Há um ano a Escola Superior de Hotelaria e Turismo do Estoril (ESHTE) foi palco de um jantar multissensorial subordinado ao tema “Saudade Portuguesa”. Iniciativa que destacávamos na altura. Um serão protagonizado pelos alunos do Mestrado em Inovação em Artes Culinárias. Noite que aliou a gastronomia e o design, provando que cozinha não é campo impermeável a outras latitudes da criação.
Volvido um ano, o Descobertas Restaurante, da ESHTE, volta a receber um jantar muito especial, “Angela Carter. Appetites beyond the grasp of imagination”. Mais do que uma boa mesa, a noite de 23 de maio (19h30) promete uma experiência sensorial que casa a gastronomia, a literatura e o design.
Um jantar preparado desde há meses pelos alunos e docentes da ESHTE e que se alia às comemorações dos 25 anos sobre a morte de Angela Carter (1940-1992), escritora seminal da literatura inglesa. Acresce que neste 2017 volvem 40 anos sobre a visita a Portugal da escritora de, entre outros títulos, a antologia “The Bloody Chamber”. O jantar onde vão estar alguns dos intervenientes do atual panorama gastronómico nacional, assim como figuras ligadas à literatura, está aberto a um limite máximo de 10 inscrições. As reservas podem ser feitas através do e-mail receiving.perceiving@gmail.com
Esta é uma experiência em seis momentos que fica nos 45,00 euros e que nos antecipa, com uma acutilante ponta de mistério, o desenrolar da mesa: 1. “Masticating, I muse” (Afável no primeiro ronronar, traiçoeiro na segunda mordida). 2 “Stripping the leaves off an artichoke” (Como carne pisada, pela inocência roubada, sente o horror do passado e o desespero do futuro condenado). 3. “All claws and teeth, she strikes, she gorges” (Sangue, o fio da vida). 4 “Irremediable apetites” (Leva aqui o doce tormento da vida e lembre-se: não fale com estranhos no caminho!’). 5. “The bounty of the woodland!” (Doce ilusão, o calor que nele encontrou esconde a prisão amarga e fria do seu coração). 6. “A suspension of reality” (Mancha esbatida de uma rosa branca num emaranhado fantasmagórico de ramos).
Assustador, mas inegavelmente poético.
Acresce que este jantar se insere no âmbito mais alargado do encontro académico e cultural “Receiving | Perceiving Angela Carter”, de 23 a 30 de maio, na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa.
Um dos momentos centrais será a exposição “Designing Perspectives. Challenging Boundaries”, patente na galeria da Biblioteca da referida instituição de ensino. Nela, o visitante vai encontrar exemplares dos textos e narrativas da autora, assim como da crítica à sua obra. Estarão principalmente patentes trabalhos que apresentam leituras da sua coleção “The Bloody Chamber” (1979) por estudantes de diferentes instituições de ensino superior.
Aqui pode consultar o programa completo deste encontro internacional que inclui, para além da componente gastronómica e exposição, a música e debates.
Angela Olive Carter nasce em 1940, em Eastbourne, no Sussex (Inglaterra). Nos anos de 1960 trabalha na imprensa. Em Bristol, onde se licenciou, inicia a carreira literária. Publicou o seu primeiro romance em 1966, com o título “Shadow Dance”, obra escrita como um policial, embora levante questões sobre a vida íntima e sexual da autora. Segue-se “The Magic Toyshop” (1967), obra vencedora do prémio literário Jon Llwellyn Rhys. Carter explora o crescimento da mulher sob uma abordagem freudiana. “The Sadetan Woman” (1979) é uma obra fortemente influenciada pelas suas experiências no Extremo Oriente. A escritora aborda questões sexuais de modo radical.
Na década de 1980 modera o seu tom, publicando, entre outras obras, “Nights At The Circus” (1984), “Black Venus” (1985) e “Saints and Strangers” (1986), bem como o argumento para o filme “The Company of Wolves” (1984).
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