O processo é promovido pela Comissão Vitivinícola Regional Alentejana (CVRA), que, no último “ano e meio”, trabalhou com quatro empresas certificadoras e que vão agora proceder, junto dos produtores, às auditorias e atribuição de certificados.
“Criámos o referencial da certificação, está pronto, e criámos também o ‘selo’, que poderá ser usado pelos produtores nas suas embalagens de vinho”, disse hoje à agência Lusa o presidente da CVRA, Francisco Mateus.
O responsável afiançou que, “em Portugal, não há nenhuma região vitivinícola ao nível da produção sustentável que esteja como está o Alentejo, com uma certificação”.
“Na Europa, desconheço que haja uma certificação como a nossa”, enquanto, no mundo, há alguns países ou regiões que têm iniciativas semelhantes, como a Califórnia, nos Estados Unidos da América, que “tem a certificação há cerca de 10 anos”, admitiu.
Os certificados de produção sustentável serão atribuídos aos produtores vitivinícolas do Alentejo que “cumpram com requisitos de gestão de solos, água e rega, diminuição de produção de resíduos ou monitorização da fertilização, entre muitos outros critérios”, indicou a CVRA, em comunicado.
“É produção sustentável porque tem a ver com uma forma de trabalhar e não com o produto em si, que é o resultado de uma forma de trabalhar baseada num conjunto de boas práticas. Um vinho de produção sustentável não tem necessariamente de ser um vinho biológico ou biodinâmico, mas foi produzido num ambiente em que foram cumpridas boas práticas aos níveis económico, social e ambiental”, afirmou.
“A partir de segunda-feira”, os interessados já podem contactar uma das empresas auditoras – Bureau Veritas, SGS, Certis e Sativa – para iniciar o processo, mas têm previamente de integrar o Programa de Sustentabilidade dos Vinhos do Alentejo (PSVA) e estarem no “nível Desenvolvido, que já é alto”, avisou Francisco Mateus.
O PSVA, que começou a ser implementado em 2015 e foi “pioneiro em Portugal e revolucionário no setor”, conta hoje com 422 membros associados, que representam mais de 40% da área de vinha do Alentejo, indicou a CVRA.
“Produções vitivinícolas mais sustentáveis do ponto de vista ambiental, através da redução do uso de pesticidas, do gasto de água e eletricidade ou da proteção da biodiversidade são, sem dúvida, produções também elas mais viáveis economicamente, uma vez que tornam todo o processo, desde a uva até à garrafa mais eficaz e eficiente”, explicou João Barroso, coordenador do PSVA.
Francisco Mateus esclareceu que, desde a origem do PSVA, o objetivo já era “avançar para uma certificação”, para evitar que um produtor comunicasse “que era sustentável quando não havia nada por trás que garantisse que cumpria todo um conjunto de práticas”, mas esta tinha de ser “exterior à CVRA”, o que agora foi concretizado.
Este “selo” vai ser “uma forma de diferenciar as embalagens de vinho que aquele produtor tem à venda no mercado e, portanto, é também um motivo de curiosidade para o consumidor”, o que pode ajudar a aumentar as vendas, considerou.
“Os mercados do Norte da Europa dão especial atenção a questões da sustentabilidade” e o mesmo acontece “na América do Norte, quer no Canadá, quer nos Estados Unidos”, que estão “muito abertos a produtos que têm certificação de produção sustentável e isso, para os produtores do Alentejo, vai ajudá-los a vender melhor o seu vinho e a elevar o preço de cada garrafa”, argumentou.
A CVRA estima que, além do benefício ambiental, a atribuição deste “selo” aumente na ordem dos 5 a 10% as vendas dos Vinhos do Alentejo “nascidos” de produtores que praticam uma viticultura mais sustentável, permitindo ainda reduzir os custos de água em cerca de 20% e de luz em cerca de 30%.
Comentários