
Há datas que se escrevem a tinta permanente no calendário daqueles que apreciam vinho. O primeiro sábado de maio é um desses exemplos ou não fosse o dia escolhido para assinalar o Dia Internacional da Baga. Este ano a data calha a 3 de maio, entre adegas abertas durante o dia e um arraial, com alma de festa comunitária, à noite.
O cenário é a Bairrada, terra de vinhos espumantes, boa gastronomia, vinhas velhas e gente que trabalha toda esta matéria-prima. Mas este evento não é apenas sobre vinhos. É sobre uma casta que encontrou ali o seu lugar e sobre os produtores que continuam, ano após ano, a provar que a Baga não é difícil, é simplesmente exigente. E que vale o esforço.
Durante décadas, a casta Baga foi sinónimo de austeridade. Com a sua acidez vincada e taninos firmes, os vinhos dela resultantes eram frequentemente considerados difíceis, duros na juventude e pouco apelativos para um público habituado a estilos de consumo mais imediato. Mas a verdade é que, nas condições certas, e com o acompanhamento técnico adequado, a Baga revela uma elegância e capacidade de envelhecimento que a posicionam entre as castas mais distintivas de Portugal. A sua história é, por isso, a de uma redenção silenciosa, ou talvez uma revolução tranquila, que transformou o que era visto como um defeito numa virtude.
Na Bairrada, a região que lhe serve de berço, essa transformação está intimamente ligada ao seu terroir, entre o Atlântico e o Dão, com solos que oscilam entre os arenosos e os calcários, e um clima marcado pela frescura marítima. Aqui, a Baga encontrou o seu equilíbrio: um lugar onde os verões amenos permitem maturações lentas e completas, e onde os solos argilo-calcários lhe conferem estrutura, mineralidade e frescura.
Esse novo olhar sobre a casta começou a ganhar força nas últimas décadas, quando um grupo de produtores decidiu desafiar o destino traçado para a Baga. Escolheram escutá-la, perceber o seu ritmo e o que a vinha velha tinha para dizer. Foi desse trabalho que nasceu o projeto Baga Friends, formado em 2012, com o objetivo de unir esforços, partilhar conhecimento e mostrar, em conjunto, o verdadeiro potencial da casta.
De acordo com a organização do evento, atualmente, a Baga representa cerca de 4% da área plantada em Portugal, sendo a sétima casta tinta mais utilizada na produção de vinho a nível nacional. Dos mais de oito mil hectares existentes em todo o país, cerca de 3.500 situam-se na Bairrada, sendo esta a sua principal região de origem. O crescente reconhecimento do seu valor tem atraído novos produtores, tanto na Bairrada como fora dela, reforçando o seu papel como um símbolo do potencial vitivinícola português.

Hoje, os Baga Friends têm mais de 175 hectares de vinha, mais de metade dos quais dedicados exclusivamente à Baga. São, agora, oito produtores (com a entrada este ano do produtor Giz) com estilos distintos, mas uma missão comum: devolver à casta o lugar de destaque que merece no panorama vitivinícola nacional (e porque não internacional?). O seu trabalho tem vindo a redefinir a identidade da região, colocando a Bairrada no centro das atenções de críticos e consumidores que reconhecem, cada vez mais, a capacidade desta casta para gerar vinhos profundos, elegantes e com uma assinatura distintiva.
“Quando esta associação foi criada foi justamente porque a Baga não tinha muito boa fama. Não tinha uma fama de produzir vinhos bons, fáceis ou apelativos”, explica Ana Sofia Oliveira, uma das coordenadoras do grupo Baga Friends, num momento de divulgação do evento, em Lisboa.
Inicialmente, os produtores começaram com um simples dia de portas abertas nas adegas onde ofereciam alguns vinhos à prova. Mas daí até ao presente, algumas coisas mudaram. O evento e o interesse cresceram e ganhou tal dimensão que deu origem ao Dia Internacional da Baga, hoje na sua quarta edição.
“O Dia Internacional da Baga é uma criação mais recente e vai para a quarta edição. O ano passado já tínhamos esgotado [o evento] em termos de número, portanto os próprios produtores, que são pequenos produtores, estavam habituados a receber poucas pessoas de cada vez”, afirma Sara Matos, co-coordenadora dos Baga Friends.
A entrada do projeto Giz que se junta a outros produtores que honram a Baga
Este ano com o mote “A Baga nas suas oito quintas”, o Dia Internacional da Baga acolhe um novo membro entre os Baga Friends, o Projeto Giz, de Luís Gomes.
