A LMA é provocada por alterações genéticas que provocam uma produção excessiva de glóbulos brancos imaturos e malignos, denominados mieloblastos. Estes mieloblastos multiplicam-se dentro da medula óssea e passam para o sangue, e do sangue podem espalhar-se por outros órgãos como o cérebro, a pele, o baço ou as gengivas, e ao ocuparem espaço dentro da medula óssea impedem o fabrico das células normais do sangue – glóbulos vermelhos, glóbulos brancos e plaquetas – levando a complicações graves como infecções, anemia ou hemorragia.

A LMA é a leucemia aguda mais comum nos adultos, ao contrário da Leucemia Linfoblástica Aguda que é a leucemia aguda mais comum nas crianças e adolescentes. A incidência de LMA geralmente aumenta com a idade, afectando predominantemente adultos com mais de 65 anos. De acordo com a Organização Mundial de Saúde, o peso global da LMA está a aumentar, com vários milhares de novos casos diagnosticados anualmente.

A sensibilização da população para estes sintomas e a deteção precoce são vitais na luta contra a LMA. A rápida progressão da doença significa que o diagnóstico atempado pode afetar significativamente os resultados, uma vez que a LMA é uma doença fatal se não for tratada.

Os sinais e sintomas da LMA são muitas vezes vagos e podem ser confundidos com doenças comuns. Os indicadores iniciais incluem fadiga, cansaço fácil, febre ou infecções frequentes e recorrentes. Os doentes podem também apresentar hematomas espontâneos ou hemorragias abundantes, muitas vezes sem traumatismos ou lesões desencadeantes, e também pele pálida ou petéquias, que são pequenos pontos vermelhos dispersos na pele provocados por microhemorragias na pele. A natureza insidiosa de alguns destes sintomas significa que a LMA pode evoluir de forma despercebida até se tornar grave a ponto de comprometer a vida, o que torna a deteção precoce difícil.

Sintomas como cansaço desproporcionado ao esforço, infecções recorrentes ou uma infecção que precisa de vários antibióticos, e hemorragia ou hemotomas espontâneos, são alguns dos sinais de alarme que devem motivar avaliação médica.

Os tratamentos variam consoante o subtipo de LMA e o estado geral de saúde do doente. Doentes com menos de 70 anos e com bom estado de saúde prévio realizam habitualmente quimioterapia intensiva em internamento num Serviço de Hematologia hospitalar, e podem necessitar de transplante de medula óssea (células progenitoras hematopoiéticas). De facto, a LMA é a indicação mais frequente para a realização de transplante de medula (de um familiar ou outro dador compatível) no mundo.

Doentes com mais idade, ou com doenças cardíacas/pulmonares graves ou outros antecedentes médicos importantes, realizam tratamento em ambulatório com um comprimido chamado venetoclax em conjunto com quimioterapia não intensiva. Adicionalmente, os avanços no conhecimento das alterações genéticas associadas à LMA levou ao desenvolvimento de novos medicamentos que inibem as mutações dos genes, como a midostaurina ou gilteritinib, que inibem as mutações do gene FLT3.

Mesmo após o atingimento de remissão completa da LMA com o tratamento inicial, existe risco de recaída da doença, pelo que muitos doentes fazem tratamentos de consolidação ou manutenção para minimizar o risco do regresso da doença oncológica.

Infelizmente, apesar dos avanços no diagnóstico e terapêuticas inovadoras para a LMA, o prognóstico para os doentes com LMA continua a ser reservado, com uma taxa de sobrevivência estimada em 30% cinco anos após o diagnóstico. O sucesso do tratamento varia conforme as alterações genéticas da doença, que classificam a LMA como sendo de risco genético favorável, intermédio ou adverso.

A luta contra a LMA não é apenas um desafio médico, mas também um apelo à consciencialização da população sobre esta doença agressiva. Todos os anos, o Dia Mundial da Leucemia celebrado a 21 de Abril realça a importância do reconhecimento dos primeiros sinais de cancros do sangue como a LMA. Nesta luta global, o conhecimento não é apenas poder, mas também um potencial salva-vidas, iluminando o caminho para a deteção precoce que contribua para um tratamento mais eficaz desta doença grave.

Um artigo da médica Joana Brioso Infante, Hematologista no Hospital de Santa Maria em Lisboa e Professora de Hematologia na Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa.