais dificuldade respiratória e cansaço, maior limitação na realização das tarefas diárias como tomar banho, vestir-se ou calçar os sapatos, com perda significativa da qualidade de vida e, algumas vezes da independência, levando também, em alguns casos, a isolamento e depressão.
A doença respiratória crónica associa-se com frequência a outras patologias, tais como doenças cardiovasculares, osteoporose, diabetes, ansiedade e depressão que podem agravar o estado de saúde, levando a uma maior necessidade de cuidados de saúde.
A reabilitação respiratória é uma intervenção abrangente, dirigida aos doentes respiratórios, que tem como objetivos a redução dos sintomas de cansaço e dificuldade respiratória, a melhoria da condição física e a adesão a longo prazo a comportamentos promotores de saúde (adesão à terapêutica farmacológica prescrita, cessação tabágica, alimentação saudável e exercício físico regular).
Os resultados desta intervenção estão bem sedimentados na literatura e entre eles estão a redução dos episódios de agravamento da doença respiratória e melhoria da qualidade de vida e a redução dos custos relacionados com a saúde.
Para atingir estes objetivos, os programas de reabilitação respiratória são realizados por um conjunto de profissionais de saúde com formação específica nesta área, entre os quais fisioterapeuta, médico pneumologista, enfermeiro, psicólogo, nutricionista, que, trabalhando em conjunto de uma forma interdisciplinar, fazem uma avaliação rigorosa do estado de saúde do doente e desenham um programa de reabilitação individualizado, com foco nas necessidades individuais.
Estes programas incluem sempre treino de exercício (aeróbio, força, equilíbrio, flexibilidade) supervisionado, garantindo um acompanhamento seguro e eficaz e alinhado com as suas preferências, e programas de educação para a saúde que visam dar à pessoa as ferramentas necessárias para gerir melhor a sua doença (forma correta de fazer os inaladores, reconhecimento e controlo das exacerbações e exercícios respiratórios específicos para controlar a sensação de dificuldade respiratória e manter uma boa saúde respiratória).
Uma grande parte dos indivíduos tem a sua primeira experiência de reabilitação durante um internamento por agravamento da sua doença respiratória e, posteriormente, mantêm o acompanhamento em regime ambulatório após a alta hospitalar. Estes programas também podem ser realizados nos cuidados de saúde primários ou no domicílio.
Mais recentemente, e devido à pandemia COVID-19 com o confinamento, receio de contágio, encerramento temporário de alguns serviços de reabilitação, é sabido que muitas pessoas ficaram sem apoio piorando a sua condição de saúde tornando ainda mais relevante o papel da reabilitação. Por outro lado, houve também um aumento dos candidatos aos programas de reabilitação respiratória (por sequelas COVID-19 – COVID longa). Assim, houve a necessidade de, recorrendo às novas tecnologias de informação e comunicação, viabilizar o tratamento e a monitorização destes doentes através de telerreabilitação.
Todas estas formas de implementação de programas de reabilitação respiratória (ambulatório, domicílio, telerreabilitação) são válidas com resultados confirmados na literatura, mas o regime em que se realizam deve ter em conta vários aspetos individuais como a gravidade da doença, as preferências da pessoa, a sua capacidade de mobilidade, autonomia, domínio das novas tecnologias, disponibilidade de programas presenciais na área de residência entre outras.
A reabilitação respiratória tem diversas áreas de intervenção sendo também essencial no doente oncológico, com comprometimento respiratório, nomeadamente doentes com cancro do pulmão, que podem ser referenciados numa fase inicial (diagnóstico), ou ao longo do continuum da doença (antes, durante e após o tratamento).
A cirurgia para remoção do tumor é o tratamento preferencial para o cancro do pulmão. Entre os fatores que vão determinar se esta opção terapêutica é viável estão o estadio da doença, as condições gerais do doente e a sua capacidade cardiorrespiratória.
A reabilitação respiratória com os seus componentes de treino de exercício estruturado, apoio multidisciplinar (em especial psicologia e nutrição) e ensino, está indicada no período pré-operatório, devendo iniciar-se tão cedo quanto possível, com resultados favoráveis no aumento dos casos operáveis, na menor incidência de complicações pulmonares pós-operatórias e numa recuperação mais rápida, com menor tempo de internamento.
O acompanhamento no pós-operatório inicia-se no internamento, idealmente nas primeiras 24 horas após a cirurgia, de forma a evitar as possíveis complicações dela decorrentes, otimizar a gestão da dor e promover uma atividade física regular de acordo com a tolerância do doente.
Este apoio pós-operatório não se esgota no ambiente hospitalar, sendo a sua continuidade na comunidade, após o internamento, fator determinante para restaurar a capacidade funcional, tornando possível o retorno às atividades do dia-a-dia tão depressa quanto possível.
Sabendo nós que atualmente se sobrevive ao cancro durante cada vez mais tempo e que a manutenção da atividade física, após o diagnóstico, se associa a um menor impacto dos sintomas e redução do risco de progressão da doença, as principais linhas orientadoras recomendam que os sobreviventes de cancro tenham como objetivo semanal a realização de 150 minutos de atividade física moderada. Este comportamento vai também contribuir fazer a prevenção de outras patologias decorrentes do sedentarismo. Sugere-se ainda que se realize uma avaliação inicial e que o exercício físico seja supervisionado para que seja seguro e mais eficaz.
No fundo, existe um continuum no tratamento destes indivíduos (com doença respiratória crónica e oncológica), onde a reabilitação respiratória tem um papel fundamental e vai dando uma resposta individualizada no sentido de reduzir os défices e as limitações, capacitando-os para a integração numa vida ativa mais satisfatória (no trabalho, na família e na sociedade), melhorando a sua qualidade de vida.
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