Com um percurso invulgar — bioquímico de formação, empreendedor em biotecnologia e apaixonado confesso por vinho —, Luís Gomes decidiu reinventar-se. Depois de um MBA em Gestão e Marketing, concluiu o Mestrado em Viticultura e Enologia no Instituto Superior de Agronomia, seguindo-se o exigente diploma da WSET (Wine and Spirits Education Trust). Com esse arsenal técnico, criou um projeto com base em solos calcários com um propósito claro: trabalhar e recuperar vinhas velhas.
Mas como é trabalhar a Baga? “É giro, estou numa região mais favorável, na zona da pedra, daí o conceito de Giz”, afirma o produtor, que considera Cantanhede um lugar ideal para o amadurecimento da Baga. “A Baga amadurece bem aqui. O aquecimento global é um problema para o planeta, mas a casta tem beneficiado um bocadinho, porque ela agora chega a meados de setembro madura. E há umas décadas não era bem assim”, enfatiza, salientando que “também há mais conhecimento, obviamente. Sabe-se trabalhar melhor a vinha. Também não é só a questão do clima. Nós sabemos trabalhar melhor a Baga agora”, refere se pensarmos que estamos a falar de uma das castas de amadurecimento mais tardio do país. “Parece que veio parar ao sítio errado, porque a Bairrada não é das regiões mais quentes de Portugal.”

Para o produtor, que no evento de apresentação à imprensa deu à prova os vinhos Vinhas Velhas tinto 2021 (PVP: 25€), Vinha das Cavaleiras 2020 (PVP: 40€) e o Espumante Brut Nature Cuvée de Noirs 2018 (PVP: 38€), a vinha velha é uma das grandes aliadas no seu processo de produção de vinho, pois “responde na altura certa a este tipo de clima", fazendo referência ao “escaldão” que em alguns anos pode sujeitar as vinhas a um maior stress hídrico.
No caso das vinhas velhas, “o sistema radicular vai buscar água a uma profundidade que uma vinha nova não vai. Depois tem outra coisa muito gira, não são vinhas armadas, são vinhas tipo árvores, uma copa tridimensional, em que a fruta fica bastante separada dentro da árvore, não fica a tocar uma na outra e fica protegida com o chapéuzinho das folhas. Até aí responde muito bem a situações de escaldão”.
Luís Gomes resume que o facto de trabalhar com solos "muito calcários" acrescenta uma “sensação de pó de giz, de tensão e frescura”, criando vinhos que conseguem transparecer a essência da região e do seu terroir, somando oito hectares de vinhas centenárias, predominando as castas Baga e Maria Gomes.
A história da marca Sidónio de Sousa começa com o avô de Paulo Sousa, o atual líder da marca, um gestor que, na década de 1930, iniciou o negócio no mundo dos vinhos ao adquirir uma área de vinha, que cultivava e vinificava, vendendo o vinho a granel para as caves da região. Em 1990, Sidónio, pai de Paulo, começa a engarrafar vinhos com a marca própria. Paulo Sousa passa a dedicar-se totalmente, a partir de 2009, à marca criada por seu pai. Hoje, a Sidónio de Sousa conta com 12 hectares de vinhas, plantadas em solo argilo-calcário em Ancas.
Paulo Sousa destaca a flexibilidade da casta, que se adapta a diferentes estilos de vinificação. "A Baga aproveita muita coisa. Os produtores são todos diferentes: uns trabalham a Baga mais para os vinhos novos, outros mais para os vinhos velhos. Mas a casta aguenta tudo, o que normalmente não acontece com outras, que são mais restritas", explica durante a prova dos seus Espumante Special Cuvée 2022 (PVP : 15€), Garrafeira Tinto 2017 (PVP : 14€) e Reserva Baga Tinto 2019 (PVP : 13,50€).
Para o produtor, o segredo está no trabalho focado e bem executado na vinha: "É fácil, desde que nós trabalhemos bem, e saibamos o que queremos fazer. Agora, não dá, para pensar fazer A e depois fazer B. Cada vez mais os vinhos fazem-se na vinha.", conclui.

Já o projeto Vadio, de Luís Patrão, aposta numa experiência singular para os visitantes, explorando a memória sensorial das suas vinificações com provas diretamente das soleras. “Fazemos muitas provas porque vamos às soleras. Damos a oportunidade às pessoas de perceber a evolução da solera. Isso é sempre uma prova gira que fazemos”, explica.
