O impacto dos ataques à saúde da faixa Gaza torna-se cada vez mais impressionante. Desde 7 de outubro que a OMS reporta perto de 700 ataques, com a destruição de 300 ambulâncias que operavam no território palestiniano.

Os locais onde os cuidados são prestados estão gravemente feridos e danificados, sendo agora impossível cumprir a sua missão. Num território onde grande parte da sua população é menor de idade, e cujos cuidados pediátricos já eram escassos, é fácil de imaginar o desastre que se abate sobre aquelas pessoas. Antes da guerra, cerca de 70% da população pediátrica sofria de problemas de saúde em consequência da má nutrição. A ONU estima que este número pode ter aumentado para 90%.

Sem esquecer, que dos 25 mil mortos e 62 mil feridos, muitos são crianças. Quando não são elas as vítimas de forma direta, são as vítimas de forma indireta, ao perderem os seus familiares nos bombardeamentos israelitas. O trauma e o sofrimento criam as condições ideais para problemas de saúde mental no futuro. É urgente quebrar o ciclo de violência e dor.

Os constantes ataques israelitas não só danificaram a fraca infraestrutura de saúde, como causaram um pico de procura de cuidados por trauma. Com graves problemas de disponibilidade de água, eletricidade e comida, os profissionais de saúde locais trabalham em condições impensáveis e muito aquém dos mínimos para prestar bons cuidados.

Uma população cada vez mais vulnerável, sem acesso não só a cuidados de saúde, como a saneamento básico, água potável e comida, é a receita ideal para a instalação de problemas de saúde que em muito podem ultrapassar as fronteiras de Gaza. A experiência recente no médio oriente é testemunha disso mesmo. A cólera regressou à Síria em 2022. Aproveitando as fragilidades sociais e políticas, ultrapassou facilmente as fronteiras e instalou-se também no Líbano.

Já há 4 semanas, a OMS alertava para o aumento de doenças infeciosas, com especial incidência nos menores de 5 anos. Encontram-se registados aumentos consideráveis de casos de gastroenterites, infeções respiratórias e meningites. Esta tragédia pode ser evitada se os extremistas de ambos os lados saírem de cena, e abrirem espaço para os verdadeiros interessados na paz e no desenvolvimento das condições de vida das populações.

A perda de vidas inocentes palestinas não pode ser ignorada. Não podemos fingir que nada está a acontecer enquanto um povo é massacrado, num iniquo e inaceitável processo de culpa coletiva. Precisamos de menos danos colaterais humanos e abrir caminho para a paz.