O pai de Arnaldo Vieira, natural do Porto, ainda era um adolescente quando chegou ao Brasil, em 1940. Em São Paulo, trabalhou em várias cafetarias. A paixão que tinha pelo café transmitiu-a ao filho. Em 2005, o empresário paulista adquiriu as primeiras terras em São Sebastião da Grama, no interior de São Paulo. Foi lá que foram produzidos muitos dos grãos de café que, mais tarde, seriam servidos na rede de cafetarias brasileiras Onníe, que em breve se passará a chamar Baobá Café.
Lisboa, onde a 15 de setembro de 2020 abriu o primeiro estabelecimento da marca fora do Brasil, foi a primeira cidade a exibir a nova designação. Localizada na rua de São Paulo, é uma cafetaria, uma loja e também uma torrefação. Além de café verde, vende café em grão e café moído. "Torramos aqui 40 quilos de café por semana", revela João Damião, líder de operações internacionais do Grupo Baobá. Nas fazendas brasileiras, produzem anualmente 40 toneladas, cerca de 40.000 quilos.
Todos os dias, entre as 08h00 e as 18h00, há, entre outras coisas, bolos, brigadeiros e pães de queijo para saborear. O café é, no entanto, um dos principais atrativos do Baobá Café. Além de um blend de catucaí vermelho com icatu amarelo, obatã amarelo e obatã vermelho, com travo a caramelo e chá preto, há um monogrão de obatã amarelo, cultivado num solo vulcânico a 1.200 metros de altitude, com um corpo avelulado e um retrogosto prolongado que sabe a pêssego e mel.
Nas próximas semanas, haverão mais novidades na cafetaria. Uma delas é uma estreia absoluta para o grupo empresarial brasileiro. "No fim de novembro, vamos ter aqui um café de colheita tardia. Este foi o primeiro ano em que produzimos um. Vem para cá uma saca de 60 quilos", revela João Damião. "Tal como sucede com o vinho de colheita tardia, este também é mais doce. E também tem uma acidez mais prolongada. É mais guloso", garante o responsável de operações.
A abertura do primeiro espaço do grupo em Portugal representou um investimento de 600.000 €. A expansão está nos planos mas não tem data(s) estipulada(s). "Temos a perspetiva de abrir mais cafetarias mas não consigo avançar se será dentro de seis meses ou dentro de um ano. Gostávamos de ter três em Lisboa. Já estamos num dos epicentros do turismo da capital mas já estamos a ver outros espaços. Se há uma boa altura para investir, é esta", garante.
"Andamos à procura de locais na zona da [Fundação Calouste] Gulbenkian, em Marvila e em Belém. Será sempre o mesmo conceito aqui da rua de São Paulo mas não terão máquina de torrefação", revela João Damião. Em São Paulo, no Brasil, no primeiro trimestre de 2022, está prevista a abertura de um novo espaço comercial do grupo, que ocupará quatro andares, com cafetaria, padaria, loja, espaços de degustação e prova e salas de formação de baristas e de mestres de torra.
Portugal é assumidamente uma das portas de entrada na Europa. "Nós queremos internacionalizar a nossa marca através das cafetarias e também da venda de café e este espaço vai ser o elo de ligação com esses mercados", assume o português. "Não temos cápsulas ainda, mas vamos ter que as ter", revela. "Tem sido complicado acertar com a fórmula", confidencia. "O café pode ter mais de 100 sabores. É mais complexo do que os vinhos", refere Carina Esteves, barista e mestre de torra.
O Brasil é o maior produtor de café do mundo e o que é servido no Baobá Café, proveniente de solos vulcânicos, cultivado a altitudes que oscilam entre os 900 e os 1.400 metros, é diferente daquele a que a maioria dos portugueses está habituado. "É muito mais claro. O que habitualmente bebemos costuma ser muito torrado para esconder as imperfeições. Nós não precisamos de esconder nada", garante João Damião.
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