Tal como em anos pretéritos é grande a tentação de encetarmos um caminho especulativo à volta das subidas e descidas, entradas e merecimentos no estrelato do Guia Michelin, neste caso para 2019. Para não fugir a essa regra, percorramos esse caminho. Isto numa altura em que se sabe que Ángel Pardo, responsável de comunicação do guia em Espanha e Portugal, deixou a público, em declarações à Lusa, a afirmação de que “a nível global é um bom ano para Portugal e Espanha. Há novidades importantes em ambos os países”.

Estrela Michelin. No campeonato dos pesos-pesados da restauração vence-se e é-se vencido
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Um espicaçar da curiosidade para a noite de 21 deste mês que nos recorda o anúncio de há dois anos, em 2017, quando a mesma fonte deixou no ar a ideia de um ano “bombástico” para Portugal. Agora, este 2018, o que podemos entender por novidades importantes? A primeira tripla estrela para Portugal? Mais duas estrelas? Um incremento de restaurantes com uma estrela?

Em boa verdade não podemos passar de um exercício de especulação. Em setembro deste ano, os 12 inspetores ibéricos, apoiados por colegas de outras regiões, terminaram a volta dos restaurantes elegíveis e entregaram o seu trabalho. O guia de capa vermelha está impresso e no segredo dos deuses e, ao contrário de outros manuais de referência neste mundo da alta cozinha, os critérios de eleição mantêm o secretismo.

Michelin Belcanto
Belcanto e o perfecionismo de um homem chamado José Avillez.

Temos como certo que não há atribuições de estrelas sem muitas visitas a um restaurante (por exemplo, para duas estrelas, mais de uma dezena de visitas) e que a apresentação de uma carta fundada em cozinha com pendor internacional também agrada aos senhores inspetores.

Concentrando a atenção nas atuais duas estrelas nacionais (Belcanto – Lisboa, Ocean –Alporchinhos, Vila Joya –Albufeira, Yeatman –Vila Nova de Gaia, Il Gallo D´Oro –Funchal), vemos como potencial elegível para o triplo asterisco, a casa do nosso mediático José Avillez, o Belcanto. Recordemos que ainda este 2018, Avillez ganhou o título de “Melhor cozinheiro do ano”, o Grand Prix de L’Art de la Cuisine, atribuído pela Academia Internacional de Gastronomia. O Belcanto desde 2015 que se aconchega nas duas estrelas, apresentando uma cozinha consistente e irrepreensível.

michelin ocean
A cozinha de mar do Ocean, um duas estrelas. créditos: @Ocean

Da mesma forma é imerecido não referir duas outras casas que, por mérito próprio, podem acalentar as três estrelas. Ambas chegaram à dupla em 2016, mantendo-se com a distinção desde ai. No Algarve, o Ocean, do chefe de cozinha Hans Neuner e o Vila Joya, de Dieter Koschina, são dois bons candidatos. Reparou o leitor na conjugação do verbo “Ser”. Três restaurantes, com três estrelas, para o nosso ilustre cantinho ibérico? Talvez não (em Espanha contam-se atualmente 11 casas com a tripla estrela).

Das três para as duas estrelas e no campeonato dos que acalentam, pelo menos em teoria, a possibilidade de subir de escalão detenhamo-nos nos atuais uma estrela. Contas feitas temos 18 candidatos à ascensão: Alma (Lisboa), Antiqvvm (Porto), Bon Bon (Carvoeiro), Casa de Chá da Boa Nova (Leça da Palmeira), Eleven (Lisboa), Feitoria (Lisboa), Fortaleza do Guincho (Cascais), Gusto by Heinz Beck (Quinta do Lago), Henrique Leis (Almancil), Lab by Sergi Arola (Sintra), L'And Vineyards (Montemor-o-Novo), Largo do Paço (Amarante), Loco (Lisboa), Pedro Lemos (Porto), São Gabriel (Almancil), Vista, (Praia da Rocha), William (Funchal), Willie's (Quarteira).

Michelin Vila Joya
Dieter Koschina, o mestre na cozinha do duas estrelas Vila Joya. Há 26 anos no Guia. créditos: @Vila Joya

Elegíveis não serão, naturalmente, todos. Fazendo-se justiça, Henrique Sá Pessoa (Alma), João Rodrigues (Fortaleza do Guincho), Alexandre Silva (Loco), Sergi Arola (Lab), teriam por direito próprio, e pela ordem citada, acesso às duas estrelas. Um aparte, referimos os chefes de cozinha por serem os porta-estandartes de cada um dos restaurantes mas, em boa verdade, é o estabelecimento que ganha a estrela, não o comandante da copa.

Michelin Alma
Um dos exemplos da cozinha de Henrique Sá Pessoa, no seu Alma. As duas estrelas Michelin são uma possibilidade. créditos: @Alma

Mais difícil antever os candidatos no longo caminho da primeira estrela. Entre as casas com uma probabilidade “simpática” de cair no gosto dos inspetores Michelin, A Cozinha por António Loureiro, em Guimarães (excelente carta de vinhos, o que pesa na escolha da Michelin); o Emo, de Bruno Viegas, em Vilamoura (grande trabalho de investigação do chefe de cozinha); o Euskalduna Studio, de Vasco Coelho Santos, no Porto (o ecletismo e criatividade da carta surpreendem) e um muito consistentemente elegível, o restaurante Mesa de Lemos, em Viseu, comandado por Diogo Rocha.

Ainda no tem afeições, não seria desmerecimento um olhar atento da Michelin para duas casas lisboetas, o Prado de António Galapito e o Pesca, de Diogo Noronha. A desfavor, o facto de serem casas recentes, o que normalmente não combina com a consistência de oferta no tempo que os inspetores do guia gaulês apreciam.