Quando nasce, deve ser mesmo para todos. «Todos precisamos do sol!». Quem o diz é Leonor Girão, dermatologista e ex-membro da direção da Associação Portuguesa de Cancro Cutâneo. Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), a forma como nos expomos ao sol tem um papel fundamental no nosso bem-estar e na nossa saúde. O excesso de exposição solar pode trazer consequências terríveis para a pele.
Por isso, o melhor é aprender a desfrutar de um bronzeado bonito mas, acima de tudo, seguro. É fácil! Saiba como. «O sol é importante para o nosso bem-estar psíquico, tem efeitos antidepressivos e é essencial para síntese da vitamina D (que tem efeito na calcificação dos ossos)», realça Leonor Girão. Mas, mesmo sendo uma fonte essencial de energia, é preciso ter cuidado com os excessos, como é do conhecimento público.
A Organização Mundial de Saúde tem vindo a insistir na importância da prevenção durante a exposição solar, já que o excesso de radiação ultravioleta (UV) pode ser (muito) prejudicial para a saúde. Leonor Girão explica que «a pele dos humanos não está preparada para exposições solares diretas excessivas. O seu mecanismo de defesa, a melanina, é um pigmento produzido pelas células da camada superficial da pele».
«Tem por função protegê-las dos efeitos da radiação solar, tentando evitar os malefícios da radiação», sublinha. Mas quais são as principais consequências da exposição solar descuidada? «O envelhecimento da pele e o aparecimento de alterações nas células que culminam em cancro de pele», responde a especialista. «A radiação ultravioleta A e B penetra na pele e induz alterações na sua estrutura», refere.
«Envelhece-a fazendo aparecer manchas, rugas e secura», esclarece. «Provoca também e alterações nos núcleos das células, podendo transformá-las em células malignas», explica ainda a dermatologista portuguesa. Veja também a galeria de imagens que lhe apresenta soluções naturais que defendem a pele dos raios UV.
Necessidade de proteção todo o ano
Tal como no verão, não despreze os cuidados com o sol durante o inverno. Recorde-se que os danos provocados pelo excesso de exposição solar são cumulativos. Cerca de 80 por cento dos danos solares que uma pessoa sofre ao longo da vida ocorrem nos primeiros 18 anos. «O sol quando nasce é para todos e em todos os lugares, não é só na praia», recorda Leonor Girão.
Por isso, é essencial «protegermo-nos durante todo o ano», adverte. A melhor forma de prevenção é «usando roupa protectora, chapéu e óculos de sol durante os dias de maior intensidade luminosa e cremes de proteção solar nas zonas do corpo expostas, como é o caso do rosto, do pescoço, das orelhas e das mãos», sublinha a dermatologista.
Bronzeado seguro
A Associação Portuguesa de Cancro Cutâneo estima que, em média, por ano, cerca de 10.000 portugueses sofram de cancro da pele, 1.000 dos quais de melanona, a forma mais maligna desta patologia. Esta estimativa mostra que, infelizmente, ainda há alguma resistência ao uso (correto) de protetores solares, cuja eficácia tem vindo a ser comprovada na prevenção do cancro de pele.
Veja na página seguinte: As regras fundamentais para evitar escaldões e cancro de pele
As regras fundamentais para evitar escaldões e cancro de pele
Para conseguir um tom de pele bronzeado e bonito mas sem correr riscos de saúde, siga estes conselhos:
- Aplique protetor solar antes de sair de casa (30 minutos é o suficiente) e reaplique frequentemente, sem esquecer de o fazer depois de sair da água.
- Faça uma exposição solar progressiva ao longo das férias, evitando as horas de maior calor, entre as 12h00 e as 16h00.
- Esqueça o solário. A sua utilização potencia a formação de tumores e acelera o foto-envelhecimento da pele.
- Evite a exposição solar de crianças com menos de três anos e, depois dessa idade, aplique sempre um protector de índice muito elevado. Desta forma preserva o seu capital solar, já que quanto maior é a dose de radiações recebida na infância, maior é o risco de cancro da pele na idade adulta. Para testar o seu, clique aqui.
- Não se esqueça de aplicar protetor quando realizar actividades ao ar livre. Existe um alto risco de queimaduras solares, igual ou maior ao de quando está na praia. Atenção a factores como a altitude, o vento ou superfícies que refletem as radiações (neve, areia, relva e água são alguns exemplos), bem como a dias nublados em que os raios solares também atingem a sua pele.
- Utilize roupa adequada, chapéu e óculos de sol homologados que filtrem os raios UVA e UVB.Quanto às crianças, proteja-as com uma t-shirt seca e opaca. É melhor do que uma camisola molhada que deixa passar com maior facilidade os raios UV.
- Seque-se bem depois de cada banho. O efeito lupa das gotas de água favorece os escaldões e diminui a eficácia dos protetores solares, mesmo no caso de serem à prova de água.
- Hidrate-se bebendo água em abundância. O sol desidrata. Tome especial atenção aos idosos, cuja sensação de sede é atenuada, bem como às crianças para quem a água é essencial, já que a sua auto-termorregulação é ainda insuficiente.
- Se notar que as sardas ou os sinais mudam de forma, tamanho e/ou de cor, consulte o seu dermatologista.
