Elisabete Fernandes, diretora de vinhos do The Yeatman, hotel vínico no distrito do Porto, revela que o ‘feedback’ que tem chegado dos produtores é que foi um ano "muito desafiante" pelas condições climatéricas.

"Houve também muita dificuldade de mão-de-obra por causa da covid-19 e de muita gente ter mudado de ramo”, explicou.

Em termos de quantidade, 2021 regista “pouca produção”, afirma, referindo que o ano foi crítico, porque houve "trovoadas e muita praga na vinha".

"Quem teve o cuidado de apanhar as uvas na altura correta vai ter vinhos absolutamente extraordinários, mas é um ano de produção muito pequena, porque houve muita perda da vinha”, constatou.

Joana Santiago é produtora de vinho verde da casta Alvarinho na Quinta de Santiago, concelho de Monção (Viana do Castelo), em plena sub-região do Alto Minho, confirma que foi um ano "desafiante".

“Ao contrário de um ano perfeito, foi um ano fresco, chuvoso, frio (…). Na sub-região de Monção e Melgaço, para a casta Alvarinho ter uma boa maturação, precisamos sempre de dias muito quentes e de noites muito frias. Essa amplitude térmica é uma das condições privilegiadas para a produção do Alvarinho. Contudo, este ano não tivemos isso, porque não houve calor e isso reflete-se nos vinhos”, conta a viticultora.

Sobre a qualidade da produção, Joana Santiago descreve que foi um ano de vinhos com um perfil “mais acídico”, “com menos corpo” devido ao clima, contudo, conta que "facilmente se consegue trabalhar em adega, trabalhando borras finas, dando mais estágio aos vinhos”.

“Nós temos é de trabalhá-los mais em adega de uma forma natural. Temos mais trabalho de casa”, conclui.

Questionada sobre a quantidade, a produtora diz que “foi menor que em 2020”, considerando que as quebras se registaram na generalidade dos produtores de vinhos verdes devido às chuvas.

“Não são quebras dramáticas”, mas rondam uma quebra na ordem dos 20% na Quinta de Santiago, conta, assumindo que a empresa este ano exportou 70% da sua produção.

“Crescemos muito na exportação durante 2020, com a pandemia da covid-19, Em 2021 foi a consolidação de todos esses contactos. Aconteceu algo de inesperado, porque os importadores tiveram tempo para procurar e pesquisar o que queriam conhecer”.

João Nicolau de Almeida, enólogo e produtor do vinho da Quinta Monte Xisto, com 10 hectares de vinha na margem esquerda do Rio Douro, perto de Vila Nova de Foz Côa, contraria a tendência das quebras na produção nos vinhos verdes e revela que a quantidade de vinho do douro em 2021 aumentou cerca de 30% em relação a 2020.

“Foi bastante superior em relação a 2020, registando um aumento superior a 30%”, produzindo "35 toneladas de vinho", conta João Nicolau de Almeida, filho de Fernando Nicolau de Almeida, o criador do Barca Velha da Casa Ferreira e considerado o “pai da enologia em Portugal.

Em termos de qualidade, o enólogo conta que na sua zona de produção – Douro Superior – o ano vínico foi “muito bom”, porque colheram as uvas mais cedo.

“Na zona do Douro Superior, em que colhemos as uvas mais cedo, [a produção] foi muito boa, porque colhemos antes das chuvas e as uvas estavam sãs e com muita qualidade. A partir do momento em que começou a chover, as uvas que ainda não estavam maduras e foram colhidas a seguir às chuvas já foi mais complicado”, observou João Nicolau de Almeida.

A Quinta Monte Xisto faz um tipo de viticultura orgânica, com base na agricultura biológica e biodinâmica. Os vinhos ali produzidos são 50% para exportação e a outra metade é para consumo nacional.

Para os vinhos do Porto, o balanço de 2021 é de um ano “normal” na qualidade e quantidade, mas com desafios devido à covid-19, assegura Luís Sequeira, diretor da divisão de vinhos do Porto do grupo Fladgate Partnership, ‘holding’ com negócios no vinho do Porto, turismo e distribuição.

“Foi um desafio, uma vez que este ano tivemos cada vez mais uma vindima em bolha para proteger a saúde dos trabalhadores e não houve pisa a pé nos lagares, mas a vindima decorreu com normalidade. As uvas com uma boa sanidade, portanto com um grau médio bastante apreciável e portanto uma boa qualidade. E a quantidade é que estávamos à espera”,.

A quantidade de vinho do Porto aumentou em cerca de 10%, em relação a 2020, e a qualidade é “muito boa".

"Esperamos um excelente ano vínico” no grupo Fladgate Partnership, estima Luís Sequeira.

Questionado sobre se as condições climáticas prejudicaram de alguma forma o setor do vinho do Porto, Luís Sequeira assume que produzir vinho do Porto é um “desafio constante”, mas que os produtores já estão acostumados às dificuldades há décadas.

“São regiões que desde sempre conviveram com situações extremas em termos climáticos e as dificuldades relacionadas com o clima são um desafio constante", explica.