Defenderei sempre as vantagens de uma alimentação feita maioritariamente à base de produtos naturais, em detrimento dos produtos processados. No entanto, e porque é normal que alguns destes produtos façam parte do seu dia a dia, é importante que saiba distinguir um bom de um mau produto processado.
Neste sentido, é essencial aprender a ler os rótulos dos produtos alimentares, por forma a conseguir fazer as melhores escolhas.
Existem vários tipos de produtos processados e nem todos são necessariamente maus para a nossa saúde. A partir do momento em que um alimento ou conjunto de alimentos (matéria-prima) é transformado pelo homem, dando origem a um produto, é denominado de processado. Em suma, um produto processado é um produto produzido pelo Homem, que não encontramos naquela forma na Natureza.
Essa transformação pode ser mais ou menos natural, com ou sem branqueamento, adição de açúcares, óleos e aditivos alimentares. A melhor forma de avaliarmos a qualidade do produto que temos à nossa frente é através do rótulo, primeiro na leitura dos ingredientes e posteriormente na leitura da informação nutricional. Ambas as leituras devem ser consideradas em simultâneo para concluirmos acerca do produto.
O packaging e branding [as gestões de embalagem e de marca] daquele produto podem ser muito apelativos, e até conter informação que nos leva a deduzir quanto ao seu grau de qualidade, como “produto sem glúten”, “biológico”, “sem lactose”, “sem açúcar”, “orgânico”, “natural”, “100% vegetal”, “integral” ou “vegan”, para dar alguns exemplos.
No entanto, esta informação não reflete com exatidão a realidade sobre aquele produto, devendo por isso ser considerada também a leitura dos ingredientes e informação nutricional.
A título de exemplo, um produto “sem açúcar” e “sem glúten” não é necessariamente mais saudável quando comparado com a sua versão “original”. Tudo depende do tipo de ingredientes que foram utilizados para substituir aqueles componentes. É verdade que o açúcar branco/refinado é dos maiores venenos que podemos consumir, mas existem alternativas ao mesmo, utilizadas na indústria alimentar, que são tão más ou piores do que o açúcar convencional, como os aspartames, os edulcurantes e outros adoçantes artificiais.
É verdade que o açúcar branco/refinado é dos maiores venenos que podemos consumir, mas existem alternativas ao mesmo, utilizadas na indústria alimentar, que são tão más ou piores do que o açúcar convencional
A história repete-se em relação aos restantes temas: tudo depende do tipo e qualidade dos ingredientes utilizados na confeção daquele produto. Tudo o resto que possa aparecer na embalagem faz parte de uma estratégia de marketing, pensada e estudada, para vender aquele produto.
Embora essa informação tenha de ser verdadeira, é muitas vezes enganadora aos olhos dos consumidores, porque se parte do princípio que um produto “sem açúcar” ou “biológico” é por si só saudável, ou pelo menos mais saudável do que as alternativas comuns, quando nem sempre é verdade.
Felizmente, aparecem no mercado cada vez mais marcas de produtos processados saudáveis, feitos com boas matérias-primas, no seu estado mais integral, e pouco trabalhados. No início pode parecer um desafio encontrar este tipo de produtos, mas com o tempo vai ver que facilmente os identifica na prateleira de uma superfície comercial.
De seguida enumero algumas dicas para facilitar as suas escolhas na próxima vez que for ao supermercado:
1.Leitura dos ingredientes e informação nutricional
Segundo as normas de rotulagem da União Europeia, todos os ingredientes mencionados no rótulo estão listados por ordem de grandeza, ou seja, o primeiro ingrediente que aparece é aquele cuja quantidade é maior. Desta forma, consegue rapidamente perceber os ingredientes principais (ou seja, em maior quantidade) daquele produto. Como exemplo, não será um bom indicador se os açúcares simples, as farinhas refinadas (geralmente o trigo) e as gorduras refinadas aparecerem nos primeiros lugares.
Para além da ordem de menção dos ingredientes, é muito importante também que conclua acerca da sua qualidade. Por exemplo, se os ingredientes são integrais ou refinados, se contém aditivos alimentares (os famosos E’s), açúcares simples, gorduras trans e saturadas e excesso de sal. Pode verificar toda esta informação na leitura do rótulo em conjunto com a informação nutricional.
2. Menos é mais
Não costuma ser bom sinal quando encontramos produtos com uma extensa lista de ingredientes na sua composição. Normalmente nesses casos existem vários aditivos alimentares que foram adicionados ao produto para evidenciar o seu sabor, melhorar o seu aspeto e textura e aumentar a sua validade.
Olhemos para o exemplo do pão. Todos sabemos que a constituição do pão resume-se a três ingredientes principais: farinha, água e sal. Pois são incontáveis os vários tipos de pão que se encontram à venda (maioritariamente em grandes superfícies comerciais) que têm dezenas de ingredientes na sua composição.
Na próxima vez que for comprar o seu pão, lembre-se de olhar para o rótulo. Mesmo que o pão não esteja embalado, pode pedir ao responsável da loja para lhe mostrar a lista de ingredientes, caso esta não esteja visível. Isto é válido para qualquer produto que queiramos adquirir e que não tenha rótulo visível. Os responsáveis pelos estabelecimentos são obrigados a guardar os rótulos relativos a todos os produtos que têm disponíveis para venda, mostrando-os ao cliente sempre que este o solicite.
3. Ingredientes desconhecidos
Este truque é muito simples e intuitivo. Desconfie dos produtos cuja lista de ingredientes é composta por nomes que não conheça ou que pareçam impronunciáveis. Existem vários nomes diferentes para designar os açúcares, as gorduras e todos os aditivos alimentares que se adicionam a produtos processados. Lembre-se que os produtos processados mais saudáveis são compostos por ingredientes que conseguimos reconhecer e que identificamos a alimentos que encontramos na Natureza.
Filipa Range
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