O uso do sistema de soleras é uma das particularidades do projeto Vadio. Falamos de uma técnica tradicional de envelhecimento, mais associada a vinhos de Jerez, mas aqui adaptada de forma criativa ao universo bairradino. No essencial, trata-se de um método em que vinhos de diferentes colheitas são misturados ao longo dos anos, criando camadas sucessivas de complexidade.
A cada ano, uma parte do vinho mais antigo é retirada para engarrafamento, sendo reposta com vinho mais jovem. Este processo permite que o vinho mais recente ganhe profundidade e maturidade, enquanto o vinho mais velho mantém a sua frescura e vitalidade.
Este ano, a prova ganha um sabor especial com a participação da Lupita, pizzaria que se junta ao evento para uma harmonização informal, completada com iguarias preparadas pela própria mãe do produtor.
Luís Patrão, destaca ainda o crescimento do Baga Friends e o alargamento do seu público: “O evento tem ganhado bastante popularidade. Cada vez vem mais gente de fora. Era uma coisa mais local e hoje em dia é cada vez mais abrangente, com pessoas a vir de Lisboa, Porto, Algarve, mesmo do estrangeiro.”
Esta transformação espelha assim o caminho de afirmação da casta Baga, que de desprezada, passou a símbolo de identidade da região. “Eu fui dos últimos a começar, mas nessa altura chamavam-me louco. Imagine-se o Luís [Pato]!”
A sua passagem por regiões vitivinícolas de referência como Califórnia, Austrália e Chile ajudou-o a reconhecer o valor de Portugal: “Lá fora sempre olhavam para Portugal fascinados com as variedades que nós temos. Obviamente estamos mais evoluídos tecnicamente, mas depois faltava, acho, o mais importante: a identidade.” Essa tomada de consciência foi decisiva no seu regresso, quando decidiu olhar para a Baga, e para a Bairrada, com outro entendimento, com um olhar mais profundo em relação à identidade do território.
Luís Pato, o mestre da Baga e da arte de desafiar convenções
Chega então o momento de falar , ou talvez mais ouvir falar, o produtor conhecido como “Senhor Baga”. Referimo-nos, claro, a Luís Pato.
“Quando comecei a fazer vinhos sem sulfitos, espumantes, os líderes de opinião diziam: ‘ah, isso não é possível’. E emprenhava-se pelos ouvidos que era vinho mau. Mas é possível. Isto para mostrar um vinho espumante com 10 anos, sem sulfitos. E que ainda não morreu", declara Luís Pato, ao dar à prova o seu Espumante Vinha Pan 2015 (PVP: 30 €).
No caso de Luís Pato, é difícil falarmos de mau vinho tendo em conta a sua trajetória. Num dos momentos mais recentes em que fez história destaca-se o Quinta do Ribeirinho Pé Franco Tinto 2015, que alcançou 97 pontos na publicação Robert Parker Wine Advocate, sendo descrito como um "Baga monumental" e este feito ser, nas palavras do próprio, “o meu maior orgulho!”
É preciso recuar a 2024 para encontrar, nas suas redes sociais, o contexto desta provocação técnica: “Se há coisas que eu gosto de fazer, são experiências. Daquelas que põem os cabelos em pé aos enólogos. Este foi o caso. Imaginem que eu dizia a um enólogo que ia colocar oxigénio no mosto antes da fermentação, para tirar a cor? Pois é. Mas foi o que eu fiz. E usei tanto oxigénio que nem precisei de usar sulfitos. O primeiro espumante sem sulfitos em Portugal! Porquê? Porque oxidei o mosto. Oxidei tudo o que era oxidável. E não precisei de usar sulfitos para evitar oxidação. Verdade ‘La Palisse’, embora eu não seja francês.”
Regressando à apresentação do Dia Internacional da Baga, em conversa com alguns jornalistas, Luís Pato explica ainda o efeito surpreendente dessa escolha:
“A borra das madeiras mortas foi consumindo lentamente o oxigénio. Quanto mais tempo o vinho estiver lá sobre borras, menos oxidado se vai sentir. Então, o vinho não levou sulfuroso e está cada vez menos oxidado? É tudo contra as regras.”
Trocando por miúdos: o que Luís Pato fez com este espumante é uma inversão dos paradigmas clássicos da enologia. Em vez de proteger o mosto da oxidação com sulfitos (como manda a tradição), decidiu oxidar tudo de forma controlada logo no início. O próprio confessa que não se trata de uma invenção, mas sim da aplicação de uma técnica inspirada nos vinhos brancos de Riesling, na Alemanha, que tem o objetivo de preservar a longevidade e pureza do vinho, sem intervenção química.
