Qual a situação atual das reservas de sangue em Portugal?

As reservas de sangue em Portugal apresentam alguma sazonalidade. Nos meses de março, abril, maio e junho existe algum conforto em termos de reservas de sangue, já julho, agosto e setembro são meses em que as reservas diminuem, uma época que coincide com o período de férias de um grande número de dadores. Nos meses de outubro, novembro e dezembro verifica-se novamente algum conforto relativamente às reservas, que volta a diminuir nos meses de janeiro e fevereiro, altura em que as gripes e as constipações afetam, de um modo geral, toda a população. 

Alguns números

Apenas 14,35% dos jovens portugueses estão inscritos para dar sangue.

A dádiva de sangue é benévola e não remunerada e pode ser feita de quatro em quatro meses pelas mulheres e de três em três meses pelos homens.

A região Norte contribui com 41,6% das dádivas nacionais.

Existem tipos de sangue em maior falta?

Todos os tipos de sangue fazem falta. Não existem doenças ou cirurgias que ocorram com maior frequência em indivíduos do grupo A, B, AB ou 0, pelo que  todos os grupos sanguíneos sejam utilizados nas mesmas proporções em que aparecem na população. O grupo 0 Rh negativo, por ser o dador universal, ou seja, poder ser utilizado em qualquer doente sem ter de se esperar  pela determinação dos grupos sanguíneos, é o mais necessário na urgência hospitalar. Sempre que nas notícias se refere a sinistralidade nas estradas, o número de feridos graves pode querer significar que, quando chegou ao hospital, teve de realizar uma transfusão sanguínea e, devido à gravidade, o tipo de sangue 0 negativo foi o sangue utilizado. Acontece que o 0 Rh negativo representa cerca de 7% da população.

Quais são os direitos e deveres do dador de sangue?
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Quais os deveres de um dador de sangue?

O dador de sangue tem a obrigação moral de ser altruísta (aquele em que o bem consiste no interesse pelos seus semelhantes), benévolo (que deseja o bem dos outros) e voluntário (que faz de livre vontade e sem constrangimentos). Deve ser uma pessoa informada e esclarecida relativamente aos riscos de doenças que possam por em causa a saúde de quem dá e a saúde de quem recebe. Por isso, o dador de sangue tem por dever ter uma conversa honesta e franca com o profissional de saúde que faça a triagem clínica. O benefício é para o dador e para o doente.

Permanece vedada a dádiva de sangue a dadores homossexuais? 

Os homens que tenham relações sexuais com outro homem têm um comportamento sexual associado a um aumento de prevalência de doenças infeciosas, possíveis de serem transmitidas por  transfusão sanguínea, daí que estejam sujeitos a critérios de não aprovação para a dádiva de sangue. A norma nº 09/2016 da Direção-Geral de Saúde (DGS) define níveis de evidência e graus de recomendação relativamente a alguns comportamentos sexuais, não sendo suficientemente clara relativamente aos homens que tenham relacionamentos sexuais com outros homens, daí que, na prática, as limitações se mantenham na maioria das situações.

Receber sangue é seguro em Portugal?

O Instituto Português do Sangue e Transplantação (IPST) tem por missão regular a nível nacional a atividade da medicina transfusional. Em todos os países da Europa existe uma instituição com uma missão semelhante. Existem normas, diretivas e regulamentos emanados pela União Europeia que são transcritos para os países e são aplicados a nível nacional, pelo que a qualidade, a segurança e a eficácia dos componentes obtidos em Portugal é idêntica à de todos os países da Europa.

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O que pretendem fazer para aumentar as dádivas de sangue entre os mais jovens?

Têm sido realizadas diversas campanhas promocionais, sempre acompanhadas pelo IPST, dirigidas aos jovens. Em atuações futuras, deveriam ser estendidas a novos canais de comunicação (Instagram, Facebook, Twitter, entre outros).

Por que motivo há cada vez menos novos dadores?

Porque não estão suficientemente informados sobre essa matéria. Os jovens deveriam ter conhecimento dos constituintes do sangue e das suas funções. A educação para a cidadania engloba alguns valores, competências e princípios que estão a começar a ser implementados nos jovens hoje em dia. A par das aprendizagens essenciais, existe um conjunto de conhecimentos, de capacidades e de atitudes que têm como objetivo ações estratégicas de ensino orientadas para o perfil do aluno à saída da escolaridade obrigatória. Tem de existir um esforço de todos (ensino, sociedade e saúde), de forma a que os jovens percebam que a dádiva de sangue é um comportamento a ter no âmbito da boa convivência social e isso leva o seu tempo. Onde encontramos, por exemplo, muitos jovens a dar sangue é junto dos bombeiros. Eles são voluntários e conhecem, na primeira pessoa, a importância da dádiva de sangue enquanto gesto salvador de vidas.

Luís Negrão é médico especialista em Saúde Pública no Instituto Português de Sangue.