A actigrafia é um exame objetivo para análise do comportamento (sono-vigília) durante vários dias. Este dispositivo médico e de investigação é utilizado no pulso e assemelha-se a um relógio.
Em medicina do sono o exame objetivo gold standard é a polissonografia, que pode ser feito em laboratório ou até mesmo em casa (dependendo da complexidade necessária), para o diagnóstico de patologias do sono. A polissonografia é feita apenas durante uma noite e, como tal, acaba por ter também as suas limitações para o diagnóstico de algumas patologias do sono, nomeadamente as patologias do ritmo sono-vigília.
As patologias do ritmo sono-vigília caracterizam-se por uma alteração do sistema circadiano (relógio biológico), pela sua incapacidade de sincronizar com o ciclo dia-noite, causando uma dessincronização destes ritmos biológicos com o meio ambiente e social. Esta dessincronização pode ser endógena ou induzida pela sociedade, como é o caso dos trabalhadores por turnos ou das viagens de avião de longo curso. Por vezes existem trabalhadores por turnos que podem desenvolver a patologia do trabalho por turnos, que é também ela uma patologia do sono-vigília. Os sintomas comuns são insónia, sonolência diurna excessiva e uma assincronia com o ciclo dia-noite, caracterizando-se por uma enorme dificuldade em conseguir ajustar-se aos ritmos da sociedade, impossibilitando um ajuste aos horários de trabalho/escola.
Para este grupo de patologias o exame objetivo de sono a utilizar para o seu diagnóstico e posterior tratamento é a actigrafia. Apenas a actigrafia permite observar padrões de comportamento de sono-vigília e exposição à luz, fundamentais para o tratamento destas doenças do sono.
Também em casos de insónia ou hipersónia (impossibilidade de dormir ou dormir demais), a actigrafia pode ter um papel fundamental no seu diagnóstico. Sendo um exame que permite uma aquisição de, em certos casos, até 2 meses de utilização, permite a observação do comportamento de sono dos pacientes no seu dia-a-dia, por longos períodos de tempo.
Atualmente cada vez mais todos nós utilizamos relógios que afirmam dar o tempo de sono. Não só o tempo de sono mas até a sua estrutura, o que é francamente um exagero. O que os nossos relógios e telemóveis nos dão são movimento e em alguns casos a frequência cardíaca e tentam dar uma estimativa do período de imobilidade que se reflete em sono. A grande diferença destes dispositivos para a actigrafia (isto porque a actigrafia também mede movimento) é que a actigrafia é um dispositivo que já foi validado cientificamente e desta forma permite-nos ter alguma segurança nos resultados. A actigrafia sendo um dispositivo desenvolvido para investigação, diagnóstico e tratamento de patologias do sono, integra também a aquisição de outros sinais importantíssimos para este diagnóstico e tratamento, como é o caso da exposição à luz e em alguns casos da temperatura.
Este exame não é ainda amplamente conhecido nos hospitais públicos e em termos de prescrição médica existe ainda o problema da não-comparticipação deste exame por parte das seguradoras, desincentivando a sua utilização no âmbito da medicina privada. Esperemos que num futuro próximo a sua comparticipação possa ser uma realidade.
Não só na medicina do sono mas também noutras áreas da medicina, ou mesmo o desporto de alta performance, a actigrafia pode ser uma excelente ferramenta. Avaliando os ritmos sono-vigília conseguimos perceber melhor a biologia de cada um, possibilitando intervenções mais personalizadas e eficazes.
Um artigo de Cátia Reis, professora e investigadora na Faculdade de Ciências Humanas da Universidade Católica (FCH-Católica). Coordenadora da pós-graduação em Psicologia do Sono da FCH-Católica). Investigadora do Instituto de Medicina Molecular (IMM) e Instituto de Saúde Ambiental (ISAMB) da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa.
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