Nos espumantes, os sulfitos são normalmente usados para proteger o vinho da oxidação e evitar contaminações indesejadas. Funcionam como uma espécie de “guarda-costas” do vinho, garantindo que se mantém fresco e estável ao longo do tempo. E se esta abordagem não é uma novidade mesmo em vinhos brancos portugueses, é absolutamente inédita num espumante nacional.
Mais fascinante ainda é o paradoxo que se revelou com o tempo: as leveduras mortas da fermentação, envelhecendo sobre borras, fizeram com que o vinho ficasse menos oxidado. Essas borras, atuando como um escudo biológico, absorveram o oxigénio residual, preservando a integridade do vinho. Um processo conhecido por alguns enólogos de vanguarda, mas que, nas mãos do Bairradino mais iconoclasta, ganha contornos quase poéticos e assume o tom de um manifesto técnico e filosófico.
Ou seja, o produtor bairradino não só criou o primeiro espumante português sem sulfitos, como o fez à sua maneira: cruzando irreverência científica com reinvenção da tradição. É esta postura de constante experimentação, de dar a volta ao texto enológico, que justifica plenamente a definição de “produtor rebelde” pela qual também é conhecido.
Luís Pato não esconde a ironia com que olha para o passado da Baga e para o percurso que a casta fez até aos dias de hoje. “A Baga era mal vista pelos intelectuais da Bairrada”, recorda, com a voz carregada de memória e provocação. Quando muitos a abandonavam, seduzidos por castas internacionais, talvez mais fáceis e consensuais, ele foi dos poucos que insistiram. “Foi antes de existir grupo. A Baga começou a ser abandonada e substituída por aquelas uvas voadoras, que voam de qualquer parte e que às vezes não voam no país onde estão, mas voam para outros países”, comenta, com exemplos certeiros: “Já viram Pinot Noir em Bordéus? Ou Cabernet na Borgonha? Não são duas regiões francesas, não são duas castas francesas? Porquê é que elas vêm para Portugal?”
Hoje, reconhece que a geração seguinte, com nomes como a sua filha, Filipa Pato, ou Mário Sérgio, da Quinta das Bágeiras, teve um terreno mais fértil para a união e criação do movimento que se tornaria os Baga Friends. “Na minha geração, era impossível formar um grupo. Eu só fui atracado a este. Mas não me arrependo. O meu orgulho foi sempre ter defendido a Baga, cá dentro e lá fora.” O desfecho é uma bela ironia do destino: “Agora, os intelectuais que eram contra a Baga são os seus maiores defensores.” No vinho, como na vida, o tempo revela a verdadeira essência.
Luís Pato recorda também o momento de decisão que moldaria o seu percurso enquanto produtor. “Eu tinha dois caminhos. Ou trazia uvas voadoras e plantava, como tantos fizeram, ou aceitava o desafio mais difícil: o de perceber o que podia fazer para que a Baga se tornasse uma uva de classe mundial.” Escolheu o segundo. E não esconde que foi um caminho longo, exigente, solitário. “O tempo que eu levei para lá chegar”, deixa no ar, como quem olha para trás e sabe ter feito a escolha certa.
Questionado sobre o que tem programado para este dia, o produtor bairradino é pragmático: “Vamos mostrar como é que nós não usamos produtos químicos, usamos apenas o saber”, diz, referindo-se às práticas que implementa na sua vinha, numa viagem aquilo que se fazia antigamente e que hoje chamamos de “mínima intervenção”. Sempre com um toque de irreverência.
Um bilhete, muitas experiências. Mais do que vinho, há uma comunidade em torno da Baga
Uma das grandes novidades da 4.ª edição do Dia Internacional da Baga é a realização de um Arraial, que vai animar a noite de 3 de maio, entre as 18h e a meia-noite, no Club d’Ancas. Localizado em Ancas, na Bairrada, este espaço associativo tem como missão promover iniciativas socioculturais e comunitárias. Quem adquirir o bilhete para o evento poderá prolongar a celebração num ambiente descontraído, com exposições de artistas locais dedicadas à Baga, projeções de filmes e documentários sobre os Baga Friends, música com DJ e outras atuações ao longo da noite.
