É à infância que a chefe de pastelaria Rita Nascimento resgata as primeiras memórias do sempre eterno Bolo-Rei. Rita, rosto que nos habituámos a acompanhar no canal de receitas, o “La Dolce Rita”, recorda a alegria que sentia naquela aventura de descoberta do brinde de metal, escondido na massa repleta de sabores. “Dávamos cabo de um Bolo-Rei à procura do brinde”, diz Rita, “tinha uma caixa cheia com estas lembranças singelas”. Hoje, o brinde, tal como a fava seca, já não se encontram no âmago do Bolo-Rei.
Na época, tal como agora, Rita dispensava os frutos cristalizados. “Não sou grande fã. O mesmo não posso dizer da massa. Adoro-a”.
A Rita Nascimento não falta experiência na produção do Bolo-Rei. “Fi-los às centenas, logo no início da minha carreira, numa altura em que trabalhava numa pastelaria”.
“Um dos pontos críticos quando produzimos um Bolo-Rei é a fermentação. Um bolo pode ter de fermentar duas a três vezes. Ora, sendo um doce de Natal e estando nós no inverno, com temperaturas baixas, a massa pode não levedar corretamente”, sublinha a chef de pastelaria.
O resultado é um bolo de massa dura, quando o objetivo pretendido é um bolo de massa leve. “O Bolo-Rei provém da mesma família das massas de Brioche, do Pão-de-Leite, da Bola de Berlim”, sublinha a nossa interlocutora.
Bolo que não obstante as especificidades portuguesas, conta com tradição noutras latitudes. Os nossos vizinhos espanhóis produzem o Rascon de Reis, os franceses a Gallet de Rois, os italianos o Panetone.
No que respeita ao tratamento que o nosso Bolo-Rei tradicional recebe na generalidade das pastelarias, Rita é crítica: “não está a ser bem tratado. Muitas vezes são os preparados de `saco` que chegam às pastelarias em pó, basta juntar os elementos líquidos, como o ovo e a água [alguns preparados já trazem os ovos em pó], amassar e cozer. Acabamos por perder as especificidades e a singularidade do bolo tradicional que pode durar até cinco dias sem endurecer”.
A chefe de pastelaria, uma confessa praticante da “guliça”, palavra sua para definir uma gula preguiçosa, sorri em aprovação face às novas modalidades de Bolo-Rei, o Escangalhado, o Príncipe (com Smarties), entre outros. “O importante é haver respeito pela qualidade”, sublinha.
Rita, mulher que se confessa adepta de receitas simples, facilitadoras da vida de quem as vai produzir, empenhou-se na elaboração de um Bolo-Rei que se prepara em cinco minutos. Chama-lhe, muito propriamente, “Bolo-Rei em 5 Minutos” e criou-o há uns anos. Um bolo expresso, porque entre misturar os ingredientes, dar-lhes forma e compor a argola que forma o bolo “perderemos” o tempo anunciado na receita. Há que contar com mais 30 minutos de forno para obtermos um bolo que, sendo na textura um pouco diferente, tem no sabor um carácter muito semelhante aos congéneres que encontramos nas pastelarias tradicionais.
Para preparar este Bolo da Rita Nascimento há que ter à mão 350 g de farinha sem fermento (tipo 55), 30 g de açúcar, 1/4 de colher de chá de sal fino, 2 colheres de chá cheias de fermento (fermento para bolos, não fermento de padeiro), 2 iogurtes naturais (250 gr no total), 80 g de manteiga derretida (com ou sem sal), 1 laranja (raspas), 1 limão (raspas), 1 colher de chá cheia de canela, 1 colher de sopa de vinho do Porto, 150 g de frutas cristalizadas picadinhas.
Posto isto, diz-nos Rita: “juntar todos os ingredientes numa tigela e mexa com uma colher ou as mãos se conseguir formar uma bola. Não se deve bater a massa, deve-se apenas mexer até a massa se unir”.
“Transferir para um tabuleiro de forno forrado com papel vegetal (ou untado e enfarinhado) e formar um disco, uma forma arredondada com a massa, com cerca de três dedos de altura. Com as mãos dê o formato de Bolo-Rei, fazendo um buraco no meio”.
É chegada a hora de decorar e cozer.
“Pincelar com ovo batido, decorar com pedaços de frutas cristalizadas grandes e montinhos de açúcar em pó. Levar ao forno pré-aquecido a 180ºC, durante cerca de 30 minutos ou até estar bem dourado. Pode espetar um palito no meio para verificar a cozedura como se fosse um bolo normal. Se o pão estiver a ficar muito escuro mas ainda não estiver cozido, cubra com um pedaço de papel alumínio”.
No final, depois de provado e aprovado este Bolo-Rei, Rita deixa, na sua página, a sugestão para nos arrojarmos noutras suas criações como o "Bolo-Rei de Chocolate", o "Bolo-Rainha", o "Bolo-Rei Gelado" ou mesmo as "Bolachas de Bolo-Rei".
Rita Nascimento nasceu em Cascais e passou a infância a “´lamber` montras de pastelaria” [não literalmente, claro], como conta com humor a própria. Estudou Teatro, mas o amor pelo açúcar falou mais alto e levou-a a fazer um curso superior de Pastelaria em Espanha, onde acabou por trabalhar em vários restaurantes e pastelarias. Viveu ainda nos Estados Unidos da América, Itália e Reino Unido, onde foi colecionando experiências gastronómicas.
Voltou a Portugal em 2007 e começou a realizar consultorias e workhops de pastelaria. Desenvolveu, ainda, sabores de gelados para uma empresa de gelados artesanais. Em 2012 criou La Dolce Rita, uma marca de mixes para cookies e cakes, ao estilo americano. Mais recentemente inaugurou o canal de YouTube com o mesmo nome.
Comentários