Se há matéria que na família Carranca Redondo não motiva qualquer discussão é a revelação de um segredo que se mantém guardado a sete chaves no clã há perto de 70 anos. Sabe-se que na composição do Licor Beirão entram 13 ingredientes nacionais e além-fronteiras, entre especiarias e sementes, maceradas três semanas em álcool de origem agrícola, duplamente destilado em alambiques de cobre e cuidado durante meses para que o licor adquira as características finais. E ficamos por aqui. Tudo o mais, no que à composição e proporções entre ingredientes diz respeito, enveredou por caminhos de contornos tão míticos e carismáticos como os do fundador desta empresa 100% nacional sediada na Lousã. Desde abril de 2016 que se celebra o centenário sobre o nascimento de José Carranca Redondo, o “pai” do Licor Beirão. Um ressuscitar de memórias que, neste abril de 2017, abre um exceção na história desta empresa que todos os anos vê sair das suas linhas de engarrafamento qualquer coisa como 3,5 milhões de garrafas.

Licor Beirão
Da esquerda para a direita, Ricardo Redondo, José Redondo e Daniel Redondo.

Numa cerimónia nas instalações do Licor Beirão, na Quinta do Meiral, propriedade com 12 hectares localizada na Lousã, foi feita a apresentação formal do mais recente membro com a chancela da marca que “cresceu 4% em 2015 e arrecada 50% de quota de mercado da categoria licores”, de acordo com empresa da Lousã. José Redondo, filho do fundador da empresa, fez as honras da casa e lançou o “Beirão de Honra”, um licor com baixo teor de açúcar e que, aos ingredientes secretos, acrescenta a aguardente vínica envelhecida em casco de carvalho. “Este é o produto de mais de um ano e meio de trabalho e centenas de tentativas falhadas até chegarmos ao resultado que temos hoje”, anunciou José Redondo que desenvolveu esta nova referência em parceria com o filho Ricardo Redondo, Diretor Financeiro da J. Carranca Redondo Lda. O resultado é um licor de cor âmbar que acrescenta às características notas de especiarias e sementes (onde encontramos o cardamomo, a menta, o eucalipto, o funcho), a elegância, a complexidade e a estrutura introduzidas pelo elemento vínico. Uma edição limitada de 25 mil garrafas que chega ao consumidor com o preço de 20,00 euros.

Licor Beirão
Da esquerda para a direita, Ricardo Redondo, José Redondo e Daniel Redondo.

Esta primeira presença pública do “Beirão de Honra” serviu, ainda, para recordar o génio empreendedor de José Carranca Redondo que aos 12 anos, em 1928, já trabalhava na fábrica de licores da Lousã e que volvida uma dúzia de anos, adquiria essa mesma unidade fabril, reduzindo-lhe substancialmente o portfólio de produtos e lançando campanhas de publicidade inovadoras em Portugal. “Introduz o conceito de outdoors (painéis de publicidade) ainda nos anos de 1940 e, em 1951, lança um cartaz com uma pin-up americana, prontamente retirado dos olhares públicos em muitos locais”, sublinhou José Redondo, acrescentando que, “numa altura em que toda a gente dizia ao meu pai para associar o licor à Escócia, ele associou-o a Portugal”.

Licor Beirão
Da esquerda para a direita, Ricardo Redondo, José Redondo e Daniel Redondo.

Presença forte na comunicação:

E assim ficou até à atualidade “O Licor de Portugal”. Uma matriz de identidade associada à portugalidade que em certos momentos, como nos contou o filho do fundador, "desafiou o poder". Exemplo disso mesmo, “a frase associada a uma campanha de publicidade onde se lia ´O Beirão de quem se gosta`, numa provocação que um outro beirão, António de Oliveira Salazar, terá deixado passar com um sorriso”.

Licor Beirão
Da esquerda para a direita, Ricardo Redondo, José Redondo e Daniel Redondo.

Em 1997 a Licor Beirão vendia pela primeira vez um milhão de garrafas por ano, valor que duplicava em 2000 e triplicava em 2010. Ainda no virar do milénio, Daniel Redondo, atual Diretor Geral da J. Carranca Redondo Lda., dava início às campanhas de rejuvenescimento da marca. Isto indo ao encontro de novas formas de consumo. Uma estratégia de publicidade que tem envolvido nos últimos anos figuras públicas como José Diogo Quintela, Paulo Futre, Manuel José Vieira, Pedro Fernandes, e que não hesitou em brincar com as imagens de Nicolas Sarkosy, Angela Merkel ou Luís Vaz de Camões. Uma questão de imagem que envolveu, por três vezes, discretas revisões de imagem, a última em 2014, com, entre outras, ligeiras alterações no formato da garrafa e substituição do material das icónicas fitas para um material mais obre, o cetim. Não há garrafa de Licor Beirão que não as ostente. Qualquer coisa como 1400 quilómetros de fita colocados manualmente todos os anos, o que inclui as garrafas mini de Licor Beirão.

Quem gosta de números encontra na J. Carranca Redondo, Lda. motivos para se entreter: É produzida uma média de 30 mil garrafas/dia; o stock médio é de um milhão de litros de Licor Beirão, a bebida marca presença em mais de 40 países e perto de 40 milhões de doses são vendidas anualmente em todo o mundo. Segredo mesmo só o da receita original. Há quem diga que mais bem guardada do que a da Coca-Cola.

Licor Beirão
Da esquerda para a direita, Ricardo Redondo, José Redondo e Daniel Redondo.