Para podermos perceber a importância do desporto numa certa idade, é preciso, primeiro, perceber alguns conceitos, nomeadamente o de velhice, que será certamente muito mais do que o desgaste do corpo ou a não renovação de células. Se juntarmos a este conceito o de saúde, começamos a ter uma visão mais animadora do tema. De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), o envelhecimento saudável procura acompanhar o adulto mais velho na manutenção das suas habilidades funcionais.
Não está, por isso, apenas focado na sua capacidade intrínseca. Esta é uma descrição pouco poética mas que nos traz a palavra funcionalidade e é precisamente aí que quero chegar. Na prática do crossfit, e acredito que noutras áreas do desporto também pensarão como eu, aprendi a olhar para a saúde como sendo a capacidade funcional que a pessoa tem ao longo da sua vida com o objetivo de maximizar as suas competências e, principalmente, de preservar a sua qualidade de vida e a sua independência.
Se juntarmos esta definição às definições anteriores, como é que conseguimos, então, uma melhoria na saúde através do desporto? É simples! Com os movimentos que têm transferência para as nossas atividades do dia a dia e intensidade quanto baste, respeitando sempre o nosso estado e aquilo que conseguimos fazer, e, principalmente, não fazer isto sozinho mas em comunidade e, diariamente, se possível. A atividade física deve ser um bem acessível a todos com o objetivo de elevar as competências de uma pessoa a longo prazo, no sentido de continuamente se desenvolver enquanto ser humano, e, mais importante que tudo, ser saudável.
Neste contexto, pergunto se será o desporto indicado para velhos? Claro que sim! Tenho tido muitos desafios ao longo da minha carreira e o maior de todos tem sido juntar as palavras saúde, desporto e velhice numa só frase sem parecer velho. Envelhecer não é morrer aos poucos. É continuar a ter oportunidade de fazer tudo, com mais experiência, com sabedoria e, até, saboreando melhor. Não sei se em Portugal já todos atingimos esta ideia na sua plenitude. Envelhecer traz a dúvida, o medo e a incerteza.
Mas traz-nos tantas coisas boas também... Não podemos parar e achar que já não temos tempo. Independentemente da nossa idade, temos de suar, temos de nos superar, temos de sair da nossa zona de conforto, temos de ter mais autoestima e mais confiança em nós mesmos. Temos de sentirmo-nos bem em todas as alturas da nossa vida e pensar que, a longo prazo, vamos continuar a ser felizes. E a felicidade, a seu tempo, como provaram inúmeros estudos científicos internacionais, também acaba por trazer mais saúde.
Texto: Pedro Pereira (instrutor e flowmaster de crossfit)
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