Por Teresa Vivas, directora geral da Chefs Agency
Confesso que desconhecia este personagem antes de vir trabalhar com um dos mais temidos em Portugal e não, não aprendi da pior forma… nunca achei que tivesse tão mau feitio como diziam ou então, que é o mais certo, o meu feitio era pior! Mas estamos a falar de chefes de cozinha [cozinheiros que tem a seu cargo uma brigada] - e não de mim ou de uma experiência própria. Falamos das histórias que ouvimos e sentimos quando lidamos mais de perto com eles.
As histórias que vão desde as sérias ameaças à integridade física do staff, à gritaria ou a castigos que podem custar muitas horas a chorar de tanto descascar e picar cebolas! A verdade é que os profissionais de cozinha, todos eles, têm dois picos de stresse por dia!
Imaginem uma orquestra em que cada espetador quer ouvir uma peça diferente, e em cada peça, o cliente, pode querer ouvir em tons diferentes (perdoem-me os especialistas em música se disse algum disparate), mesmo assim, tudo tem que estar perfeitamente afinado e tudo tem que correr bem em duas horas! O esforço físico é terrível, o calor, o peso dos utensílios e o risco físico entre as queimaduras e os cortes é eminente. A pressão aumenta nos chefes cuja filosofia culinária não faz parte do receituário tradicional e colocam a sua criatividade nos pratos que servem, precisam agradar de forma imprevista os seus clientes. A este espectáculo temos que acrescentar a brigada de sala, poderemos imaginá-la como bailarinos que têm que dançar a cada ritmo e tom, e com o objectivo do sucesso. São mesmo, mesmo uma loucura, aqueles momentos!
Se não houver um sincronismo milimétrico tudo pode correr mal, se alguém desrespeita o colega ou o espectador, desafina-se a obra e aí teremos o caldo, literalmente, entornado. E são os chefes que tem que estar a coordenar e a zelar para que tudo corra de acordo com o que o cliente deseja. Diga lá, não teria que colocar a sua cara mais furiosa para que tudo funcionasse como um motor de alta tecnologia? Esta pressão é tão grande que, muitas vezes, estes profissionais, alteram a sua personalidade durante as horas das refeições, transformam-se e entram numa hipnose inexplicável.
E sim, estes monstros furiosos só têm um objectivo: ver o sorriso na cara do cliente enquanto ouve a sua melodia, gostam de ouvir silêncio com que este o presenteia quando gosta do seu prato! São vaidosos com o que fazem, mas merecem, depois de tanta pressão, perdão, fúria! E por isso são tão aplaudidos por todos!
Ah! O Chefe com quem trabalhei e a quem devo muito do que sei… Vítor Sobral!
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