Ser ou não ser, eis a questão. Para quem trabalha no restaurante ‘A Regaleira’, não há dúvidas na matéria: a Francesinha é uma sanduíche. “À data da tradição, a francesinha foi criada como uma sanduíche. Nem sequer era considerada um prato de almoço, era um lanche. E curiosamente foi criada para ser comida à mão. Só depois é que foi criado o molho”, começa por referir Francisco Passos, um dos sócios daquele que é considerado o berço da francesinha, ao SAPO Lifestyle.

Em dezembro a Francesinha  vai ter festa rija em Lisboa
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Com portas abertas desde 1935, foi na década de 50 que Daniel Silva, um dos empregados que esteve emigrado em França, veio trabalhar para a 'Regaleira' e criou a primeira Francesinha. Inspirado pela Croque-Monsieur e pela Croque-Madame, duas sanduíches tipicamente francesas comercializadas nas brasseries e nas confeitarias, o emigrante decidiu criar uma versão nacional desta sanduíche que à data da criação levava perna de porco assado em vez do tradicional bife.

croque monsieur e croque madame
croque monsieur e croque madame A croque-monsieur (à esquerda) e a croque-madame (à direita) Michael Brewer, CC BY-SA 2.5 https://creativecommons.org/licenses/by-sa/2.5, via Wikimedia Commons/ Nicki Dugan, CC BY-SA 2.0 https://creativecommons.org/licenses/by-sa/2.0, via Wikimedia Commons

“Só aqui é que se come a verdadeira francesinha pois foi aqui que ela nasceu. Ao entrarem no 'Regaleira' estão a entrar num pedaço da história portuense”, refere um dos sócios deste estabelecimento. Então mas o que faz desta iguaria um sucesso tão grande que venha a ser distinguida internacionalmente? Para além do molho, que varia de casa para casa, o segredo está nos ingredientes.

Para quem trabalha no restaurante ‘A Regaleira’, não há dúvidas na matéria: a Francesinha é uma sanduíche.

“Ela destaca-se por ter uma combinação de sabores absolutamente fantásticos: é a salsicha, os fumados e esta junção da fatia de perna de porco assado dá-lhe um paladar absolutamente extraordinário e que não é replicável. Creio que noutros países não existe nada semelhante”, frisa.

Tal como conta a história, na altura da sua criação a Francesinha destacava-se por ser um prato muito condimentado e picante, comido praticamente pelo sexo masculino. “Sobre a história da francesinha, conta-se que era extremamente picante e funcionava como uma prova de homens machos para ver quem conseguia comer,” explica José Cambas proprietário do 'YUKO'. “As pessoas saiam do teatro e era macho ir comer uma francesinha extremamente picante. Mas foi perdendo este grau e adaptou-se a qualquer pessoa. No século XXI, a original seria intragável".

Diariamente, o proprietário deste estabelecimento serve aproximadamente 250 francesinhas mostrando um grande orgulho em “trabalhar naquilo que é a imagem da cidade do Porto”. Apesar de agradecer o reconhecimento que este prato portuense tem tido a nível internacional, integrando a lista das melhores sanduíches do mundo da revista Condé Nast Traveler e do site AOL Travel, José confessa que a atual francesinha já não deve ser vista como uma sanduíche tradicional.

“Com as adaptações, a francesinha foi deixando de ser uma sande de comer ao lanche e transformou-se numa refeição de faca e garfo. O que para mim exclui a francesinha do segmento sanduíche”, explica. Questionado sobre aquilo que a torna especial, a resposta saiu num abrir e piscar de olhos. “É tudo: desde o queijo à temperatura passando pela qualidade das carnes. Até a companhia influencia".

Apesar de agradecer o reconhecimento que este prato portuense tem tido a nível internacional, integrando a lista das melhores sanduíches do mundo da revista Condé Nast Traveler e do site AOL Travel, José confessa que a atual francesinha já não deve ser vista como uma sanduíche tradicional.

Para além de única, a Francesinha é uma iguaria que requer um palato muito especial, afirma Rui Pereira, um dos responsáveis do café ‘Santiago’ localizado numa das zonas históricas do Porto. Apesar das diversas variantes que existem atualmente – francesinha vegan e vegetariana – neste estabelecimento, esta iguaria portuense é feita tal como manda a tradição e Rui Pereira desvenda um pouco da confeção.

“Com todo o respeito pelo empreendedorismo que existe em torno das francesinhas, nós mantemo-nos fiéis à original: temos a salsicha fresca que é grelhada na hora, temos o bife de novilho que pode ser substituído por porco ou frango, depois temos o pão que é tostado e coberto com queijo e ovo. Depois a Francesinha é regada com o molho embora qualquer ingrediente possa ser adicionado ou retirado”, explica.

Então será que a Francesinha pode ser inserida na categoria das sanduíches? Confrontado com a questão, o responsável do ‘Santiago’ confessa que essa é uma pergunta difícil de responder. “Depende muito do conceito de sanduíche. De facto, dentro das especificidades é uma sanduíche, mas eu diria que existem as sanduíches e depois existe a Francesinha que é uma sanduíche especial”, conclui.

Esta reportagem foi originalmente publicada em novembro de 2017 a propósito do Dia da Sanduíche