Imagine um fármaco, capaz de a proteger contra as doenças cardiovasculares, a diabetes, a obesidade e vários tipos de cancro.

Uma cápsula poderosa que poderia melhorar a sua força e equilíbrio e corrigir a sua postura.

Após a toma frequente os seus ossos ficariam mais fortes, a tensão arterial e os níveis de colesterol normalizar-se-iam e a circulação de oxigénio e nutrientes no organismo tornar-se-ia mais eficiente. Um fármaco que lhe permitiria estar mais atenta, possuir uma memória mais activa, que ajudá-la-ia a regular o apetite assim como levá-la-ia a optar por alimentos saudáveis e contribuiria para que o seu metabolismo passasse a queimar mais gordura. Imagine, porque esse fármaco (ainda) não existe.

Mas sabia que já tem, desde há muito, ao seu alcance uma fórmula tão poderosa que oferece os mesmos benefícios que essa cápsula lhe concederia? O exercício físico, precisamente! Saiba porquê...

Patologia dos tempos modernos

Se existem patologias que são fruto da vida moderna, a obesidade é uma delas. Em Portugal, mais de metade da população (52,4 por cento) tem excesso de peso, 13 por cento dos adultos e 10 por cento das crianças sofrem de obesidade e o número de casos continua a crescer um pouco por todo o mundo ocidental. A Organização Mundial de Saúde chama-lhe a epidemia do século XXI.

A causa? Demasiada comida e muito pouca actividade física. Basta pensar que os nossos antepassados gastavam em média 2400 calorias por dia e hoje gastamos cerca de 1800. Para combater este problema não basta apenas cortar na alimentação. Os níveis de actividade física são de tal forma baixos que correríamos o risco de provocar deficiências nutricionais para atingir o peso ideal em toda a população. A prática de exercício físico é pois fundamental.

Aliado da dieta

Os benefícios da actividade física vão muito além das calorias que se queimam durante a hora do ginásio. «Após o treino, o metabolismo de repouso
mantém-se elevado permitindo continuar a gastar mais energia nas horas seguintes», explica Miguel Marcelino, fisiologista do exercício e um dos responsáveis pelo Programa PESO, da Faculdade de Motricidade Humana.

O exercício contribui ainda para uma maior qualidade na perda de peso, «preservando a massa muscular e facilitando a manutenção do peso
perdido a longo prazo», explica o especialista. Além disso, as pessoas activas tendem a fazer uma alimentação mais controlada, racional e equilibrada. «Optam com mais frequência por alimentos promotores de saciedade e resistem mais facilmente aos menos saudáveis», conclui.

Vida activa

A prática de exercício físico três vezes por semana, com uma duração variável entre 45 a 60 minutos é suficiente para que a maioria das pessoas obtenha consideráveis benefícios para a saúde. No entanto, não é de desprezar a energia que podemos despender nas mais diversas actividades voluntárias do nosso dia-a-dia e que devem servir de complemento ao ginásio.

«Estas devem ser realizadas todos os dias, através de opções simples
como deixar o carro mais longe do local de destino ou esquecer que existem escadas rolantes e elevadores», aconselha Miguel Marcelino.


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Alternativas ao ginásio

As modalidades que resultam num maior dispêndio energético são «todas aquelas que envolvem maiores massas musculares e que, portanto, têm maior solicitação cardiovascular, como a marcha rápida, corrida, bicicleta e natação», refere o
especialista.

Se não é adepta do ginásio, caminhar é uma boa opção para si, no entanto, deve
complementar com outro tipo de exercícios em casa, «com utilização do peso corporal, sacos de compras ou até garrafas de água, para impedir a perda de massa muscular», acrescenta.

Termine com exercícios de alongamento (duas a três séries de 30 segundos, três a cinco vezes por semana) «orientados principalmente para os músculos que frequentemente condicionam a nossa correcta postura corporal (parte posterior e anterior da coxa, peitoral)», recomenda o especialista.

Resultados promissores

Quando cumpridas as recomendações descritas anteriormente e combinadas com um plano alimentar equilibrado e controlado, será de esperar que indivíduos com excesso de peso verifiquem uma perda de meio quilo por semana, nos primeiros meses e que em indivíduos obesos este valor possa aumentar ligeiramente (até um
quilo por semana).

«É considerado um resultado satisfatório (resultados comprovados na redução
de riscos de doença cardiovascular, pulmonar e metabólica) quando ocorre uma perda de peso entre cinco a dez por cento do peso inicial nos primeiros seis meses de intervenção», afirma Miguel Marcelino.


Dica

A prática de exercício três vezes por semana, durante 45 a 60 minutos, é suficiente para que a maioria das pessoas obtenha consideráveis benefícios para
a saúde.


Texto: Vanda Oliveira com Miguel Marcelino (fisiologista do exercício)
Fotos: Artur