À agência Lusa, o diretor regional da Agricultura, Fernando Moniz Sousa, explicou que desde o final do século passado foi introduzida a variante Índia da planta em campos de experimentação do Serviço de Desenvolvimento Agrário da ilha de São Miguel, nas Sete Cidades e na Ribeira Grande, ocupando atualmente uma área total de 2.200 metros quadrados.
As folhas desta variante, colhidas entre abril e outubro, têm servido para a produção de chá branco, nomeadamente o “agulha de prata”, tido como “o topo de gama dos chás, por ser o menos processado”.
A engenheira agronómica Clara Estrela Rego adiantou, por seu turno, que só desde 2009 se começou a explorar o potencial desta variante, através do processamento laboratorial, e “os resultados obtidos têm sido muito satisfatórios”.
Além da variante Índia, existe a variante China (esta introduzida nos Açores no século XIX) e das duas é possível fazer vários tipos de chá.
No caso da cultura da primeira, “a folha e os gomos são grandes” e tolera mais o calor, enquanto a segunda tem uma folha muito mais pequena e “dá-se melhor em altitude mais altas, tolera mais o frio”.
“Seja que chá for, o que se tem de colher é o gomo, a primeira folha e eventualmente a segunda folha, porque isto é uma cultura industrial e a qualidade é feita no campo, não é feita em nenhuma fábrica”, referiu Clara Estrela Rego, acrescentando que “as plantas crescem sem recurso a químicos e as folhas são secas sem utilização de energia elétrica”.
Para melhorar a produção experimental da variante Índia foram enviadas amostras para Paris e foi estabelecido um protocolo com a Companhia Portugueza do Chá, em Lisboa, que a comercializa.
“Desde que se estabeleceu o protocolo e o chá branco começou a ser comercializado pela Companhia Portugueza do Chá, houve uma explosão do chá branco dos Açores”, afirmou Clara Estrela Rego, acrescentando que também já recebeu visitas de várias pessoas, conhecedoras de chá, no campo experimental nas Sete Cidades, concelho de Ponta Delgada.
Segundo o diretor regional da Agricultura, o objetivo do projeto-piloto visa estudar a rentabilidade da produção para que depois os agricultores açorianos a possam aproveitar, diversificar as suas culturas e aumentar os seus rendimentos.
A cultura do chá nos Açores remonta ao século XIX, quando foi importada a planta, na variante China, tendo surgido a indústria de transformação a partir de 1878.
Mantêm-se hoje duas fábricas em laboração, Gorreana e Porto Formoso, ambas na Ribeira Grande, na ilha de São Miguel, que produzem chá verde e preto da variante China.
Fernando Moniz Sousa acrescentou que está em conclusão a candidatura do chá a Denominação de Origem Protegida (DOP).
“É uma candidatura que está a ser conduzida pela Associação Agrícola de São Miguel”, declarou o diretor regional.
A classificação DOP é atribuída a produtos cujas produção, transformação e elaboração ocorrem numa área geográfica delimitada, com um saber fazer reconhecido e verificado.
Nos Açores estão já classificados como DOP produtos como o ananás, o mel ou o queijo de São Jorge.
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