Este ano, o acesso ao Dia Internacional da Baga foi simplificado com a introdução de um bilhete único. Pelo valor de 50€, cada participante poderá circular livremente entre todas as adegas participantes, desfrutar das provas e harmonizações ao longo do dia e, no final, continuar a festa no Arraial. “A ideia foi simplificar e permitir que, com um só bilhete, as pessoas possam aproveitar tudo o que o evento tem para oferecer”, explica Ana Sofia Oliveira.

O espírito do evento vai além da simples degustação: “O vinho engloba muito mais do que apenas o copo e o álcool”, sublinha Sara Matos. “Hoje em dia há um medo crescente do que o álcool significa e nós sempre defendemos a moderação, o grupo defende a moderação, como é óbvio. E, portanto, é muito mais do que vinho, é isso que queremos mostrar também.” A venda de comidas e bebidas, cujas receitas revertem para apoiar os projetos do Club d’Ancas, ficará a cargo da associação. Depois de fecharem as portas das suas adegas, os produtores dos Baga Friends - Giz, Luís Pato, Filipa Pato, Quinta das Bágeiras, Quinta da Vacariça, Quinta de Baixo - Niepoort, Sidónio de Sousa e Vadio - juntam-se também à festa, levando os seus vinhos para serem partilhados e celebrados com todos os presentes.
Mas a dimensão comunitária do evento também ultrapassa os produtores. Como destaca Ana Sofia Oliveira, "temos também parcerias que são importantes de referir, nesta ideia de região e comunidade". O Grande Hotel de Luso, parceiro histórico dos Baga Friends, volta a associar-se à iniciativa, oferecendo preços especiais para os participantes que queiram aproveitar o fim de semana na região. "No ano passado esgotámos os quartos do Grande Hotel de Luso, e este ano queremos repetir esse sucesso. Quem ficar para o Arraial, pode sair mais tarde e descansar por perto", sublinha.
Além do Grande Hotel, outros parceiros da Bairrada juntam-se à celebração: a Casa dos Cobres, dos irmãos Peixoto, e o histórico restaurante Rei dos Leitões, que sempre apoiou o grupo. "Mesmo que este ano não haja jantar oficial lá, continuam a ser parceiros muito importantes. Tudo isto ajuda a criar uma verdadeira comunidade à volta da Baga e dos seus produtores", acrescenta Ana Sofia Oliveira.
Para além disso, o evento celebra também a diversidade que a Baga consegue expressar. “Estes produtores não são donos da Baga, obviamente, mas são grandes defensores da Baga, e todos têm esta heterogeneidade entre eles”, realça Sara Matos. “É uma casta versátil dentro de um grupo extremamente versátil, onde vocês podem provar espumantes brancos, espumantes rosés, vinhos brancos, vinhos rosés, vinhos tintos.” A ideia é mostrar tanto a riqueza da casta como a multiplicidade de estilos entre os produtores, seja na dimensão dos seus projetos, na projeção internacional ou na filosofia de produção. “Há todo um mundo”, enfatiza, “há pessoas que já visitaram todas as edições e que vão repetir este ano. Portanto, não é um evento que se cansa por si só por ir uma vez, é uma forma de manter os habituais, mas de continuarmos a chamar mais pessoas.”
Esta edição reafirma ainda a vontade dos Baga Friends de projetar a Bairrada para lá das fronteiras nacionais. “Algo que nós tentamos ter sempre é convidados internacionais”, explica ainda Sara Matos. “O objetivo é mantermos esta missão de propagação lá fora, trazendo as pessoas à Bairrada. Porque já aconteciam muitos eventos em Lisboa, no Porto ou noutras cidades, mas não havia nada que trouxesse as pessoas efetivamente para a Bairrada”, conclui.

A questão da promoção internacional do vinho português sempre foi um desafio, como sublinha Luís Pato: "Nós temos de concentrar as castas que propomos lá fora, porque senão é uma confusão para eles, que não imaginam". No entanto, este processo não é algo estático. O produtor defende que, à medida que as castas forem ganhando reconhecimento e se estabelecerem, novas oportunidades surgem para abrir portas a outras variedades. "À medida que elas estão estabelecidas, vamos dando mais uma, mais outra, mais outra. Nós temos muitas para libertar", afirma, reforçando a riqueza e a diversidade do património vitivinícola português.
O Dia Internacional da Baga, com a sua missão de divulgar a casta-rainha da Bairrada, é um reflexo desta estratégia cuidadosa e crescente de internacionalização. O trabalho é contínuo e a aposta na singularidade da Baga promete continuar. Depois, é conquistar o mundo, uma casta de cada vez.
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