Instaladas no sopé da montanha e a centenas de metros de altitude, as vinhas centenárias da Casa da Passarella são o grande ativo deste produtor da região do Dão. São verdadeiras guardiãs de um património genético único, construído ao longo de mais de 100 anos e profundamente ligadas ao terroir que as abriga. Como apreciadora de vinhos, não posso deixar de me encantar com a elegância lendária que caracteriza este produtor, agora renovada nas suas novas colheitas.

Foi em Lisboa que Paulo Nunes, o “enólogo inconformado”, como confidenciou em entrevista ao SAPO Lifestyle, nos apresentou as cinco novas referências desta casa, que é ela mesma uma referência do Dão. A carreira de 20 anos deste enólogo tem sido marcada por uma constante busca pela excelência, e estes vinhos pretendem manter a identidade distinta da Casa da Passarella, em colheitas de edição limitada.

As novidades começam com o regresso de duas gamas: o Villa Oliveira, a marca mais antiga do produtor, com mais de 130 anos de história, e O Fugitivo, uma coleção reconhecida pela sua irreverência e carácter irrepetível.

A primeira dupla apresentada são vinhos de parcela que, de acordo com o enólogo, “distam 100 metros uma da outra”. Para Paulo Nunes, o grande feito da Casa da Passarella foi o trabalho de viticultura desenvolvido ao longo das décadas, no sentido de identificar os locais perfeitos para plantar as vinhas.

O Villa Oliveira Vinha das Pedras Altas 2017 (PVP 54,50€) é um vinho com origem numa vinha com mais de 90 anos, onde encontramos castas autóctones como Baga, Alfrocheiro, Touriga Nacional e Alvarelhão, com vindima manual. Este vinho, com fermentação espontânea em cuba de cimento e um estágio prolongado de 36 meses em tonel de madeira, impressiona pela sua cor vermelho opaco, aromas intensos a frutos vermelhos e uma combinação de frescura e elegância no paladar.

Já o Villa Oliveira Vinha Centenária Pai D’Aviz 2018 (PVP 54,50€) resulta de uma vinha centenária com castas como Baga, Jaen, Tinta Amarela e Tinta Pinheira, também colhidas manualmente. Após fermentação espontânea em lagar de granito, seguida de 36 meses de estágio em tonel, dá origem a um vinho de cor aberta, com notas aromáticas de frutas silvestres, nuances terrosas e florais. Para Paulo Nunes, trata-se de um tributo aos clássicos do Dão dos anos 1960.

Como não há duas sem três, o Villa Oliveira Touriga Nacional 2018 (PVP 49€) é um monocasta proveniente de uma vinha com mais de 80 anos, que celebra a Touriga Nacional – a casta mais emblemática em tintos – no seu perfil mais clássico: encorpado, fresco e elegante, com notas de frutos vermelhos, especiarias e um final de boca prolongado. “Ao fim de mais de uma década, temos mais certeza sobre o potencial da casta do que quando começámos. Cada vez tenho mais certeza do que a Touriga Nacional pode alcançar”, reflete Paulo Nunes.

A irreverência está presente nas novas colheitas de O Fugitivo Pinot Noir 2021 (PVP 31,80€) e O Fugitivo Espumante Baga 2018 (PVP 45€). O primeiro, elaborado com a casta Pinot Noir – que, na opinião de Paulo Nunes, é uma das mais difíceis de trabalhar –, reflete mais de um século de experiência da Casa da Passarella. Com uma cor aberta e textura delicada, combina elegância com uma complexidade fascinante. Já o espumante, inspirado nos ensaios históricos de Mário Pato, é produzido pelo método clássico. Feito a partir da casta Baga – que não é apenas apreciada na Bairrada –, apresenta uma tonalidade semelhante à casca de cebola e aromas de fruta vermelha, vegetais e notas tostadas. A segunda fermentação em garrafa e o longo estágio conferem-lhe, nas palavras de Paulo Nunes, elegância e complexidade.

Estas novas colheitas são muito mais do que vinhos: são o resultado de um processo contínuo de aprendizagem que procura honrar a tradição e a essência da Casa da Passarella. Como o próprio Paulo Nunes nos confidenciou: “Eu sou o resultado de 20 vindimas.” Não há como não reconhecer e admirar esta dedicação à arte e ao legado que cada garrafa procura transmitir.