Como escolher o protetor solar adequado?
Para facilitar a escolha entre as milhares de opções de proteção solar, a União Europeia propôs, em 2006, regular as normas de eficácia destes produtos e clarificar a numeração e as denominações. Desde então, os fatores de proteção solar (FPS) reduziram-se a oito níveis, excluindo todos os inferiores a 6 e superiores a 50. Estes últimos estão englobados na categoria 50+ porque o aumento da proteção acima deste nível é imperceptível.
Os antigos protetores com um índice de proteção solar de 60, 70, 80 ou até 90, não eram mais eficazes nem preveniam melhor as queimaduras do que um protetor FPS 50. Para além disso, foram proibidas as expressões como «ecrã total» ou «proteção 24 horas» porque nenhum produto protege totalmente a pele do sol nem durante muito tempo. Para que tudo isto seja ainda mais claro, o FPS agora surge acompanhado da designação correspondente «proteção média», que pode ser baixa ou elevada.
A dermatologista Leonor Girão aconselha que, na compra de um protetor solar é essencial confirmar se «tem proteção contra radiação ultravioleta A e B, obrigatoriamente, e um FPS de, pelo menos, 30». «O FPS refere-se ao tempo necessário para induzir uma queimadura solar na pele protegida pela aplicação do produto», explica. Uma pessoa cuja pele aguente 10 minutos até ficar vermelha, quando exposta ao sol, se usar um FPS 30, está a multiplicar esse tempo por 30 (10 x 30 = 300 minutos).
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O problema da aplicação de pouco creme
O tempo de exposição solar apurado não significa, contudo, que possa ficar todo esse período ao sol com apenas uma aplicação de protetor. «O FPS é testado em laboratório com grandes quantidades de aplicação do creme, sendo portanto um número meramente indicativo. Em condições reais de aplicação, as pessoas aplicam três vezes menos creme do que em laboratório pelo que esse número, na prática, é completamente diferente», explica a dermatologista.
Para além disso, Leonor Girão acrescenta que «não há qualquer inconveniente em usar um protetor de índice 50+, pelo que, se houver pessoas de pele clara na família, o melhor é comprar um protector maior e igual para todos», aconselha. Mas, mais importante do que o fator de proteção escolhido é a quantidade de creme aplicada, que deve ser generosa e renovada frequentemente.
Quando aplicar o protetor solar
A maior parte dos produtos de proteção solar são constituídos por substâncias químicas que promovem uma ação de proteção celular. «Desencadeiam uma reação que protege as células da radiação», explica a dermatologista. Por isso, necessitam de tempo para atuar e é essa a razão pela qual devem ser aplicados 30 minutos antes de se expor ao sol. «Deve repetir-se a aplicação várias vezes ao longo do dia», diz.
A explicação é simples. «Para que a quantidade de creme usada se aproxime da quantidade testada em laboratório, que é a quantidade que confere realmente a capacidade protetora indicada pelo FPS», sublinha. Por isso, aplique o creme antes de sair de casa, quando chegar à praia, sempre que sair da água e... sempre que tiver oportunidade. Segundo as diretivas da União Europeia, a quantidade indicada de aplicação deve ser equivalente, em média, a 36 g de produto de cada vez.
O equivalente a seis colheres de café. A especialista deixa ainda uma última recomendação. Apesar de a data de validade estar escrita na embalagem, não deve guardar os protetores solares de um ano para o outro, principalmente quando abertos, porque, indo à praia e expondo o produto ao sol e ao calor, as suas propriedades protetoras alteram-se. Alguns dermatologistas sugerem, contudo, o seu uso como hidratante, aplicando-o depois da praia, antes do duche e da aplicação de uma loção pós-solar adequada.
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Os índices de proteção adequados a cada tipo de pele:
- Pele sensível
Use um índice de proteção muito elevado (50+).
- Pele seca
Use um creme que proteja e que tenha uma textura densa e hidratante.
- Pele oleosa
Use um protetor de textura leve como um gel, por exemplo.
- Pele com manchas ou sinais
Aplique-lhes localmente um protetor muito elevado (50+).
- Pele com alergias
- Se tem tendência para ter alergias, opte por um produto sem perfume e com filtros minerais de proteção alta. Os de bebé são uma boa opção.
- Pele de mulheres grávidas ou em fase de amamentação
- Se está grávida ou a amamentar, evite a exposição solar direta. Se o fizer, use proteção muito elevada (50+).
- Pele de mulheres na menopausa
Se está na menopausa, use um protetor de índice muito elevado (50+) que seja também hidratante.
Por que ficamos morenos?
A dermatologista Leonor Girão refere que «o tom moreno ou bronzeado da pele não é mais do que um mecanismo de defesa das células contra a agressão dos raios solares. Há um aumento de produção de pigmento castanho (melanina) para proteger o núcleo das células da energia nefasta da radiação solar».
Por isso, defende que não se deve sequer considerar a expressão «bronzeado saudável» porque o facto de a pele ficar mais escura é uma defesa, uma «reação de proteção, tal como a tosse é uma reacção de proteção dos pulmões às poeiras», refere.
Texto: Ana Catarina Alberto com revisão científica de Leonao Girão (dermatologista)
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